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CONGRESSO DOS ESTUDANTES DA UNICAMP | Pra poder contra-atacar: que os capitalistas paguem pela crise

Tese em construção ao XIII Congresso dos Estudantes da Unicamp assinada pela juventude Faísca, pelo grupo de mulheres Pão e Rosas e pelo Quilombo Vermelho - Luta negra anticapitalista, junto a estudantes independentes. Conheçam, assinem e enviem sugestões!

quinta-feira 19 de setembro de 2019 | Edição do dia

Sair da rotina para enfrentar Bolsonaro e Weintraub: em defesa de entidades vivas, militantes e pela base a serviço de um programa anti-imperialista e anticapitalista

“Corra, camarada, o velho mundo está atrás de você”, pichavam jovens franceses que desafiavam o poder em maio de 68 e abriam as portas da Sorbonne a toda classe trabalhadora. No Brasil atual, marcado por uma extrema direita que quer nosso suor e sangue, a juventude saiu massivamente às ruas se colocando como a principal oposição a Bolsonaro e carregando as experiências de uma nova geração que participou de atos massivos, ocupações de escola e de universidade em resposta ao que veio significando a crise capitalista e os ataques contra nossa futuro. É nossa tarefa nos contrapor ao “velho mundo” e, para isso, devemos tomar nas mãos as ferramentas que historicamente foram construídas pelo movimento estudantil inspirado nas lutas de trabalhadores, fazendo delas verdadeiras fortalezas que sirvam à nossa organização: as entidades estudantis.

Para cada Weintraub que quer nos robotizar para produzir conhecimento para as empresas, que sejamos milhares de jovens lado a lado aos trabalhadores, aos indígenas, aos camponeses, sem-terra e sem-teto, produzindo conhecimento que sirva para atender às suas demandas. Para cada Damares, que ameaça a vida das mulheres e LGBTs, que mostremos orgulhosamente toda subversão do corpo, dos padrões de gênero, da sexualidade, e que cada jovem negro possa erguer seu black contra a violência policial. Para cada Bolsonaro que despeja a conta da crise capitalista nas nossas costas, que construamos entidades vivas, democráticas, militantes, que organizem a luta pela base e façam a extrema direita tremer com a força da juventude aliada aos trabalhadores. Nada menos que isso. Se a extrema direita tem um projeto radical anti-operário, misógino, racista e LGBTfóbico, não deixemos barato. É com a tarefa de nos organizar para responder com o nosso projeto radical a serviço de todos os oprimidos e explorados do país que queremos ir ao XIII Congresso dos Estudantes da Unicamp.

Nossos desafios são muitos. O CEU deve ser um espaço para todos os estudantes que não aceitam o projeto de universidades-empresa, do desemprego, do trabalho precário do Rappi e do Uber e do assassinato do povo negro e indígena, a serviço de impor que a maioria trabalhe até morrer sem nenhum direito em nome dos lucros deles. O CEU deve responder: como transformar a potência da juventude organizada, que sacudiu o Brasil no mês de Maio deste ano com as mulheres, negros e LGBTs na vanguarda, em uma força imparável capaz de movimentar os demais setores atacados por Bolsonaro? Para essa resposta, o movimento estudantil da Unicamp sempre esteve à frente contra os ataques à educação, mesmo quando vinham dos governos do PT, lutou contra o golpe institucional e se enfrentou com o elitismo das universidades estaduais, arrancando, junto aos movimentos sociais, as cotas e o vestibular indígena. Agora, mais do que nunca, também essas conquistas estão ameaçadas pelo projeto de Dória e Bolsonaro e temos de estar na linha de frente para responder.

Unificar a juventude nacionalmente: o futuro é nosso e não deles!

Por isso, nós da Faísca e do Pão e Rosas junto a estudantes independentes, batalhamos desde o início do ano por um CEU construído pela base, bem divulgado, com amplas discussões nos cursos, assembleias e reuniões para que os estudantes se coloquem como parte ativa da discussão, com suas ideias e reflexões, elegendo seus representantes. Não queremos um espaço formal, que "conste" na rotina do movimento estudantil. Se a UNE, dirigida majoritariamente pelo PT e pelo PCdoB, aposta em atos dispersos para cumprir calendário, descomprimindo a força dos estudantes enquanto negociam por cima com Maia e sua corja, qual força a partir de baixo devemos construir? Para estar à altura do desafio que é se enfrentar com o projeto de Bolsonaro, nossas entidades devem ser ferramentas que possam levar à frente grandes respostas, e isso passa por batalhar pela auto-organização, para que cada estudante seja sujeito, discutindo com qual programa e estratégia devemos enfrentar nossos inimigos nos espaços de base, e não que as decisões sejam tomadas nas reuniões de cúpulas de poucos.

