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TRABALHADORES RESPONDEM | ’Por que não fui às manifestações do dia 13’

Nesta segunda-feira o Esquerda Diário deu voz a trabalhadores em seus locais de trabalho e perguntou porque não foram às manifestações do último domingo, 13. As respostas diferem entre si, mas todas têm algo em comum. A visão de que as manifestações servem aos interesses da oposição de direita, e de que a maioria dos presentes eram ricos e empresários não preocupados com os direitos dos trabalhadores.

terça-feira 15 de março de 2016 | 11:09

Foto: Marcelo De Franceschi

Confira abaixo trechos dos depoimentos.

Wellington, trabalhador do restaurante universitário, bandejão da USP:

"Então companheiro, eu não fui no ato porque, apesar de eu achar válido o ato em si, pelo que está acontecendo com nosso país, por ’disse me disse’, se aparece isso, se aparece aquilo... eu acho que esse movimento deste domingo que passou foi um movimento manipulado pela atual oposição do governo atual, assim, pelos bacanas do PMDB, dos partidos que são aliados a ele. Por isso que eu não participei e não achei válido o ato. Até mesmo pela classe que estava no ato, a maior parte era de pessoas que estudaram em escolas particulares, atrás de seus interesses próprios como sempre foi neste país. Principalmente aqui no nosso Estado de São Paulo onde há décadas uma minoria decide o que a maioria vai fazer ou deixar de fazer, quem vai ter ou quem não vai ter."

"Sou sim contra tudo o que está acontecendo no nosso país, to decepcionado, muito decepcionado, mas eu acho que tudo tem sua hora. Essa organização de domingo foi algo bolado pela oposição, então teve um ou outro pedaço que nem assistir eu quis assistir, de tão decepcionado que eu estou com a situação, e tem meia dúzia querendo se aproveitar desta situação."

"Se fosse para mudar algumas coisas eles [a oposição] não seriam as pessoas ideais, é o pouco que posso dizer sobre a minha falta de comparecimento neste ato."

Foto tirada durante manifestação do dia 13 no Rio de Janeiro

Arthur, trabalhador OTM 1 da Estação Luz do Metro de SP:

Não fui no ato de ontem, dia 13/03/2016, pedindo o impeachment de Dilma Roussef, pois, apesar de grande em números, não representa os anseios da classe trabalhadora e nem, ao menos, visa a "melhora da nação" (como esses manifestantes costumam dizer). Não fui e não vou nos atos como os de ontem, porque representam uma classe sem interesse social, só visam o próprio lucro, mesmo que a custas de muito sangue pobre e ainda estão servindo de massa de manobra de partidos da direita e extrema direita em seus jogos políticos pelo poder. O que, caso aconteça, só irá piorar a situação do trabalhador.

Simony Cristina do Anjos, trabalhadora da FFLCH-USP:

"Evidentemente os protestos não me representam e diria que há um enorme equívoco no clamor ao ’combate’ à corrupção. Do ponto de vista de uma mulher trabalhadora, foi humilhante ver nas ’palavras de ordem’, cartazes e posturas dos manifestantes, a misoginia incrustada na sociedade brasileira. Nesse novo ’projeto de Brasil’ a dignidade feminina não está em pauta, sendo assim, definitivamente não me representa."

Foto de Jair Bolsonaro na manifestação em Brasília (Foto José Cruz Agência Brasil)

Depoimento Tânia Paula, trabalhadora OTM 2 da Estação Santa Cruz do Metro de SP:

"Não fui e não dou apoio!
Os recentes atos que defendem o impeachment da presidente Dilma são convocados pela direita burguesa que em seus eixos mais bizarros exibem adeptos da ditadura militar, da homofobia, do racismo e de outras bizarrices. Não posso ter acordo com um movimento construído dessa forma, embora também não defenda a política de arrocho aos trabalhadores do Governo Federal.

