×

IDEIAS NAS UNIVERSIDADES #2 - ESPECIAL UM ANO DO 15M | Por uma vanguarda jovem e trabalhadora no combate ao capitalismo da Covid-19, Bolsonaro e Mourão

Um debate sobre a necessidade da juventude forjar uma aliança com a classe trabalhadora na luta contra Bolsonaro e Mourão, em uma saída independente para a crise capitalista agravada pela pandemia do coronavírus.

Rosa Linh Estudante de Relações Internacionais na UnB

Luiza EineckEstudante de Serviço Social na UnB

sexta-feira 15 de maio de 2020 | Edição do dia

Já fazia tempo que uma crise econômica estava no horizonte de muitos economistas e estudiosos, bem antes da pandemia. A economia mundial vem de mal a pior desde 2008, e seus índices só vinham caindo, pouco a pouco, em quase todos os países. Depois do declínio do crescimento da China e, agora, com a pandemia do novo coronavírus, a economia mundial desmoronou em uma recessão histórica. Os capitalistas cumprem seu papel muito bem ao expropriar o trabalho de grande invenções como 5G, impressoras 3D, drones capazes de matar sendo acionados desde outro continente e os mais tecnológicos mecanismos para aumentar seus lucros. Contudo quando a questão é distribuir meros pedaços de pano, máscaras, a desculpa é que o dinheiro falta. A crise do COVID-19 só pode se desenvolver no auge da globalização capitalista, da exploração imperialista, do neoliberalismo que precariza os sistemas de saúde público mundo afora. O vírus chegou como um agente funcional para a bonapartização dos governos, mascarando as verdadeiras raízes dessa crise generalizada. É nesse panorama internacional que a juventude do século XXI se encontra, imersa na distopia: crises econômicas, surtos de depressão e ansiedade, coronavírus, ascensão de governos altamente racistas, misóginos e LGBTfóbicos. O vírus não escolhe classe, mas sabemos muito bem qual parcela da população será e já está sendo mais afetada, a classe trabalhadora, pobre, negra - e ao contrário do que se possa pensar, no Brasil há uma das maiores taxas de contágio e morte entre jovens e menores de 60 anos.

Mas são nos escombros da guerra de classes e da ideologia que se encontra uma inigualável potência, um verdadeiro exército: os estudantes secundaristas e universitários; as/os jovens trabalhadoras/res uberizados negras/os que passam 12 horas em cima de uma bicicleta a troco de quase nada; nas jovens mulheres sem direito ao aborto, sem direito ao próprio corpo; na juventude dos movimentos negro, LGBT e feminista; na juventude das favelas e morros - a efervescência da vida pulsa, a raiva do patrão grita, o que lhes falta é algo pelo qual possam se entregar por completo! É fato, a juventude é um grupo social extremamente heterogêneo, estando presente tanto no proletariado como na pequena-burguesia. Mas é essencial entender: existe uma grande parte dessa juventude que explode de raiva com as mazelas do capitalismo; que não aguenta mais o racismo, a LGBTfobia, o patriarcado; que quer ver serem botados para fora Bolsonaro e os militares; que querem ver apodrecer o imperialismo estadunidense; que a cada dia sentem raiva por tomarem mais e mais remédios dessa indústria farmacêutica podre e controladora de mentes e corpos; que chora com as inúmeras mortes, dia após dia aumentando, pelo COVID-19.

O capitalismo, mais e mais, se prova como um sistema grotesco, cuja única solução é ser destruído pela raiz. E é essa chama de raiva que acenderá a revolução. É a faísca da juventude - cheia de negras, mulheres, LGBTs, indígenas - que queimará o capitalismo, fazendo os trabalhadores do mundo inteiro triunfarem. Se lembrarmos, a história da luta de classes perpassa diversos momentos nos quais a juventude se aliou com a classe trabalhadora em episódios marcantes: a reação ao stalinismo na Primavera de Praga; a luta pelos Direitos Civis nos EUA; as manifestações mundiais contra a guerra do Vietnã; no maio de 68 na França; a resistência à ditadura militar brasileira, os exemplos não acabam. A vitalidade, a força, o sonho - são em momentos de crise como esse que não podemos deixar morrer o sonho de uma emancipação concreta.