O ano começou com cortes de 30% no orçamento das universidades, Bolsonaro e seus generais intervieram arbitrariamente na escolha de reitores, e esse governo está aprovando a Reforma da Previdência. Anunciaram uma nova reforma trabalhista (MP881), o Future-se e cortes nas bolsas de pós-graduação. Somos jovens de uma universidade que, apesar de atacada em uma das maiores pós-graduações do país, é uma das mais preservadas como “centro de excelência” frente à destruição que querem Weintraub e Bolsonaro para as universidades do Brasil, onde muitas já ameaçam fechar suas portas. Entretanto, não temos dúvida de que o projeto privatista que se apoia na precarização das universidades federais aponta o que está reservado ao conjunto das universidades públicas do país e devemos nos colocar na linha de frente para unificar nossa defesa da educação com as federais, com os estudantes da pós-graduação, os pesquisadores e futuros professores, e as demais estaduais paulistas.

Esse projeto privatizante busca submeter nosso conhecimento e a ciência ainda mais aos interesses dos grandes empresários, especialmente do ramo do agronegócio que coloca a Amazônia em chamas, e teve caminho aberto pela conciliação de classes do PT. Enquanto Bolsonaro aparece com seu projeto explícito de tornar o Brasil uma grande “fazenda do mundo”, ajoelhado a Trump e submetendo a educação aos capitalistas, outros países imperialistas como a França e Alemanha aparecem como “defensores do meio ambiente”, quando na verdade têm o mesmo objetivo de disseminar a degradação do planeta.

A saída para a crise da Amazônia e a crise ecológica de conjunto deve ser anticapitalista e anti-imperialista, e o ensino e a pesquisa cumprem nisso um importante papel. Contra os ataques na educação e na saúde, lutamos pelo não pagamento da ilegal dívida pública.

O projeto de país em curso é fruto do golpe institucional, que, articulado ao autoritarismo judiciário de Moro, da Lava Jato e do STF, prendeu Lula arbitrariamente. Marielle Franco é uma ferida aberta do Brasil de Bolsonaro. Por isso somos contra a prisão arbitrária de Lula sem prestar nenhum apoio político ao PT e lutamos por uma investigação independente há 1 ano e meio do assassinato de Marielle para chegar aos mandantes desse crime.

Abaixo a CPI das Estaduais e a repressão às festas: ocupar a universidade com política e cultura

Esse mesmo Judiciário, na Unicamp, chegou a censurar as aulas sobre o golpe organizadas em institutos e, com sua liminar, quer avançar contra as festas no campus. Sabemos que a censura que eles nos impõem tem um conteúdo: querem reprimir o movimento estudantil e desmoralizar nossos espaços, como se fossem a “balbúrdia” de Bolsonaro. Fazem um grande trabalho aos que desprezam as Humanas, atacam o marxismo e negam a ciência e as mudanças climáticas para avançar contra a autonomia universitária, arbitrando sobre as festas no campus e sobre as decisões da universidade. É para avançar contra o conhecimento crítico e calar os que se levantam contra seus planos que as universidades estão sob ataque.

Não aceitaremos nenhum tipo de censura e repressão! Assim como Bolsonaro ataca a UNE porque sabe da força em potencial que essa burocracia busca conter, na Unicamp é preciso ocupar nossos espaços com política, arte e cultura porque a partir daqui dizemos que nenhuma bienal, exposição ou expressão de resistência da juventude pode ser calada e que a autonomia universitária será defendida. Por isso, chamamos as entidades estudantis e principalmente o DCE a não abrirem mão desse combate e a de fato levarem adiante a necessidade de espaços de vivência, festas e festivais que se coloquem contra a repressão e enfrentem a política de esvaziamento da universidade em prol do produtivismo que está em curso.

No estado de São Paulo, João Dória sinalizou ao reacionarismo de Bolsonaro contra a suposta “doutrinação” nas escolas pedindo para recolher apostilas sobre identidade de gênero e sinaliza aos setores liberais da educação para transformar o ensino em formação para o trabalho precário, como é o Novotec que está implementando a Reforma do Ensino Médio a nível estadual. Seu governo, junto a deputados reacionários da Alesp, com o PSL, também está sendo fundamental para avançar com a CPI das estaduais e abrir caminho ao desmonte e privatização.

