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8 DE MARÇO | Por que o PSB de João Campos e Paulo Câmara é inimigo da luta das mulheres?

Nós mulheres precisamos construir nossa mobilização independente dos partidos dos patrões e aqui colocamos alguns elementos para refletir por que por mais que a mídia burguesa insista em se referir ao PSB como os "socialistas", sua prática política os coloca na trincheira oposta das que defendemos as lutas dos explorados e oprimidos.

Cristina SantosRecife | @crisantosss

quinta-feira 11 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

Foto: Valor, Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Entramos no terceiro ano do governo Bolsonaro e no quinto ano da concretização do Golpe Institucional de 2016, fatores de uma situação de país que provocou grandes impactos na vida das mulheres, especialmente das mulheres negras.

A unidade das distintas alas burguesas em 2016 para consolidação do golpe que impediria Dilma Roussef para acelerar os ataques sobre a classe trabalhadora e o povo pobre que o PT já vinha aplicando, se apoiou nos elementos mais reacionários da burguesia nacional, expresso no show de horrores que foi aquela sessão na câmara dos deputados dos dias 15 e 16 de abril daquele ano, exaltando a família patriarcal, em nome de deus, adorando torturadores. O cenário, os discursos, os comparsas de voto deveria dar embasamento suficiente para concluir que algo ali não cheirava bem, mas o objetivo de aprovar as reformas e as privatizações que viriam a degradar ainda mais nossas condições de vida e subordinar ainda mais o país aos interesses imperialistas, unificava todos aqueles setores.

Para recordar, o bloco do PSB na câmara, votou unanimemente pelo impeachment. O atual governador do Estado de Pernambuco, Paulo Câmara, era já membro da executiva do partido como seu vice-presidente, e o atual prefeito de Recife, João Campos, seu chefe de gabinete no governo do estado.

Achamos pertinente voltar a este breve recorrido para marcar que quanto à combinação de fatores que colocou Bolsonaro como chefe do executivo, parte da fatura pertence ao PSB. Também importante lembrar que desde o dia zero de seu mandato Bolsonaro teve como seu principal oponente as mulheres e a juventude, setores que expressaram seu rechaço com o uníssono “Ele Não”, também votando massivamente contra Bolsonaro e depois com a juventude e trabalhadores da educação que tomaram as ruas do país em março de 2019 no que seriam as primeiras grandes manifestações contra este governo.

Isso para termos em mente quem são nossos inimigos e com quem eles andam. Hoje, João Campos como prefeito da cidade de Recife, faz demagogia com um discurso feminista, prometendo cargos de liderança para mulheres em seu gabinete, mas não diz que votou a favor da Reforma da Previdência, que impacta diretamente a vida das mulheres que são maioria em postos precários e na informalidade; sendo a expectativa de vida de Pernambuco menor que a média nacional, sem falar que essa média esconde que nos setores mais marginalizados da população, a tendência é estar abaixo da idade mínima para a aposentadoria, como acontecem em muitos bairros na periferia de grandes cidades. No estado de Pernambuco também há o problema da informalidade, que no ano de 2019 representava a taxa de 48,8% da população ocupada, o que impacta diretamente na possibilidade de aposentadoria desses setores que inclui uma massa de mulheres.

Para somar a essa situação já bastante calamitosa, a pandemia desnudou as desigualdades que se expressam na divisão sexual do trabalho: no saldo dos postos de trabalho formais fechados durante a pandemia, 99,5% eram ocupados por mulheres. Sim, praticamente todos os postos formais perdidos durante a pandemia no estado de Pernambuco foram de mulheres, como já denunciamos aqui no Esquerda Diário.

Partimos de 2016, mas a afinidade do PSB com o centrão amigo de Bolsonaro é bastante atual. Na semana passada tivemos a votação para presidência da câmara de deputados, na qual o candidato bolsonarista Arthur Lira também recebeu o apoio do PSB, com João Campos chamando voto “por baixo”. Essa semana 15 deputados do PSB votaram favoráveis à urgência da autonomia do Banco Central, que concretamente significa deixá-lo à mercê da especulação do mercado financeiro, linha do ministro da economia de Bolsonaro, Paulo Guedes. Também está previsto para hoje o anúncio de um plano de ajuste fiscal com mais cortes nas áreas sociais.

