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2022 | Privatizações e Regime de Recuperação Fiscal em MG: Zema e os demais em clima eleitoral

Privatizações, Regime de Recuperação Fiscal, auxílio emergencial, relação com a Assembleia Legislativa e com Bolsonaro: o mais do que implantado clima eleitoral pode ser o fim que explique alguns desses meios nos últimos meses no governo Zema.

MaréProfessora designada na rede estadual de MG

segunda-feira 7 de junho de 2021 | Edição do dia

Foto: CNN (24.ago.2020)

Com a aprovação pelo governo federal da entrada do estado do Rio de Janeiro no novo Regime de Recuperação Fiscal – que poderíamos chamar de Regime de Ataques e Privatizações – fica a pergunta: o que impede Romeu Zema de fechar negócio no estado com uma das, senão a maior crise fiscal do país? O mais do que implantado clima eleitoral pode ser o fim que explique alguns meios dos últimos meses no único governo do Partido NOVO.

Não é segredo para ninguém que o grande fetiche do patrão no cargo de governador é privatizar tudo o que o sol pode tocar. Como parte de suas promessas ao governo federal para que pudesse pendurar a dívida do estado mineiro, Romeu Zema saliva pela privatização da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que aos liberais como ele e Guedes viria bem a calhar após a absurda venda da Cedae no RJ, e da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que teria que passar por uma espécie de plebiscito popular para ser entregue ao capital privado.

O clima nas últimas semanas dentre analistas políticos mostrava uma certa expectativa de que Zema e a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) estivessem prestes a arriscar desafiar os trabalhadores e o povo mineiro e avançar no enorme ataque que seria a venda dessas estatais. Mas a declaração que chegou foi de Mateus Simões, Secretário Geral do governo, revelando a intenção de um passo que talvez caiba mais nas pernas de Zema: ter como objetivo prioritário a privatização “apenas” da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), buscando essa autorização na ALMG, e desde já vender fatias da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge).

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Independente de a ALMG aprovar ou não a entrada do estado no novo RRF de Bolsonaro, amenizado para os governadores pelas mãos do árbitro judiciário, Zema deve sua lealdade ao plano econômico que ele compartilha com o presidente e do qual, isolado, só conseguiu avançar com a Reforma da Previdência Estadual. O governador, impressionando um contingente nulo de pessoas, disse em uma entrevista nível “show de horrores” para o Pânico na TV que pretende avançar com uma Reforma Administrativa, que em âmbito federal foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, para sugar ainda mais suor e sangue do funcionalismo público.

havíamos analisado o eterno “morde-assopra” do governador com o presidente, que segue mais vigente do que nunca. Em questão de dias – os últimos dias – Zema diz que admira Bolsonaro e dá a entender que gostaria de não ter a “pedra no sapato” da candidatura presidencial do seu partido (NOVO) em 2022 para poder apoiar o presidente, mas logo depois critica que Jair não usa máscara e é ideológico demais: “É de direita, de esquerda? Não interessa. A reforma saiu, ótimo”.

Esse “pragmatismo” aparente de Romeu Zema – que até parece não ter surfado em uma onda ideologicamente reacionária nas eleições de 2018 e não estar calculando repetir a manobra para as próximas eleições – carrega a mesma lógica seguida por outros casos de “morde-assopra”. Nesse caso, que é entre a ALMG e o governador [sejamos sinceros, por enquanto ainda] bolsonarista, a questão é atravessada pela disputa já colocada entre Zema e Kalil para o governo estadual em 2022, na qual o Palácio da Inconfidência tem a possibilidade de fortalecer ou enfraquecer o pré-candidato à reeleição em detrimento do atual prefeito da capital e muito provavelmente candidato ao governo estadual, Alexandre Kalil (PSD).

As mordidas vão além do grande “pé na janta” que é a maioria do Palácio da Inconfidência (deputados de oposição e “independentes”) para que Zema possa não só pagar seus compromissos com Bolsonaro, mas também mostrar serviço para setores patronais como a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Acontece agora na ALMG, à imagem e semelhança do Congresso Nacional, uma CPI que caminha para investigar o fato consumado de que o governo mineiro foi o que menos usou a verba destinada para a saúde em plena pandemia e sucateamento recorde dos hospitais. Tal “investigação” – tão circense como a de Aziz e Calheiros – certamente busca ligar Zema ao perfil bolsonarista e negacionista que ele procura timidamente se diferenciar, favorecendo Kalil com a carapuça de “a voz da defesa da ciência e da vida” que ele falsamente tenta vestir.

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Contraditoriamente ou intencionalmente, esse papel de freio que a ALMG acaba cumprindo para alguns planos de Zema também o preserva (e preserva aos próprios deputados) aos olhos de parte da população. Afinal, perante à classe trabalhadora mineira, herdeira da história de luta dos negros escravizados inconfidentes, e sentindo na nuca os ventos de luta de classes vindos de outros países, pode não ser benéfico fazer movimentos radicais. Mais uma vez a burguesia covarde de Minas Gerais pisando em ovos, entre a cruz do que exige a crise e os seus pares, e a espada do que gritam famintas, exaustas e asfixiadas as massas.

Sabendo que Zema e toda a política tradicional mineira está no mais perfeito acordo sobre a necessidade burguesa de descarregar a crise sobre as costas dos trabalhadores e do povo pobre, há outro acordo entre eles, e é aí que se assopram. Visando 2022, sem ter certeza que poderá surfar no bolsonarismo novamente e sabendo que sua governabilidade futura depende de se enfrentar com a classe trabalhadora nos ataques e privatizações, o patrão enlouqueceu e propôs um auxílio emergencial de R$500 de parcela única em agosto. Os direitistas e golpistas da ALMG viram aí uma oportunidade de também vestir um terno bonito aos olhos da população, e Agostinho Patrus (PV), presidente da casa, pediu truco, propondo que o valor seja de R$600. A mídia golpista comprou a proposta e pinta o verde como pai dos pobres, para na página seguinte tudo fazer sentido: Zema pode se enfrentar com o pessedista Kalil na cabeça de chapa e Patrus no braço direito, como vice.

Romeu Zema precisa contar, portanto, com o apoio dos grandes barões da polícia mineira (FIEMG, mineradoras, empresários dos transportes) e com cálculos precisos em seu alinhamento a Bolsonaro, sabendo que não só há CPI, mas já existem ameaças de que ele entre na famigerada e alucinada “lista dos comunistas” da extrema direita se não for ainda mais capacho do presidente. Mas as movimentações por cima não têm mais poder do que as lutas por baixo, e nesse campo as direções sindicais não podem manter nenhuma trégua, nem com o governador NOVO, nem com o carrasco da educação infantil Kalil, tampouco com qualquer político ou juiz a serviço dos capitalistas. O PT, e até a esquerda em partidos como PSOL, mergulhou de cabeça no clima eleitoral, quando a resposta para as mazelas que vive a população não pode – e não vai – ser dada em outubro de 2022.

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