O proletariado é o protagonista dessa luta - é ele quem tudo produz, é ele quem tudo pode parar, tudo pode destruir e transformar - fazer nascer uma sociedade nova. Mas a esmagadora maioria da classe trabalhadora está trancafiada pelas burocracias sindicais, desde as patronais como UGT e Força Sindical até a CUT e CTB, dirigidas pelo PT e o PCdoB - os mesmos que, juntos, fizeram um 1º de Maio com participação de Maia, FHC e Witzel. É preciso forjar, nesse sentido, uma profunda aliança entre a juventude e a classe trabalhadora - sendo capaz de se solidarizar nas greves, estando na linha de frente dos combates dos mais precarizados, ir para o chão de fábrica debater com humildade e olhos nos olhos das trabalhadoras e trabalhadores. A juventude tem muito a aprender com a classe trabalhadora e através de um esforço independente do pensamento, precisa criticar e não aceitar ideias prontas: é preciso assimilá-lo por nós mesmos. Aí está a importância da juventude, porque, ela sim, possui a potência e a capacidade de reinvenção.

O legado de luta, de sangue derramado rumo à vitória da verdadeira liberdade precisa ser recuperado e disseminado por toda juventude combativa. Isso só pode ser alcançado em uma aliança concreta, cotidiana e estratégica com a classe trabalhadora. Por isso, é inadmissível o que faz a atual direção da UNE, dirigida por PCdoB e PT - destruidores de sonhos e perspectivas de transformação da sociedade. Essa direção é um obstáculo na luta de nossa juventude; foram esses partidos que se aliarem com os reacionários da bancada ruralista, os fundamentalistas evangélicos e os militares, com as UPPs e a intervenção militar no Haiti, abrindo espaço para o golpe institucional e a extrema-direita. São muitos erros cruciais, erros que não podem mais ser cometidos. Hoje, gritam aos quatro cantos do mundo que já vivemos em um fascismo enquanto se aliam a direita dando passagem para Mourão assumir a presidência no momento em que pedem o impeachment - não podemos mais aceitar passivamente a ascensão desses militares, não se negocia com a burguesia, com a extrema-direita! A juventude precisa forjar, junto a classe trabalhadora, uma saída independente.

Por isso, precisamos de uma juventude revolucionária, com uma política estudantil de ataque que lute na guerra contra a burguesia. Nesse sentido, é preciso exigir o adiamento do ENEM; isso não é o bastante, é claro: é preciso pautar, também, o fim do vestibular e exigir o fim do EaD (em tempos de pandemia), ambos extremamente excludentes e racistas! É preciso lutar pela efetivação imediata das/dos trabalhadoras/res terceirizados e sem concurso público, bem como pela liberação remunerada de todos os trabalhadores de serviços não essenciais que ainda seguem trabalhando. Dessa forma, é imprescindível lutar pela suspensão de todas as atividades acadêmicas para que as universidades sejam convertidas em pólos de força material para o combate ao vírus, seja em pesquisa, em ações de solidariedade unificada e centralizada ou na luta combativa em aliança com as trabalhadoras e trabalhadores que hoje estão lutando - como no HU da USP ou na greve dos residentes do DF e de todo país. Todas essas reivindicações são possíveis de serem conquistadas quando a classe trabalhadora passa para o ataque, para a luta - e é por isso que a UNE precisa ser um mecanismo da aliança da juventude com o proletariado, com uma clara estratégia: a conquista do poder para a classe trabalhadora.

Por isso não podemos ter medo de levar adiante um programa de classe. É nesse sentido que a Faísca Revolucionária e Anticapitalista, juventude impulsionada pelo MRT e independentes, faz um chamado a outras juventudes revolucionárias e socialistas pelo Fora Bolsonaro e Mourão, debatendo qual a perspectiva para uma saída política independente e classista para a crise a partir de uma Assembleia Constituinte livre e soberana - para que o povo decida sobre os rumos da crise sanitária, econômica e política. Somos nós, jovens, aqueles que vão travar as maiores batalhas de nosso tempo e para isso não pode faltar otimismo revolucionário, auto-educação, disciplina e paixão.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias