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ESTADO ESPANHOL | Protestos de migrantes nas Ilhas Canárias contra as políticas racistas do governo "progressista"

A situação dos migrantes nas Canárias mostra a continuidade das políticas xenófobas e racistas já conduzidas pelo PP, mas agora dirigidas pelo “governo mais progressista da história”.

quarta-feira 10 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

Além da manutenção e ampliação dos CIEs (Centros de Internação de Estrangeiros), leis racistas anti-imigração, deportações sumárias e deportações sem garantias, a atuação nas Canárias, em face de sua primeira crise migratória, pode ser classificada como um atentado aos mais elementares direitos humanos dos migrantes. Enquanto isso, Unidas Podemos, desde o governo, olha para o outro lado e endossa essas políticas.

A situação no arquipélago das Canárias é bastante explosiva para os milhares de migrantes, e com razão, no que diz respeito às condições em que se encontram atualmente, apesar de já terem passado vários meses desde a sua chegada, no verão. Assim, crescem os protestos nos hotéis e acampamentos onde seguem hospedados, devido ao desamparo e frustração em que se encontram e ao medo de deportação que pode ocorrer a qualquer momento. Bloqueados nas ilhas e em péssimas condições de vida, sofrendo com frio e inundações em muitos casos. Eles vêem o tempo passar sem propósito, vieram ganhar a vida, e o que vêem são enormes deficiências e dificuldades no seu dia-a-dia, com uma perspectiva de futuro inexistente nas condições atuais. E ainda por cima, sofrendo em muitos casos atitudes racistas e xenófobas e agressões por parte de setores reacionários da população canária, que inclusive se manifestaram contra sua presença, acusando-os falsamente de aumentar a criminalidade e delitos nas ilhas desde sua chegada.

Tudo isso amparado por um governo que afirma basear suas políticas na ideia de "não deixar ninguém para trás". E cujas políticas de migração no papel, quanto mais no caso do Unidas Podemos, iriam contra as implementadas pelo PP. Supunha-se, entre outras coisas, que dariam fim às deportações sumárias, amplamente denunciados pelo PSOE e Unidas Podemos durante o governo do PP em Rajoy. Além disso, o uso de muitos dos imigrantes para realizar trabalhos essenciais durante a pandemia covid-19, como trabalho no campo, não foi reconhecido por meio de qualquer tipo de regularização minimamente aceitável, como em parte ocorreu em outros países europeus. Nem mesmo os direitos humanos mais essenciais estão sendo respeitados em relação ao acolhimento e o direito a asilo político ou humanitário efetivo, devido ao risco de vida dos migrantes em seus locais de origem.

É por tudo isso que durante a última semana ocorreram diversas manifestações, protestos e greves de fome de migrantes. Uma tentativa de desbloquear a situação e, pelo menos, permitir que se mudem para a península e mesmo para outros países europeus para avançar e ter alguma perspectiva de futuro.

Confinamentos em campos de concentração e deportações

Os macro acampamentos que estão sendo abertos para acomodar nada menos que 9.000 migrantes são, na maioria dos casos, a antesala para a deportação. E eles estão perfeitamente cientes disso. Consequentemente, a inquietação entre os migrantes aumentou e a indignação com a situação em que se encontram aumentou drasticamente, levando em alguns casos a atos absolutamente desesperados, tendo ocorrido automutilação e tentativas de suicídio, diante do que "o governo mais progressista da história "permanece cinicamente mudo, enquanto mexe os pauzinhos para deportar e apresentar uma solução reacionária, racista e xenófoba para esta situação de milhares de migrantes.

Exemplo claro de tudo isso foi o que aconteceu na sexta-feira passada, quando foi inaugurada a instalação “Las Raíces”, que é um dos dois novos acampamentos localizados na ilha de Tenerife. Ali chegou um primeiro grupo de cerca de 80 imigrantes que entrou no acampamento so bum aguaceiro considerável e o que encontraram foram instalações a 8 graus de temperatura, entre neve, barro e água entrando pelas tendas, assim era seu lugar pra passar a noite. Diante dessa situação, eles se recusaram a descer do ônibus, mas a polícia interveio para reprimir e fazer com que saíssem. Nenhum migrante quer ir para este acampamento, que tem capacidade para 2.400 pessoas, depois de ver os vídeos, distribuídos entre os próprios migrantes, nas condições em que esta unidade está localizada. Por esta razão, um protesto foi desencadeado por várias dezenas de imigrantes num hotel no sul da ilha de Gran Canaria, quando o seu destino foi anunciado a esse novo acampamento ao qual, logicamente, eles não queriam ir nem mortos. E eles também consideram a antesala de sua deportação.

