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LGBTFOBIA | Reacionário Mourão diz que "Homossexualidade no exército sempre teve, mas com disciplina"

O vice presidente Mourão, em entrevista com Bial, soltou mais uma frase que desmascara sua suposta moderação nos temas democráticos. Para Mourão ser homossexual, “mas com disciplina e hierarquia” significa sofrer abusos sexuais e morais calado, submetidos ao caráter reacionário das Forças Armadas. E essa também é a essência do seu projeto de governo.

sexta-feira 19 de julho de 2019 | Edição do dia

Nesta terça, 16, o general da reserva e vice presidente no governo Bolsonaro, Hamilton Mourão, participou do programa Conversa com Bial da rede Globo. Com defesa absurda contra o direito a aposentadoria e comentários sobre outros temas, Mourão disse mais uma de suas frases que chocam pelo nível de opressão que carregam. Ao ser perguntado sobre como são tratadas as pessoas trans no Exército brasileiro, ele questionou dizendo que só houve um ou dois “casos” e que “a homossexualidade sempre houve, agora, dentro da disciplina e da hierarquia”. Numa tentativa de, primeiro refutar a presença de pessoas trans nas Forças Armadas e, em seguida, dar um tom de que a homossexualidade (não transgênera ou travesti, que são intoleráveis até mesmo para o suposto “moderado Mourão”) é “mais aceita”, se, e somente se, estiver abafada pela disciplina e hierarquia das mãos de ferro que dirige esse Exército. Ou seja, não pode existir abertamente. E aí está escondida a brutalidade do tratamento que as pessoas LGBTs sofrem nesses espaços.

Em entrevista de 2013, com atualização em 2016, o Portal Istoé tratou dos casos de abusos sexuais e estupros, frequentes no Exército brasileiro. Os relatos são em especial de pessoas LGBTs e também mulheres, que sofreram essas agressões brutais devido a sua sexualidade e gênero. Há situações de estupros coletivos, com comprovação do exame de corpo de delito, mas que são tratadas como “brincadeiras de colegas” e resultam em maior perseguição e até inversão de processos contra os denunciantes.

A frase lgbtfóbica de Mourão mostra que as pessoas LGBTs, e ainda mais as trans, só podem existir se não demonstrarem o que são, se voltarem para os armários opressores. Mas a frase revela ainda mais, ela vai muito além do hermético espaço militar controlado pelos generais reacionários como Mourão e sua mensagem diz respeito também ao governo instalado. A ideia transmitida por Mourão mostra que no projeto de governo junto a Bolsonaro estão dispostos a arrancar quaisquer direitos democráticos que a comunidade LGBT conquistou nos últimos anos e lhes relegar as maiores brutalidades possíveis, como já desde a campanha eleitoral ficou evidente, com as pessoas LGBTs sendo as maiores vítimas da onda de ataques bolsonaristas. E isso vale à população negra e indígena, que também teve direito à frase odiosa de Mourão, para quem “a beleza vem do embranquecimento”. Os ataques no plano democrático são inúmeros, como a recente retirada do direito às cotas para pessoas trans na UNILAB, o projeto de aprofundamento da repressão policial para aumentar o já cotidiano assassinato da população negra nas periferias e morros e o verdadeiro massacre do agronegócio, que já assassinou centenas de sem terras e indígenas. É esse o projeto de país de Mourão e Bolsonaro, onde as pessoas LGBTs, negras, indígenas e os trabalhadores só cabem esmagados “dentro da disciplina e hierarquia” dos grandes empresários, nacionais e internacionais.

E no plano externo, não se pode esquecer a missão de 13 anos no Haiti, liderada pela cúpula militar brasileira e onde conquistaram um status respeitável pelos exploradores internacionais, com abusos sexuais e danos morais cometidos pelos soldados brasileiros contra a população haitiana, vulnerável por toda a miséria imposta por seus políticos e crises sociais. Mas, obviamente, foram casos insignificantes para essa corja militar, abafados na “disciplina e hierarquia”. Isso para não falar do legado de Mourão e Bolsonaro, herdeiros honrados da Ditadura Militar brasileira, fiéis defensores da tortura, perseguição e assassinato de movimentos sociais e políticos que contestem a ordem do lucro. O que fica ilustrado no herói declarado que possuem, o criador da inteligência de tortura e perseguição anticomunista, Coronel Brilhante Ustra.

Como representante do interesse militar no governo diante da crise política, econômica e social que o país atravessa, Mourão não deixa dúvidas do braço armado para reprimir, oprimir e garantir uma nova ordem ainda mais exploradora do que a sustentada pelos governos do PT em anos anteriores. Esse projeto tutelado pelos militares, imposto autoritariamente com o golpe institucional dirigido pelo Judiciário, se completa com o aumento dos índices de exploração da classe trabalhadora brasileira. Há uma combinação profunda entre cada ataque aos direitos democráticos e às condições de trabalho. Não à toa os principais alvos são os LGBTs, mulheres, negros, indígenas, trabalhadores do campo e a juventude que já está lançada ao desemprego e subemprego. A própria Reforma da Previdência, mãe dos ataques ilustra essa simbiose, basta observar que esses mesmos setores sociais serão mais afetados, no marco de um ataque sem precedentes a todos os trabalhadores do país.

Para combater as declarações e intenções concretas do governo Mourão-Bolsonaro é preciso muito mais do que a estratégia meramente parlamentar que o PT assumiu. Se faz urgente a organização em cada espaço de trabalho, estudo, em cada comunidade. Esse é um papel que deveria ser assumido em primeiro lugar pelas grandes centrais sindicais dirigidas pelo PT e PCdoB, assim como pela maior entidade estudantil nacional que dirigem, a UNE. Mas o caminho que traçaram até aqui mostra o oposto, seja com sua estéril estratégia de obstrução na Câmara, seja com a traição direta como fez o PCdoB ao apoiar Rodrigo Maia, o mais querido articulador da Reforma da burguesia. É preciso tirar lições dessa estratégia conciliatória e impotente, pois a vida de cada trabalhador e os direitos democráticos só serão respeitados se nós os defendermos com unhas e dentes, com a organização da nossa força social contra esse punhado de sanguessugas. Para isso temos que ter um programa para vencer a crise brutal que se aprofunda.




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