Não ao PT, PSDB, PMDB, DEM, SOLIDARIEDADE e Congresso Nacional. Eu defendo uma alternativa construída e dirigida pelos trabalhadores.

Luiz Fernando, trabalhador OTM 2 da Estação Carandiru:

Ainda que exista uma melhoria na qualidade da reivindicaçao dos manifestantes, visto o rechaço a figuras politicas, religiosas e reacionárias, eu nao fui a Paulista porque não existe um elemento de classe orientando a massa a participar do ato com criticas ao sistema economico-politico no Brasil. A manifestacao capitaneada por organizacoes ligadas a direita nao se propõe a mudar e melhorar o nível de vida dos trabalhadores mais precarizados, não se opor as reformas constitucionais, fiscais, previdenciárias e trabalhistas que ameaçam encolher o conjunto de direitos dos que vendem sua força de trabalho e, principalmente, tais grupos compartilham de uma visão de mundo no qual para se chegar ao objetivo final, que é o impeachment do cambaleante governo Dilma, se aliam acriticamente a setores retrógrados nacionalistas: a maçonaria, militares, paramilitares como os "Carecas do Subúrbio" entre outros.

Carla Carvalho, operadora de trem da linha verde do Metro de SP:

"Eu não fui à manifestação pelo Impeachment da presidente Dilma não porque eu concorde com a política implementada por ela, muito pelo contrário. Sua política de ajustes à classe trabalhadora, seu projeto de aumento do lucro de empresários e banqueiros em paralelo com a redução de direitos do povo, não me representa! Apesar da minha discordância com a política petista, não considero que a manifestação do dia 13 aponte para uma alternativa popular, muito pelo contrário. O que eu vejo é uma apropriação oportunista por parte da direita da insatisfação da população com o objetivo de se vender enquanto a solução para os problemas sociais, econômicos e políticos, porém, partidos como o PSDB e PMDB que estão por trás da tentativa de impeachment da presidente são aqueles mesmos partidos que atacam cotidianamente os trabalhares em todas as esferas. Exemplo disso é o governador paulista Geraldo Alckmin que em 2014 demitiu 42 metroviários que lutavam por seus direitos, mesmo governo que fecha salas de aula, demite professores e que desvia o dinheiro destinado à compra de merenda a estudantes de escolas públicas."

Geraldo Alckmin e Aécio Neves no dia 13 em São Paulo

Heber, operador de trem da linha 1 do Metro de SP:

"Não fui ao ato porque defendo uma terceira alternativa para a situação do país. Frente a polarização PT e PSDB (que reflete mais do mesmo) e combinadamente com o cenário de crise político-econômica, que assola não só o Brasil como as grandes potências capitalistas e também os países periféricos, a resposta para a crise, dentro das minhas convicções, só pode ser dada pela classe trabalhadora auto organizada e com seus próprios instrumentos de luta."

"A luta tem que ser norteada, em um primeiro momento, pelo questionamento de todos os partidos aliados da burguesia, dos grandes empresários, dos grandes banqueiros, das grandes construtoras, dos especuladores que se beneficiam, sim, e muito, com crises sistêmicas do capital. Um basta a corrupção, tem que ser combinado com uma negação absoluta de todos os partidos (PT, PSDB, PMDB, entre outros), negar o Congresso Nacional, a estrutura de governo, a divisão dos poderes, etc., com os trabalhadores acenando neste cenário com suas demandas, lutando por um cenário mais justo e igualitário, algo que o sistema estruturado no modo de produção capitalista jamais poderá nos oferecer".

Depoimento de Andressa, operadora de trem da Linha 1 do Metro de SP:

"Um dos motivos pelo qual eu não tive nenhuma vontade de comparecer ao dia 13 é porque foi uma convocação feita pela direita, que não visam os interesses dos trabalhadores e só da elite, endinheirada, exploradora, que se vê ameaçada na verdade e não só tem claro o fato de que a corrupção é bem forte, mas que está vendo seus direitos ameaçados". "O problema maior também destas chamadas pela direita dessas manifestações a favor do impeachment é que também ela fere o Estado de Direito, porque elas querem o impeachment a qualquer custo, simplesmente porque não ganharam".