A reitoria da Unicamp tem se manifestado como defensor da autonomia universitária e se dispondo a arcar emergencialmente com parte das bolsas cortadas, mas se apóia na liminar da justiça contra as festas para ameaçar o movimento estudantil, não ampliará a moradia e segue precarizando os salários e as condições de trabalho na universidade, esteve junto a Bolsonaro na defesa dos fundos patrimoniais. A partir do Conselho Universitário, votou-se favoravelmente ao financiamento privado de pesquisas e laboratórios na Unicamp.

A única maneira de de fato combater esse projeto é colocando todo o aparato das universidades a serviço de uma mobilização massiva dos estudantes, funcionários e professores. Se quiser defender a autonomia universitária, Knóbel deve chamar uma assembleia universitária, liberando de suas atividades estudantes, professores e funcionários, que possibilite uma mobilização unificada e garantindo que nenhum lutador será punido.

Barrar essa ofensiva de Dória e da extrema direita às universidades é fundamental como parte de seguir as lutas para que as decisões dentro da universidade sejam tomadas de forma verdadeiramente democrática. É preciso avançar para defender uma universidade na qual as decisões não sejam tomadas pelo CONSU que expressa a inversão anti-democrática da realidade, a serviço das empresas, com maioria de professores, e sim por estudantes, funcionários e professores de acordo com seu peso na realidade.

Nós levantamos a necessidade de uma Estatuinte verdadeiramente livre e soberana, que permita a representantes eleitos nas unidades com debates democráticos e proporcionalmente à composição da universidade decidir o conjunto do projeto de universidade. Chega de debates de Estatuto pelas costas da maioria da universidade! Um projeto que possa garantir permanência a todos que precisam, ampliação da moradia, revogando o critério meritocrático nas bolsas e defendendo que todos os terceirizados sejam efetivados sem a necessidade de concurso público, em combate à precarização do trabalho.

Também é preciso avançar para radicalização do acesso e por uma universidade que sirva aos interesses dos trabalhadores e da população. Defendemos as cotas étnico-raciais junto ao fim do vestibular, ligado à estatização das universidades privadas e o fim dos convênios com as empresas, como a Unicamp tem com a Vale Assassina. Nosso conhecimento deve servir para pensar planos de reflorestamento, novos projetos de mineração, uma reforma agrária radical que ataque os lucros dos agronegócio e dos monopólios, e a demarcação de terras, em defesa dos povos originários.

Conformar um polo anti-burocrático e contagiar a classe trabalhadora: um Encontro Estadual de Educação convocado a partir da Unicamp

A UNE vem buscando desmoralizar a disposição da juventude, canalizando nossa disposição a uma estratégia meramente eleitoral impotente, tendo a UJS apoiado Maia na Câmara. O PT e PCdoB, estando em centenas de DCEs e CAs pelo país, por um lado, e milhares de sindicatos, por outro, impedem a auto-organização do movimento estudantil pela base, com centenas de assembleias e reuniões pelo país, e separam a luta da juventude da classe trabalhadora. Justamente por isso, o fato de estarmos em uma universidade em que o DCE e as principais entidades estudantis na Unicamp são dirigidas pela Oposição de Esquerda da UNE, com correntes do PSOL e PCB, deve nos fazer refletir sobre o papel que uma verdadeira Oposição ao controle burocrático das entidades poderia cumprir contra Bolsonaro.

A Unicamp poderia ser um polo que aglutinasse os estudantes e trabalhadores das universidades que querem lutar contra os ataques de Bolsonaro e Dória, expressando uma voz que exigisse um plano de luta e denunciasse a política levada adiante pela UNE e pelas centrais sindicais, que estão deixando grandes ataques passarem. Esse não é o papel que atualmente cumprem as entidades estudantis na Unicamp. Por isso, para que outras concepções se expressem e aprofundem a experiência dos estudantes com as distintas concepções no movimento estudantil: proporcionalidade no DCE.

Nesse sentido, nós assinantes desta Tese propomos que do Congresso votemos um grande Encontro Estadual de Educação a partir do estado de São Paulo, chamando o conjunto das universidades a um polo anti-burocrático. Uma política como essa, que propomos encabeçar junto ao DCE e às entidades estudantis, demonstraria que nossas entidades não estão apenas seguindo a rotina dos aparatos e das eleições, e sim querem organizar uma força real que faça a diferença nas lutas contra Bolsonaro. Não é hora de diálogos amigáveis com a extrema direita, como faz Freixo com Janaína Paschoal, e sim de radicalizar um projeto que possa apontar uma saída à crise contagiando a classe trabalhadora com a força da juventude.

Nosso futuro vale mais que o lucro deles! Que os capitalistas paguem pela crise!




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