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Em meio ao cenário político convulsivo, estão ocorrendo as eleições para a diretoria do Sindicato dos Correios de Campinas e região. Frente aos ataques que ameaçam os trabalhadores e a necessidade de se organizar pela base, acreditamos que é necessário combater as práticas rotineiras e burocráticas e organizar e unificar a categoria pela base, por isso estamos com a Chapa 2 – Renovação e Luta.

quinta-feira 24 de março de 2016 | Edição do dia

O processo eleitoral do SINTECTCAS está ocorrendo desde o dia 29 de fevereiro, com a publicação do edital, e seguirá até os dias 30 e 31 de março, quando as urnas serão abertas para a votação. Trata-se de uma eleição que acontece em meio a uma conjuntura muito importante, não só da categoria, mas também da política nacional. Enquanto o teatro da democracia dos ricos é abalado por uma profunda crise política, os direitos dos trabalhadores são ceifados um a um. Os Correios e os ecetistas estão atravessados por este cenário de cima a baixo.

A empresa está assolada simultaneamente pelas medidas privatizantes e pela corrupção, que por enquanto atinge o Postalis, que anunciou nova cobrança para que os trabalhadores paguem o roubo, e agora a Postal Saúde, conforme revelação da Lava Jato divulgada segunda-feira (21/03). Os concursos públicos são congelados e a aposentadoria é golpeada pelo governo Dilma. Mas as alas mais de direita e antidemocráticas do regime, como PMDB/PSDB/Moro não estão satisfeitas, querem atacar ainda mais forte para aumentar os lucros do imperialismo e de suas empresas multinacionais. Ao mesmo tempo, vemos os trabalhadores da indústria lutando para manter seus empregos contra as demissões, como na Mabe, cujas plantas de Campinas e Hortolândia estão ocupada por seus trabalhadores contra a falência fraudada desta empresa que irá jogar milhares de famílias nas ruas.

Os trabalhadores do Correios vêm fazendo greves todos os anos. Na última greve nacional uma forte pressão da base fez com que setores que vinham se esforçando para dividir a categoria, como os sindicatos dirigidos pela burocracia governista da CTB, tenham sido obrigados a se mover, e foi possível travar uma importante batalha, evitando a imediata implementação de mensalidades e outros ataques ao convênio médico, uma vitória parcial, mas as ameaças seguem.

Quais os rumos dos Correios?

Os Correios, assim como todo o setor de serviços públicos e empresas estatais, saúde, transporte, educação, etc, estão na mira da privatização. As medidas privatistas começam degradando a empresa e precarizando o trabalho. Piorar os serviços prestados à população, com menos investimento em infraestrutura, logística, tecnologia, etc, ao mesmo tempo em que reduz os salários, o quadro de funcionários e seus direitos, são formas de sucatear o Correios, assim reduzindo seu valor de mercado. Aumentar o ritmo de trabalho com metas inalcançáveis, uma infinidade de serviços terceirizados como banco postal, PostalCap, entre outros, são as formas que a Empresa encontra para se mostrar produtiva e lucrativa. Ou seja, a administração do Correios hoje tem um único objetivo, torná-lo atrativo para poder vendê-lo, mesmo que isso se de aos poucos, distribuindo as áreas mais lucrativas e, de maneira camuflada para não gerar um grande enfrentamento.

A piora gradual dos serviços oferecidos pelos Correios já é conhecida pelos usuários. O que se esconde por de trás é a piora ainda mais grave das condições de trabalho. Começando pela defasagem de salários, corroídos pela inflação, e pelo quadro de funcionários reduzido, que faz com que todos os trabalhadores tenham que trabalhar no mínimo o dobro, aumentando o número de doenças de trabalho, que já possuía altos índices. Agora os administradores da empresa estão fazendo de tudo para cortar o convênio médico. Além disto, agências estão fechadas aos sábados, reduzindo a jornada de muitos trabalhadores, mas com redução equivalente de salário. Historicamente a categoria reivindica redução da jornada, em especial nas agencias onde se pratica o serviço bancário, cuja jornada seria de 6h, uma reivindicação reiteradamente negada. No entanto, agora paira a ameaça de redução, porém também com redução de salários, como se as despesas dos trabalhadores e suas famílias fossem diminuir junto com a jornada.Mas talvez a marca mais forte desta política privatista seja a terceirização do trabalho. Com os concursos públicos congelados, a empresa utiliza cada dia mais dos MOTs (Mão de Obra Temporária). Com salários muito mais baixos, alta rotatividades e instabilidade, expostos a pressão da chefia e do assédio moral, enfraquecendo os trabalhadores com a divisão, inclusive sindical, entre efetivos e temporários, esta é a medida que melhor une produtividade (lucro) com baixo custo (precarização).Também se expressa diretamente nas agencias franqueadas, que produzem com a marca e a logística dos Correios, mas são controladas por empresários particulares e lucram mais com funcionários mais precarizados.