Na gestão da pandemia, o PSB mostrou um total descaso, tendo Pernambuco despontado como um dos epicentros da Covid-19 no país e que hoje ocupa o 2º lugar no índice de letalidade da doença. No estado, mais da metade dos trabalhadores da saúde testados deram positivo, o que é expressão das condições precárias de trabalho a qual estão expostos, ao mesmo tempo em que há denúncias de políticos e empresários furando a fila para serem vacinados, tirando a dose que por direito pertence aos grupos de risco e trabalhadores da saúde, responsabilidade direta do PSB e que novamente atinge com mais força as mulheres, maioria entre os trabalhadores da saúde.

Ano passado, quando saímos às ruas para exigir justiça para Mirtes Renata, que perdeu seu filho Miguel por causa da desídia da patroa, a polícia que estava à postos para nos reprimir era a polícia do PSB. Lembremos também que o então prefeito de Tamandaré, marido de Sari Corte Real - a patroa que enviou Miguel para a morte no nono andar - pertence às fileiras do PSB e inclusive concorreu à reeleição por este partido. Vida que segue para a burguesia racista enquanto nós choramos nossos mortos.

Somos as mulheres que nos colocamos ao lado de Mirtes Renata na sua luta por justiça por Miguel; somos as que nos inflamos de ódio a cada momento que temos que passar pelo Cais da Santa Rita e olhar para aquelas torres onde sabemos que vive parte da burguesia racista do estado de Pernambuco, rindo do nosso pranto. Somos as mulheres que sabem que vai ter volta. Temos a força das mulheres que se colocaram na frente do hospital onde uma criança de 10 anos teve que recorrer a um aborto e colocamos a extrema direita de Damares Alves, Sara Winter e Clarissa Tercio pra correr. Na força destas mulheres é que nos apoiamos.

Por todas estas razões, não podemos depositar nenhum grão de confiança na gestão do PSB e em qualquer discurso demagógico de João Campos sobre as mulheres. Assim também como não podemos depositar nenhuma ilusão na figura de Marília Arraes que mostrou estar disposta a todo tipo de alianças com a extrema direita para fazer oposição ao PSB e nem na política de conciliação do PT, que durante seus governos fortaleceram os mesmos setores que protagonizaram o já mencionado show de horrores de 2016. Como bem colocamos neste artigo “Alimentou-se o diabo e agora estranha-se os chifres que foram afiados primeiro por Temer e agora por Bolsonaro, Maia, STF e outros”. Sabemos muito bem que não há saída para nossa classe conciliando com nossos inimigos.

Precisamos construir um 8 de Março de luta, independente dos governos e dos patrões, se apoiando na força das mulheres trabalhadoras da saúde, dos transportes, da logística que estão durante todo esse tempo de pandemia mostrando que é a classe trabalhadora que pode dar uma resposta para a crise. Nos colocamos na perspectiva de um movimento de mulheres que somem junto aos trabalhadores rodoviários que se colocaram de pé contra a precarização do transporte público, com as trabalhadoras da saúde de fizeram uma greve no começo da pandemia para denunciar o descaso do governo com a saúde pública.

Temos o exemplo da luta das mulheres argentinas, que conquistaram o direito ao aborto e no qual podemos nos apoiar para impor a nossa agenda aqui no Brasil e salvar a vida de centenas de mulheres, em sua maioria negras, que morrem ou ficam com sequelas irreversíveis em consequência da clandestinidade. Construamos um 8 de Março de luta nas ruas e com todas as medidas de segurança sanitária, contra Bolsonaro, Mourão e todo regime golpista! Com a força das mulheres trabalhadoras na linha de frente, exigindo justiça por Miguel e pelo nosso direito a decidir sobre nossos corpos, com direito ao aborto legal, seguro e gratuito. O grupo de mulheres Pão e Rosas e o Esquerda Diário nos colocamos à serviço desta perspectiva.




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