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Qual o caminho para barrar o avanço do Conservadorismo no ES e derrotar Bolsonaro e Mourão?

o estado do Espírito Santo, Bolsonaro foi o mais votado em 64 municípios, assim como a votação expressiva em seus aliados locais. Durante a pandemia, manifestações de extrema direita saíram às ruas de Vitória e Vila Velha em apoio ao Bolsonaro. Frente ao avanço do conservadorismo no estado, a paralisia das centrais sindicais - que poderiam ter colocado toda a potência nas mobilizações - evidenciaram seu objetivo por uma saída institucional. Afinal, qual a real estratégia para enfrentarmos não só o avanço do conservadorismo no Espírito Santo, mas principalmente para derrotar Bolsonaro e Mourão?

sexta-feira 3 de julho de 2020 | Edição do dia

Frente ao cenário de crise mundial, do descaso dos governos com os trabalhadores e a população pobre em meio à pandemia, não poderíamos deixar de expressar que, também a nível mundial, ocorre a explosão da questão negra, as manifestações antirracistas e antifascistas, que reuniram dezenas de milhares que se inserem no marco de uma importante mudança internacional com a revolta popular contra o assassinato de George Floyd. É nesse contexto que, quando um movimento embrionário no Brasil começou tomar as ruas, ao invés de fazerem um grande chamado se unificando as mobilizações que ocorreram pelo país, vimos a paralisia que as correntes e centrais expressaram aos que desejavam se mobilizar, disseminando medo e retirando seu apoio.

Em meio a um momento de trégua entre o bloco Bolsonaro e militares e os demais atores institucionais, um ato foi chamado com nova expressão da política de frente ampla dos inimigos, "Direitos Já", reunindo de golpistas, figuras da centro-esquerda a representantes sindicais e lideranças do movimento negro. Uma frente que busca camuflar os ataques em curso e impedir que se desenvolvam as lutas antirracistas, antifascistas e as greves que começam a despontar.

A saída de construir uma frente ampla, ou seja, uma unidade sem nenhum critério somente com o único objetivo de derrotar Bolsonaro seja como for, seja com quem for e seja para colocar quem for no lugar - mesmo que um general da ditadura militar - tem sido defendida por muitos setores, tanto do centro burguês, quanto do PCdoB, PT e até mesmo do PSOL.

Na quinta-feira passada, 26, no Espírito Santo, o Brigadas Populares fez um chamado a debater "Como enfrentar a ascensão conservadora no Espírito Santo", convidando representantes do PCdoB, PSOL, REDE, PT e Consulta Popular. A todo momento a ênfase era em articular uma frente ampla sob o argumento de enfrentar os ataques à democracia. Mas, não se toca no elemento central do esvaziamento de uma estratégia realmente revolucionária, quando se articula uma frente ampla sem independência de classe, aberta a representantes de partidos burgueses, desde que se declarem contra Bolsonaro.

Neto Barros (PCdoB), que participou do debate, declarou que é preciso deixar de lado as grandes diferenças entre os partidos e indivíduos a fim de derrubar o governo. Roberto Martins (REDE) aposta na saída do impeachment pelo fato de Bolsonaro já ter acumulado uma série de crimes contra a sociedade, e afirma que a atuação do Contarato contribuiu para o crescimento do partido no ES, mas não podemos esquecer seu voto recente a favor da proposta de privatização e saneamento da água atacando diretamente a população. O convidado do PT, Helder Salomão, por sua vez, defende veemente a frente ampla, bem como, Amanda Verediano do Levante Popular, que defende inclusive uma frente ampla com os liberais, apesar de desacordos, com a ideia de que essa é a saída para derrotar o neofascismo. O único a destoar disso foi André Moreira (PSOL).

A separação entre os ataques econômicos e a degradação da democracia burguesa ignora o papel que esses partidos cumpriram na recente conjuntura do país. Ignora que foi por meio do golpe institucional de 2016 – apoiado por muitos que estão na frente ampla - que se abriu caminho tanto para a aprovação de ataques econômicos, como a Reforma da Previdência protagonizada por Maia como para o processo de degradação do regime que culminou na eleição de Bolsonaro. A proposta de frente amplíssima tem uma enorme contradição de parecer unificar amplos setores, mas deixa de fora justamente a mais afetada, a maioria da população: a classe trabalhadora. Nesta proposta, o papel dos trabalhadores é reduzido ao voto e a confiar que os mesmos partidos que retiraram cada um dos direitos trabalhistas, da aposentadoria e que são responsáveis pelas mortes de milhares de pessoas com a pandemia em nome de uma falsa defesa à democracia, vão fazer algo pela classe trabalhadora. E não se deve deixar de lado a tentativa de se criar uma frente eleitoral a partir dessa frente ampla, visto que Maia e representantes do PSDB se negaram à votar o impeachment. Como se não bastasse isso, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT) também reprimiu as mobilizações antifascistas.