Como atua o sindicato atualmente?

A atual direção do Sintectcas, ligada a central sindical INTERSINDICAL, está há mais de uma década neste posto. Trata-se de uma direção de esquerda e antigovernista que se promove com a imagem de combativos, visto desta forma também por um setor importante da vanguarda dos trabalhadores. Entretanto a divisão que existe hoje na categoria é enorme, e se olharmos com um pouco de atenção torna-se evidente a responsabilidade que tem a direção do sindicato sobre isso. Sem iniciativas para informar e politizar os trabalhadores nas unidades, com assembleias que não incorporam as propostas mais ativas dos que participam, sem espaços onde os trabalhadores possam se experimentar e se organizar, um corpo de delegados sindical abandonado e alguns diretores que já esqueceram o que é trabalhar, a direção deste sindicato mantém uma prática rotineira e burocrática. Pior que isto, atualmente o sindicato que deveria estar pensando em como unificar a categoria para lutar, na verdade em seus discursos a divide entre trabalhadores de “luta” e os “pelegos”. O problema é que o setor que não participa das greves e mobilizações é a grande maioria. Ora, o que seria isso se não a própria incapacidade do sindicato de dialogar e organizar a categoria? Ou será mais fácil admitir que a ampla maioria dos ecetistas são “pelegos” do que admitir que o sindicato não consegue mais mobilizá-los?

Esta prática equivocada ainda é recheada por um conteúdo “antipolítica” e “antipartido”, que conscientemente cria preconceitos contra toda e qualquer organização de esquerda, igualando qualquer forma de organização de trabalhadores aos partidos corruptos da burguesia como se fossem a mesma coisa, e deixa os trabalhadores despolitizados, afastados e sem orientação frente a tudo que acontece na política nacional, como se a realidade dos trabalhadores não fosse parte do mesmo cenário que aflige toda a classe. O único conteúdo que a atual diretoria do sindicato possui é o corporativismo, ou seja, a preocupação única e exclusiva com as questões imediatas da categoria, ignorando os grandes acontecimentos políticos e as lutas de outros trabalhadores que acontecem a nossa volta, até mesmo a ocupação de uma fábrica histórica como a Mabe, onde seus trabalhadores lutam contra 2 mil demissões. Mesmo fazendo parte da mesma central sindical, não foram capazes de sequer fazer uma campanha de solidariedade com doação de alimentos.

Que tipo de sindicato precisamos?

A primeira preocupação do sindicato deve ser unificar os trabalhadores de sua base para se enfrentar contra a privatização da empresa e a precarização do trabalho. Unificar significa dar informação a todos, propor debates, discutir ideais, ajudar a organizar os atendentes e setores mais precários, defender e organizar as mulheres, os negros e LGBTs (Lesbicas Gays Bissexuais e Transsexuais), promover reuniões para os delegados sindicais e principalmente se colocar o desafio de mobilizar não só mais ativos, mas a ampla maioria dos trabalhadores da categoria.

Faz parte de unificar também lutar contra a terceirização do trabalho e defender os trabalhadores que estão nesta situação, como uma única categoria. Estes trabalhadores provam que são capazes de trabalhar em seus postos assim como qualquer trabalhador dos Correios e por isso a unificação da categoria só está completa quando cada um deles for incorporado ao quadro de efetivos.

E para garantir que não haja a acomodação e nem burocratização do sindicato, que transforma a vontade política em profissão, os cargos de diretores sindicais devem ser rotativos, de forma que nenhum de seus membros possam se afastar dos trabalhadores, sempre obrigados a retornar aos seus postos de trabalho depois determinado tempo.

Por último é necessário um sindicato que opine sobre a política nacional, que prepare os trabalhadores para os duros golpes que virão que estimule a desconfiança na democracia dos ricos e o repúdio a suas alas mais reacionárias e que ajude a classe trabalhadora também a ser um sujeito político.

O Esquerda Diário apoia a chapa 2, ligada a CSP-Conlutas, que conta com importantes ativistas da base, e cujo programa expressa algumas das principais preocupações que apresentamos, como a proposta de rotatividade entre os diretores, devolução do imposto sindical, e a unificação da categoria pela base. Natália Mantovan, atendente e delegada sindical na base de Campinas, e colunista deste diário, faz parte dessa chapa, confira sua declaração.




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