Outra das ações empreendidas recentemente por migrantes foi realizada no último sábado no Colégio León, que foi convertido em um abrigo para migrantes. Lá, eles anunciaram uma greve de fome de 24 horas e exibiram faixas com o slogan: "A morte é melhor do que voltar." Foram ao consulado marroquino para agilizar o processamento da documentação e para poderem deslocar-se à Península e para se protegerem dos ataques que estão sofrendo. Eles lamentam os migrantes que estão presos sem saber por quanto tempo, pior do que um condenado na prisão. E enquanto seus parentes, incluindo crianças pequenas ou pessoas doentes, estão esperando que eles enviem dinheiro.

O mais recente, em toda esta miríade de acontecimentos, foi o que aconteceu esta segunda-feira, quando o quartel Canarias 50, um dos centros acondicionados para receber migrantes, foi inundado com esgotos. Este centro, que se situa em Las Palmas de Gran Canaria, sofreu com o transbordamento das águas fecais que cobriam a esplanada e afetou inclusive o interior das tendas onde dormem. O fato foi divulgado pelas redes por meio de imagens. Esta é a segunda enchente sofrida pelo acampamento que abriga cerca de 400 marroquinos. A outra enchente foi na última sexta-feira e eles estavam drenando água grande parte da manhã, depois das enchentes que sofreram à noite. Além disso, denunciam a falta de água quente.

As instalações disponibilizadas pela Defesa encontram-se obsoletas e muito deterioradas devido ao abandono das suas instalações durante muito tempo, por estarem inativas. As obras realizadas com pressa e a correria, ficam explícitas que foram feitas para cobrir o expediente, mas sem um real interesse em atender devidamente as necessidades dos migrantes.

Dos seis campos prometidos desde dezembro para abrigar cerca de 7.000 migrantes, apenas três estão abertos. Agora, a abertura das demais está prometida para meados deste mês.

Por outro lado, quem está hospedado em hotéis fechados durante a pandemia tão pouco está na melhor das situações, apesar da falsa e xenófoba reclamação de Vox sobre o uso de piscinas por migrantes. É ultrajante que sejam colocados contra a parede quando estão isolados e praticamente encerrados, num ambiente tenso e hostil, em muitos casos e incapazes de levar uma vida ativa e normal. Além disso, muitas instalações também apresentam deficiências e não têm meios suficientes para uma vida decente.

A política do governo "progressista" da Coalizão: racismo e xenofobia

Todas as políticas desenvolvidas pelo Governo do PSOE e Unidas Podemos nesta crise migratória nas Ilhas Canárias apresentam características evidentes de racismo e xenofobia para com os migrantes.

Da inauguração até 1 de Dezembro - 102 dias e em condições desumanas e sobrelotadas - cerca de 3.000 pessoas num espaço para 400, na doca de Arguineguín, na Gran Canaria. Passando pela tentativa - malsucedida na maioria dos casos devido ao fechamento de aeroportos devido à pandemia - de deportar "via expressa" a maior quantidade possível dos mais de 20.000 migrantes no total que chegaram às Canárias nesse período. E, tudo isso, sem fazer face ao seu eventual direito de asilo e sem prestar um verdadeiro apoio jurídico. Muitos dos defensores públicos que os atendiam só conseguiam fazê-lo com enormes dificuldades e à distância dos atingidos. E terminando com a atual situação de abandono em condições lamentáveis, encerrados em centros, acampamentos ou hotéis aguardando a deportação o mais rápido possível, sem abordar adequadamente seu direito de asilo e proteção.

De fato, o Ministério do Interior mantém hoje a sua política de não encaminhar ninguém para a Península, salvo uma pequena parte porque são mais vulneráveis e os requerentes de asilo que conseguiram processar o seu pedido, apenas 2.168 ao todo em 2020, e realizar o máximo possível de deportações. Neste momento, este processo continua parado, 80 expulsões para Marrocos por semana, um curto vôo para o Senegal e a ideia de retomar as deportações para a Mauritânia.

Perante esta situação, só é possível levantar uma política de defesa dos direitos dos migrantes que passe pela revogação da lei de imigração, o encerramento imediato dos CIE e o direito à livre circulação e trabalho dos imigrantes. Porque, nativos ou estrangeiros, somos a mesma classe trabalhadora!




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