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quinta-feira 12 de novembro de 2015 | 21:39

Em meio à dança das cadeiras promovida pelo governo Dilma, na tentativa de agradar os partidos da base aliada para se sustentar frente às tensões da crise política que assola o Planalto, o PDT “ganhou” o Ministério das Comunicações, e, com ele, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, conforme foi noticiado anteriormente no Esquerda Diário.

A primeira medida adotada pelo novo ministro André Figueiredo como membro do Conselho de Administração dos Correios, aprovada por unanimidade, foi a redução do salário do presidente e dos 8 vice-presidentes da empresa. De R$46 e R$40 mil que recebiam o presidente e os vices, respectivamente, os salários passaram a ter o mesmo teto da Presidente da República, R$ 27.841,23.

Parece bom. De fato qualquer medida que afete a alta cúpula ao invés da base, pra variar um pouco, parece ótimo. Economia de mais de R$110 mil por mês. E por quê?

Em minha opinião, a discrepância entre os ataques promovidos a nossa categoria e os benefícios da alta cúpula é tão escandaloso, que estava se tornando insustentável, indefensável. E se o PT, que conta com o apoio valiosíssimo da burocracia da CUT e da CTB, a frente de muitos sindicatos e sempre prontos a trair as lutas em prol dos interesses do governo, não conseguiu garantir que todos os ataques passassem, como o PDT vai segurar essa barra?

Esse foi um jeito de “dar as caras” e fingir que não é apenas mais um parasita da vez, como foram PMDB e PT antes deles. Dá a entender que não estão interessados em aparelhar a empresa apenas para enriquecimento pessoal, afinal, estão diminuindo seus próprios salários... E é um jeito suave de dizer também que os cortes seguirão intensos, a exemplo do acordo coletivo deste ano, onde o plano de saúde foi salvo pela disposição de luta da base, mas o salário foi atacado, e como ficou claro também com o cancelamento do concurso e permanência de um quadro de funcionários absolutamente desfalcado. É como dizer “calma, nós também estamos pagando pela crise, abrimos mão de parte de nossos milhares de reais que vocês nos dão todos os meses, basta cada um ceder um pouco...”

No entanto, essa medida não é nada além de um “truque”. A prova disso é que o escolhido pelo PDT pra assumir a empresa, a exemplo da maioria dos cargos de confiança dentro do jogo de toma-lá-dá-cá da política brasileira, não se trata de ninguém com experiência “postal” ou sequer algo parecido no currículo. Trata-se de um latifundiário do Pará, que iniciou sua carreira política no Arena, durante a ditadura militar. Expoente da chamada “bancada ruralista”, famosa por defender os interesses milionários de uma pequena parcela da sociedade brasileira – a dos ricos donos de enormes porções de terras – em detrimento dos interesses de toda a população, do meio ambiente, dos povos indígenas e inclusive dos direitos humanos. Negam a existência constantemente comprovada de trabalho escravo no país, pois sua fortuna em geral está baseada em trabalhadores que vivem em situações degradantes.

Giovanni Queiroz (PDT), o ruralista agora a frente da ECT, tem também no currículo uma acusação muito grave, e nunca investigada (por motivos óbvios), mas que mostra também qual a sua disposição para com os trabalhadores. De acordo com a ong Repórter Brasil, Giovanni foi um dos acusados de fazer parte do “consórcio de mandantes” que executou "Gringo", líder sindicalista de São Geraldo do Araguaia (PA), em 1980.
Na verdade, ainda que haja diferenças pontuais entre os políticos, a lógica é a mesma. Sugar o sangue dos trabalhadores, se beneficiar dos lucros das estatais de forma lícita e ilícita, e conforme for interessante pra eles, privatizar as empresas aos poucos, como vem fazendo com a Petrobras, se apoiando no sentimento que eles mesmos cultivam de que o problema das estatais é o fato de serem estatais, quando sabemos que a corrupção, a sede de lucro e a super exploração dos trabalhadores está presente da mesma forma das empresas privadas e privatizadas. A tragédia de Minas Gerais, envolvendo a mineradora Samarco, da ex-estatal Vale do Rio Doce, exemplifica isso de maneira dramática.

O que precisamos não é de trocar 6 por meia dúzia. Precisamos de empresas estatais que sejam geridas pelos trabalhadores e pela população, com seus dirigentes sendo democraticamente eleitos, e suas contas sendo abertas aos trabalhadores e a população, visando a qualidade tanto do atendimento quanto das condições de trabalho, e não ao enriquecimento dessa meia dúzia.




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