Frente ao aberrante negacionismo de Bolsonaro em meio à crise sanitária até esses inimigos da classe trabalhadora posam como “sensatos” ou “moderados”. Mas, esses mesmos, deixaram os trabalhadores na linha de frente do combate à pandemia sem EPIs, a população sem testes morrendo nas filas por UTIs que estão em falta, que não deram nenhuma garantia para que esses setores pudessem fazer quarentena. São estes que agora tão promovendo reaberturas sem nenhum critério sanitário. Mais do que nunca, se revela aos trabalhadores que esses políticos estão preocupados na manutenção do lucro dos capitalistas ao invés de preservar nossas vidas. Por isso, o papel das direções da classe trabalhadora não pode ser o de nutrir ilusões nesses setores.

Ao invés de frente com golpistas e algozes da classe trabalhadora, a real frente tinha de ser uma frente única dos trabalhadores. Por isso, é unificar o conjunto da classe trabalhadora, hoje dividida por ramos de produção e serviços, em diferentes sindicatos e entre efetivos e terceirizados, ou ainda divididos pelo gênero, sexualidade, nacionalidade ou raça, para que juntos em ações na luta de classes possam golpear a burguesia em suas distintas alas. A recente paralisação internacional dos entregadores de aplicativos junto com a mobilização dos metroviários em São Paulo é um exemplo disso. É preciso ampliar esse exemplo exigindo que as centrais sindicais rompam com a política de trégua e paralisia.

Além disso, é necessário que surja na esquerda um polo com independente e classista em que emerja a voz da classe trabalhadora, e um programa comum para que não sejam os trabalhadores a pagarem pela crise. Com a proibição de todas as demissões, uma quarentena com licença remunerada, contra as suspensões de contrato e reduções salariais, e garantindo um salário emergencial de 2000 reais que chegue imediatamente a todos que estão sem renda. Com testes massivos, leitos equipados, contratação de todos os profissionais da saúde e centralização da saúde no estado, sob controle dos trabalhadores. Com a reconversão produtiva para garantir os insumos e equipamentos necessários para o combate a pandemia. Mas, para também questionarmos a fundo esse sistema que nos impõe a miséria e coloque a frente um programa socialista e revolucionário.

Foi nesse sentido que o Esquerda Diário organizou um importante debate reunindo representantes de organizações políticas socialistas brasileiras para abordar qual saída revolucionária frente à crise sanitária e política no país. Debate que reuniu Plinio de Arruda Sampaio Jr. do Contrapoder e do PSOL, Danilo Bianchi da Corrente Socialista dos Trabalhadores do PSOL, Roberto Robaina, da corrente Movimento Esquerda Socialista também do PSOL, Zé Maria do PSTU e Diana Assunção do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores e do Esquerda Diário. E nesse domingo (28), o Quilombo Vermelho e o Esquerda Diário reuniu juventude e trabalhadores do Rio de Janeiro, Espírito Santo e diversos estados do Nordeste numa plenária aberta pra debater "Nos EUA e no Brasil: os rumos da luta negra anticapitalista", com Carolina Cacau, professora estadual e fundadora do Quilombo Vermelho e Letícia Parks do Comitê do Esquerda Diário Cerrado e também fundadora do Quilombo Vermelho e organizadora do livro A Revolução e o Negro.

Ao contrário do caminho apontado pela maioria hoje da esquerda, devemos colocar nossas forças para construir esse polo que atue como uma verdadeira Coordenação pelo Fora Bolsonaro e Mourão, já que não podemos sucumbir a política de impeachment ou renúncia, que daria o poder a Mourão. Também é preciso chamar os trabalhadores e o povo a não terem nenhuma confiança no STF e em Rodrigo Maia e no Congresso, povoado de golpistas. É urgente que se avance na articulação das medidas de combate à crise sanitária com o debate sobre uma bandeira democrática elementar que questione não apenas esse governo, mas também esse regime: é o povo que deve decidir, com uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.

Ao invés de uma frente-vale-tudo, os trabalhadores precisam apostar numa frente com independência de classe, só assim é possível ter força para barrar os projetos de entrega dos recursos naturais em plena pandemia, e fazer com que esta crise da pandemia e a crise econômica não seja descarregada nas costas dos trabalhadores. Apoiar mobilizações como a das categorias que estão em luta, como a dos entregadores de aplicativos, que ocorreu recentemente, é o dever de casa da esquerda que realmente quer construir uma oposição a este governo, ao invés da alternativa do “mal menor” que vem levando as massas trabalhadoras a um beco sem saída.




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