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Apesar das imensas concessões do governo grego, a Troika exige mais ajustes sobre os trabalhadores e o povo. Preso entre as imposições dos credores e uma crise interna no Syriza, Tsipras convocou um referendo para legitimar-se e forçar uma nova negociação. Este é o caráter do plebiscito que se votará no domingo.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

terça-feira 30 de junho de 2015 | 01:20

Os trabalhadores e o povo grego foram chamados às urnas pelo primeiro ministro do Syriza, Alexis Tsipras, para votar se estão a favor ou contra o ultimato da Troika.

Este ultimato ocorreu na terça-feira passada, quando as instituições financeiras, o FMI e o BCE rechaçaram uma proposta de acordo enviada por Tsipras que abandonava praticamente todas as “linhas vermelhas” que o Syriza havia imposto: aumentava os impostos, aceitava a exigência da Troika dos índices de superávit primário e propunha uma dura reforma das aposentadorias com cortes nas pensões, das quais dependem 52% das famílias gregas para sobreviver.

O texto da pergunta, à qual os cidadãos gregos deverão responder “Sim” ou “Não” neste domingo, 5 de julho, está redatada nos seguintes termos:

“Deve-se aceitar o acordo que foi entregue pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional no Eurogrupo de 25/06/2015 e que se compõe de duas partes como uma proposta unificada?

O primeiro documento se intitula: “Reformas para a culminação do atual programa e além” e o segundo, “Análise preliminar de sustentabilidade da dívida”.

Nos dois espaços laterais, situados verticalmente, diz “No aceito/ Não” (Oxi). “Aceito/ Sim” (Nai).”

Ou seja, tal como está no referendo proposto por Tsipras, o triunfo do “sim” significaria a aceitação do ultimato da Alemanha em favor de permanecer no euro, o que implicaria um desastre social maior do que já existe no país em que quase 30% da população está desempregada (tudo indica que implique também novas eleições).

Um triunfo do “não” significaria um rechaço às imposições, a provocação de um default da dívida e a provável saída da Grécia do euro (ou um prolongado estado de controle de capitais que mantivesse a Grécia no euro até que pague a dívida), ou mesmo a alternativa em que Tsipras aposta, que é voltar à mesa de negociação com os “sócios”.

O governo de Tsipras chamou o povo grego a votar negativamente no referendo, enquanto que desde Bruxelas, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, advertiu aos gregos “que votar ‘não’ é dizer ‘não’ à Europa” e que esta decisão seria o equivalente a um “suicídio”. Esta e outras declarações se marcam em uma campanha internacional da Troika e da Europa do capital para atemorizar e chantagear os trabalhadores e o povo gregos.

O referendo, não obstante, esconde o fato de que o Governo de Tsipras havia chegado a um pré-acordo na segunda-feira, na qual capitulava ante a maior parte das exigências da Troika. Alguns analistas, situando a negociação em porcentagens, sustentam que o Syriza havia aceito 90% das imposições da Troika.

Depois da negativa da Troika a aceitar a última proposta grega, Tsipras se encontrou em um beco sem saída, entre a ofensiva imperialista dos credores e uma rebelião entre um setor importante dos parlamentares de seu próprio partido, que se negavam a ratificar a proposta apresentada pelo Executivo grego no Parlamento. Ante este cenário foi convocado o referendo, com o qual Tsipras busca esconder o completo fracasso de sua estratégia de conciliação com o imperialismo europeu e tentar forçar novas negociações, sobre as bases de sua última proposta draconiana.

Entretanto, pela própria forma como foi convocado, a posição do “não” neste referendo certamente será uma das formas pelas quais se expressará o rechaço da população grega às tentativas de humilhação e extorsão por parte da Alemanha, grande parte das quais o Syriza aceitou. A manifestação de dezenas de milhares na Praça Syntagma hoje é um indício da importância de acompanhar os efeitos sociais do fechamento dos bancos e do controle de capitais, que podem desencadear explosões sociais em amplos setores.

Deste modo, ao contrário do que vem fazendo grande parte da esquerda, que associa o repúdio correto às ameaças da Troika com a defesa acrítica do Syriza, que retrocedeu completamente em seu já limitado programa eleitoral prepara uma "austeridade moderada", é preciso dizer que o triunfo de um eventual “não” no referendo não significaria nenhuma saída para os trabalhadores gregos.

Para combater efetivamente a artilharia de cortes e ajustes impostos pela Alemanha e a Troika, é preciso romper definitivamente as negociações e começar a organizar o repúdio de massas existente na Grécia nos locas de trabalho e estudo, exatamente aquilo que o Syriza (inclusive a “fiel” ala esquerda do partido) se negou a fazer durante 6 meses, desarmando e desmobilizando as únicas forças sociais capazes de frear o imperialismo. Deste modo, impondo um plano de emergência que comece por abolir o pagamento da dívida, cancele todas as privatizações, anule todos os impostos indiretos à população e imponha impostos aos ricos, para que se consiga aumentar os salários e as pensões, nacionalizando os bancos sob controle dos trabalhadores e pensionistas e expropriando as grandes empresas que lucram com a crise, reincorporando os trabalhadores que foram demitidos.

Em uma palavra, desfazer o trabalho de conciliação do Syriza. É para isso que devemos nos preparar junto ao povo grego, com a mais profunda solidariedade internacionalista com o povo grego e os trabalhadores do país. Os sindicatos dirigidos pelo PC grego devem organizar pela base assembleias para que os trabalhadores decidam os rumos de seu combate, chamando os trabalhadores europeus a se solidarizarem ativamente, principalmente na França e na Alemanha, contra seus imperialismos.




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