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USP | Psicologia da USP aprova paralisação de 3 dias por Saúde Mental e condições de vida no CRUSP

segunda-feira 7 de junho de 2021 | Edição do dia

Psicologia da USP aprova paralisação de 3 dias por Saúde Mental e condições de vida no CRUSP

A terrível notícia do suicídio de três estudantes no último mês revoltou estudantes, trabalhadores e professores do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Foi organizada uma assembleia dos três setores, que votou a paralisação da Unidade por 3 dias. As pautas da paralisação são a luta em defesa dos serviços de saúde mental da USP e pela melhoria das condições de vida no CRUSP, a moradia estudantil. A assembleia contou com a presença de representantes do Sintusp - Sindicato dos Trabalhadores da USP, de entidades e coletivos de estudantes e professores, como o DCE, Atlética, Centro Acadêmico, coletivo Pode Contar, Levante Indígena, Escuta Preta, Aurora Furtado, Rede Não Cala, entre outros.

Do dia 9 a 11 de junho, nesses 3 dias de paralisação, vão acontecer atividades de discussão sobre as causas de sofrimento relacionadas às condições de trabalho e estudo na Universidade, debates sobre a história de luta do CRUSP e as condições atuais da moradia estudantil, e sobre o desmonte dos Serviços de Saúde Mental, esses serviços que também atendem a população do entorno estão cada vez mais restritos por falta de estrutura, falta de contratação e pelos cortes.

É realmente muito grave a situação dos suicídios na USP, o sofrimento e adoecimento mental apresentam uma relação direta com a falta de condições de permanência estudantil dos estudantes mais pobres, vindos de escola pública, negros, que precisam da moradia e de apoio para permanecer na Universidade. Além disso, muitos desses estudantes enfrentam um racimo, que é estrutural na Universidade, não a toa o movimento por cotas na USP foi brutalmente criminalizado, a PM no campus está constantemente parando trabalhadores e estudantes negros pra fazer revista e atua com o aval da Reitoria. A violência é institucionalizada, do teto caindo, a falta de luz, de água, internet, de cozinha no CRUSP, até as situações de racismo nas salas de aula e nos locais de trabalho. A maioria de negros na USP ainda está entre as trabalhadoras terceirizadas e os mais baixos salários.

O Reitor e a burocracia responderam a essa situação crítica de suicídios e adoecimento psicológico criando um Escritório de Saúde Mental, é muito significativo que agora os próprios trabalhadores, estudantes e professores do Instituto de Psicologia da USP organizaram essa paralisação de 3 dias para denunciar o absurdo desmonte dos serviços de saúde mental, colocando em discussão severas críticas a esse Escritório criado pelo Reitor. Todos os dias ouvimos relatos de estudantes e trabalhadores, que tentam por diversos caminhos ter acesso a algum acompanhamento psicológico, mas não existe uma estrutura suficiente com profissionais contratados para atender a demanda de acompanhamento e prevenção, isso causa o aumento de casos mais graves, que tristemente podem se tornar irreversíveis sem atendimento.

A situação de isolamento e adoecimento se agravou com a pandemia, principalmente para os estudantes do CRUSP, mas também para os estudantes e trabalhadores, que passam por muitas perdas de familiares, colegas e a pressão constante da Reitoria e de alguns diretores de Unidade para um retorno inseguro do trabalho presencial e para manter as atividades com uma suposta normalidade. Enquanto atingimos a marca de quase meio milhão de mortes na pandemia, a propaganda da Reitoria é que “a USP não parou”, no entanto essa propaganda não está acompanhada da garantia de segurança sanitária e condições de trabalho, inclusive com a redução e demissão das trabalhadoras terceirizadas da limpeza em diversas Unidades e no Hospital Universitário. Ao mesmo tempo, a Reitoria e o Estado, ao longo dos últimos anos, atuam com severos cortes e são responsáveis pelo desmonte do HU, pela falta de políticas para permanência dos estudantes mais pobres e pela falta de contratação de profissionais de saúde.

A paralisação que vai acontecer na Psicologia é um importante passo para lutar contra essa realidade tão dura e fria de sofrimento, ações como essa e como o ato organizado pelos moradores do CRUSP, em memória ao jovem estudante negro que perdemos mais recentemente, são um espaço pra denunciar esses problemas e organizar uma luta por uma verdadeira estrutura de apoio e saúde. Na terça feira, dia 8 de junho, 14 horas, os trabalhadores da USP vão se reunir em assembléia para debater a construção da luta contra Bolsonaro e Mourão, a sua campanha salarial e a luta contra o retorno irresponsável das atividades presenciais e pode ser um espaço muito importante para cercar de apoio a paralisação da Psicologia, pautas urgentes que mostram como precisamos nos organizar nos locais de trabalho e estudo por medidas concretas.

Publicamos abaixo o comunicado da Assembleia Intersetorial do Instituto de Psicologia:

Olá, saudações a todas(os)!
Nesta sexta-feira (04/06) tivemos uma Assembleia dos 3 setores, com a presença de alunas(os), docentes e funcionárias(os). Conseguimos, em assembleia, reunir um pico de 137 pessoas, contando com a presença de representantes do SINTUSP, Levante Indígena, Pode Contar e Coletivo de RDs, além das entidades envolvidas na organização como DCE, CAII, coletivo Escuta Preta, Atléptica, Histeria, Cursinho da Psico, coletivo Aurora Furtado, Rede Não Cala e LANPP. Nela, discutimos questões que foram citadas no email de convocação à assembleia, enviado no dia 02/06.
Muito da discussão girou em torno da necessidade de um ato que não fosse apenas uma suspensão de atividades no Instituto, mas também, um momento de discussão, debates, formulações e posicionamentos frente à reitoria em relação a acontecimentos recentes em nossa universidade.
Foi levantado também que, nesse ato, as conversas levassem em conta a necessidade de debatermos uma maior atenção para os serviços de saúde mental, como também para pautar a questão de permanência, uma vez que os ocorridos estão fortemente ligados às questões materiais do CRUSP, que historicamente luta por melhores condições.
Durante a assembleia também foram trazidas outras questões importantíssimas, como a situação de alunas(os) cotistas e sua permanência, a necessidade dos funcionários participarem juntos desta luta e a desrepresentatividade das comunidades indígenas e a necessidade de somarmos-nos a esta causa. Decerto, esta mensagem possui caráter resumitivo de vários debates que foram trazidos durante a assembleia, portanto, para caso queira saber mais, estamos enviando em anexo a ata feita da reunião.
Ao fim, foram tirados os seguintes encaminhamentos na assembleia:
1) Suspensão das atividades didáticas dos dias 09 a 11 de junho no Instituto de Psicologia;
2) Elaboração de um calendário de eventos e atividades a serem realizadas nos 3 dias de suspensão, que será pensado em um Grupo de Trabalho (GT) no Whatsapp.
3) Dispensa dos funcionários para a participação dos eventos e atividades da suspensão.
Muito obrigado a todas(os) que participaram e que vão construir esta luta conosco! Juntem-se ao GT e compareçam aos eventos da suspensão! Assim que o GT formular, divulgaremos o calendário de atividades!
Assembleia Intersetorial Instituto de Psicologia




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