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RACISMO | Porque Luana somos todas nós?

A história que conto hoje para vocês é mais uma história comum: Luana Santos, 34, negra, lésbica e periférica, mãe de um menino de 14 anos, brutalmente assassinada pela polícia militar do Estado de SP a poucos metros de sua casa. Uma história ser comum não faz dela neutra ou feliz. Isso porque no capitalismo, cruel e comum são quase sinônimos.

quarta-feira 27 de abril de 2016 | Edição do dia

Mãe da Luana

Porque quando saiu de casa, na noite do dia 8 de abril, Luana ia fazer algo comum. Levava seu filho de 14 anos para a aula de informática. Foi "comumente" parada por policiais que exigiam revistar sua moto e pertences. A narrativa aqui é muito confusa. Há uma narrativa oficial, aquela assinada pela delegada Patrícia de Mariani, na qual os policiais alegam que Luana os agrediu logo após sair da moto. Há a narrativa corajosa daqueles que, apesar da oficial, dão a cara a tapa e dizem que Luana já começava a ser agredida nesse momento.

O que se sabe é que Luana fez uma coisa pouco comum: exigiu que fosse revistada por uma mulher, porque apesar de não construir um gênero tipicamente "feminino", era mulher e tinha medo do abuso sexual. Seu pedido foi, comumente, recusado.

Luana levou porradas de cassetete, capacete, chutes e socos e foi, comumente, levada à delegacia sem direito a cuidados hospitalares apesar de estar visivelmente precisando deles. Ela vomitava sangue, líquidos brancos e amarelos, não conseguia ficar em pé, enxergar ou falar direito. Na delegacia, foi obrigada a assinar o Termo Circunstanciado que a acusava de ter cometido agressão contra os policiais, desacato e tentativa de fuga. Quem estava lá diz que isso não aconteceu. Mas isso também é comum. A justiça é cega para o povo. Para a polícia, é só ouvidos.

A verdade é que Luana "Não tinha nenhuma acusação contra ela. Por ser lésbica, negra e da periferia, com passagem pela polícia, ela já era considerada culpada”, como afirma sua irmã Roseli.
Luana foi internada dias depois com diagnóstico de AVC, e morreu no hospital por trauma crânio-encefálico. Os policiais que a mataram devem estar jantando um filézinho em plena segurança de seus empregos enquanto você lê esse artigo.

Como negra e lésbica, a morte de Luana soa como uma ameaça para mim, mas sei que não sou apenas eu que sinto também na morte dela o assassinato cometido contra o direito à diferença de gênero, de sexualidade, de contestação e de reivindicação de direitos. Essa ação policial está longe de ser uma exceção, o que demonstra que o maior crime social que vivemos - o genocídio da juventude negra - segue sendo uma cruel rotina em nosso país.

Os porquês não respondidos pela justiça racista e burguesa e o porque de ir à rua por uma alternativa independente dxs negrxs.

O fato de ter uma ficha criminal é usado contra Luana como uma maneira de dizer também que "bandido bom é bandido morto", discurso que só vale contra os miseráveis e não contra os grandes criminosos encastelados presidentes de câmara, deputados federais, acionistas e presidentes da Vale, ladrões da merenda.

O sistema judiciário, com seus símbolos "heróicos" como Sérgio Moro e suas manobras "justas" como a Lava-Jato, é um dos principais tripés que mantém o racismo vivo no sistema político brasileiro. Esse sistema se estrutura com suas forças ideológicas (as leis) e as forças materiais (a polícia, o sistema prisional), por onde o racismo passa como medidor de quem deve ser punido pelas leis e eliminado pelas forças policial e penal.

É por situações como a de Luana que, ao lado de exigir justiça pela sua morte, exigimos também que discursos como os de Bolsonaro, que no domingo retrasado reivindicou torturadores como Brilhante Ustra, sejam veementemente repudiados pelo conjunto da população, tarefa que só é possível à medida em que nos posicionamos claramente contra a posição política desses setores, que hoje constroem uma batalha palaciana pela deposição ilegal da presidente Dilma-PT, um claro golpe institucional.

Os métodos de Brilhante Ustra, torturador do regime ditatorial de 1964-1985 do Brasil, estão vivos nas polícias civis e militares de todo o país, pela via da impunidade aos torturadores, mas também pela manutenção do poder político nas mãos dos militares após a transição democrática. O que querem os políticos do golpe é um Brasil de muitas mais Luanas, um Brasil em que todas as negras, lésbicas e periféricas como nós sejam tratadas dessa maneira: varridas do direito de viver.
Nossa luta contra o golpe jamais poderia ser, entretanto, uma defesa do governo do PT. Este governo construiu uma base aliada de direita para manter uma suposta "governabilidade", paralisando os trabalhadores pela via do controle que exercem sobre os sindicatos dirigidos pela CUT e das entidades estudantis dirigidas pela UNE.

Vamos às ruas nesse 1º de maio no ato da CUT pois sabemos que, entretanto, reivindicar o "Fora Todos" como hoje faz a CONLUTAS, dirigida em grande maioria pelo PSTU, serve como uma política auxiliar à direita, como se o domingo em que Ustra foi lembrado com louvor fosse o início de uma suposta vitória para os trabalhadores. Vamos às ruas no ato da CUT, porém com bandeiras separadas, exigindo o fim dos ajustes, dos ataques, demissões, cortes na educação e na saúde e, decididamente, pelo fim da polícia e pela averiguação independente de todos os casos de "resistência seguida de morte". A saída para barrar a direita golpista é a luta independente dxs negrxs por cada uma de suas demandas mais sentidas, exigindo que nossos sindicatos construam lutas efetivas por cada uma de nossas demandas. Basta de atrelamento com os governos, basta de paralisia PTista, pelas Cláudias e Luanas: construir uma via independente de luta contra a direita golpista, os ataques dos governos e pelo fim da polícia.




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