"Não dá pra participar de uma manifestação que é chamada pela elite e que não está visando o bem do povo e está se sentindo ameaçada pelo governo. Não que eu ache que o governo do PT é algo que vai, nossa, pelo povo e para o povo. Não, não acho isso. Acho que eles estão muito, muito aquém disso. Mas acho que isso que incomoda, não é só pela corrupção, mas por ter melhorado a vida de algumas pessoas, seja da forma que for, a burguesia, a classe alta, os ricos, os empresários se incomodam". "É basicamente isso. Não é uma manifestação pelo povo, para o trabalhador, para todas as classes".

Elves Fernandes, agente de correios:

"Não fui para as ruas no dia 13 pelas seguintes razões:

1 - Sou trabalhador e tenho consciência de classe

2 - Não quero uma saída pela direita, muito menos os militares

3 - Não sou hipócrita de protestar contra a corrupção seletiva

4 - Quero q mudanças sociais continuem a acontecer é não é destituindo esse governo e sim cobrando e lutando contras essas alianças feitas em prol de governabilidade, que sacrificam o povo que realmente precisa.

5 - As cores q visto quando vou as ruas protestar são em sua maioria vermelhas.

6 - Tinha mais o que fazer.

7 - Os corruptos no dia 13 estavam nas ruas

8 - A justiça não investiga outros corruptos e corruptores que não estejam ligados ao PT.

9 - O país vem mudando pra melhor nos últimos anos, melhorando a vida do trabalhador e lutando contra a corrupção.

10 - Sou contra o golpe."

Thiago Carioca, Trabalhador terceirizado da Firestone, Santo André:

"Ontem, 13 de março de 2016, milhares de pessoas nas ruas, expondo o ’ódio’ direcionado a Dilma Rousseff, com suas camisetas coloridas, seus filhos, empregadas e tudo mais". "Notei pessoas que ali estavam não para expor o ódio pela situação deplorável do nosso país, mas sim, para somar números, para que a estatística pudesse expor o número de pessoas que foram as ruas. Notei que mais parecia o Lollapalooza do que um protesto forte e determinado." "Me perguntam o porquê ’deu’ ter ficado em casa, já que o meu desemprego é fruto da crise criada por um regime político ineficaz e corrupto... E a resposta foi simples: Por muito tempo meu povo sofre; Por muito tempo meu povo passa fome; Por muito tempo meu povo morre; Por muito tempo os que realmente queriam mudanças e foram as ruas, os mesmos foram taxados de baderneiros! Muitos presentes no protesto desprezam a igualdade, seja ela de bens materiais, oportunidades de emprego, educação, moradia e etc. (O bem que muitos ali desejam são só pra eles, que se dane o resto, não é mesmo?). Muitos julgam o que a Dilma, Lula e os demais fazem, sem notar que o ato de querer a melhoria só pra si, os tornam semelhantes a eles.

Esse foi o motivo pelo qual não compareci, não vi verdade, não vi vontade, não vi garra.. Não vi o desejo pela igualdade que muitos militantes desejam."

Ricardo, trabalhador bancário de São Paulo

Diante do cenário político e econômico conturbado em que o país está imerso, tanto a imprensa como a justiça agem de forma parcial, pendendo para um lado, independente do viés político, não ficando claro quais os interesses representados nesta comoção e canalização de forças pró impeachment da presidente, essa eleita pela maioria dos cidadãos brasileiros. Ficando claro, apenas, que não são os interesses da maioria da população que serão representados, e sim mais um jogo sujo da política brasileira. Embora eu acredite que os manifestantes, em sua maioria, foram às ruas convictos de suas insatisfações, e dessa corrupção congênita da carta 1988, o jogo de interesses nos faz, apenas, meros fantoches.




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