Usando-se da liminar que suspende as operações nas favelas até o fim da pandemia, promovida pelo STF no último dia 05, a polícia civil do Rio de Janeiro suspendeu por tempo indeterminado a reprodução simulada da morte do garoto João Pedro, uma das partes da investigação para poder punir os responsáveis. Todavia, um dia depois da liminar do STF, no sábado (06) a polícia militar invadiu o Alemão provocando tiroteios e aterrorizando a população.
terça-feira 9 de junho de 2020 | Edição do dia
A medida demagógica do STF aprovada na última sexta-feira (05), de proibição de operações policiais dentro das comunidades do Rio de Janeiro enquanto durar a pandemia, surgiu como tentativa de evitar que novos assassinatos e abusos policiais pudessem gerar mobilizações negras no Brasil, após a fúria negra tomar os Estados Unidos e se expandir pelo mundo. Uma medida completamente demagógica, mas que revela o enorme medo das elites brasileiras com a possibilidade de um levante negro no Brasil.
Mas justamente num país desenvolvido sob o racismo estrutural, era fácil de deduzir que uma simples medida como essa, poderia evitar que as instituições no Brasil tão racistas seguissem perpetuando esta opressão contra a maioria da população. O que ficou comprovado que além do descumprimento pela policia militar um dia após a aprovação, agora esta mesma medida é utilizada para garantir a impunidade dos crimes do Estado e de seus agentes de repressão contra jovens negros.
Sem Justiça, Sem Paz
Frente a esta escandalosa resposta da policia civil que busca garantir a impunidade dos assassinos de João Pedro, precisamos nos nos apoiar nos atos deste último domingo que levou milhares de pessoas as ruas em todo país, mesmo em meio a pandemia, para através da nossa mobilização conseguir garantir justiça para todos os nossos mortos.
Está mais do que claro que as investigações e punições aos responsáveis não poderá vir das mãos deste mesmo Estado que é agente direto destas violências. Por isso, nos próximos atos que estão por vir precisamos exigir investigações independentes para termos justiça para João Pedro, mas também Rodrigo Cerqueira, João Victor e Miguel.
Também não esquecemos que o assassinato político de Marielle Franco até hoje está impune, por isso seguimos gritando até hoje quem mandou matar Marielle?
O caso do George Floyd escancarou no mundo todo como a repressão estatal é responsável pelo assassinato do povo negro, e também demonstrou como este mesmo Estado busca criar formas de deixar seus assassinos impunes. Dias após o crime, o governo Democrata de Minnesota se havia negado a prender Derek Chauvin e os outros três policiais, pelo incrível argumento de que “não havia evidências suficientes”. Mesmo com o vídeo completo nas redes sociais mostrando George Floyd repetindo "eu não consigo respirar" com sua garganta asfixiada pelos joelhos do policial branco.
Por isso além da investigação independente é preciso defendermos que os julgamentos ocorram por júri popular com maioria daqueles que sofrem na pele cotidianamente as consequências dilacerantes do racismo: as negras e os negros. Só assim podemos garantir o fim da impunidade, enquanto podemos seguir lutando também pela extinção de todas as tropas especiais (BOPE, Choque, Tática, etc) rumo ao fim da polícia e dessa sociedade racista que busca perpetuar uma submissão ao povo negro para melhor explorar o trabalho do conjunto dos trabalhadores.
Esta luta contra as forças repressivas do Estado consiste em uma luta contra o racismo, mas também na luta contra o capitalismo. Pois justamente é através Estado como um instrumento de dominação da classe capitalista contra o conjunto dos trabalhadores que se ataca ainda mais forte o povo negro.
Como colocou Julia Wallace, militante do Left Voice (diário irmão do Esquerda Diário nos EUA):
We can't get rid of slave patrols without getting rid of slavery. We can't abolish police without getting rid of capitalism. Police are the attack dogs. We need to fight the force holding their leashes. @left_voice
— Julia Wallace (@julia_furia) June 9, 2020
Não pudemos nos livrar das patrulhas de escravos sem termos nos livrado da escravidão. Não podemos abolir a polícia sem nos livrar do capitalismo. A polícia são os cães de ataque. Precisamos combater a força que segura suas coleiras. (Tradução nossa).
A história do Brasil prova que o racismo não vive sem o capitalismo e nem o capitalismo vive sem o racismo. E todas as instituições burguesas como a polícia, o STF, o executivo com seu regime extremamente degradado sob governo de Bolsonaro, estão aí pra provar que nesse momento, o objetivo maior é impedir que se irrompa o ódio e a fúria dos negros e negras nas ruas e nos locais de trabalho.
Por isso, que é necessário batalhar em cada ato pelo Vidas Negras Importam e contra o Fascismo para derrubar Bolsonaro e Mourão, e questionar o conjunto deste regime através de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, onde possamos não apenas mudar os atores políticos, mas as regras deste regime, fazendo com que cada trabalhador e trabalhadora possa decidir de fato sobre os grandes temas do país e poder através de um enfrentamento contra esta burguesia herdeira da escravidão, lutar por uma verdadeira reforma agrária, uma reforma urbana que garanta moradias dignas, um único sistema de saúde 100% estatal e sob controle dos próprios trabalhadores e outras tantas medidas que visem garantir a melhoria das condições de vida do conjunto da população, especialmente os negras e as negras que são a maioria do nosso país.
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