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ED Rodoviários | Por que o PDV é um enorme ataque aos trabalhadores da Carris e ao transporte público?

A proposta de Plano de Demissão Voluntária (PDV) para a Carris foi aprovada pela CCJ da Câmara de Porto Alegre, no último dia (27). Contou com votos favoráveis dos partidos base do governo Melo (DEM, PL, PSDB) e também partidos da oposição (PT e PSOL). Neste texto mostraremos como o PDV é um ataque brutal è empresa, às relações de trabalho e deve ser combatido pelos trabalhadores e demais setores da esquerda.

terça-feira 31 de agosto de 2021 | Edição do dia

Sebastião Melo (MDB), o prefeito de Porto Alegre e seguidor de Bolsonaro, vem afiando suas armas contra os rodoviários da cidade. Seguidamente coloca a responsabilidade da crise do transporte público da cidade nas costas da Carris, a única empresa pública de transporte ainda em atividade nas capitais do país. Alega que a empresa da prejuízo, que seus trabalhadores colocam muitos atestados, entre tantas baboseiras para justificar entregar a Carris nas mãos de seus amigos empresários do transporte.

A proposta de PDV do governo de Melo surge com a justificativa fajuta de que a Carris dá prejuízo. Seguindo a mesma lógica, o presidente do sindicato dos rodoviários (Stetpoa), Sandro Abade, defendeu que os rodoviários estão dispostos a "dialogar" com o prefeito e construir o PDV em conjunto, como já havia defendido antes. Como apontado no inicio, Pedro Ruas (PSOL) e Leonel Radde (PT) votaram a favor do parecer na CCJ.

Fato é que o PDV é um enorme ataque aos trabalhadores da Carris e ao transporte público de conjunto e precisa ser combatido pelos rodoviários e o conjunto da esquerda.

Na emenda da vereadora Cláudia Araújo (PSD), sobre o PDV, diz que:

"A presente emenda tem o objetivo de fornecer diferentes possibilidades para os trabalhadores desta categoria que será gradativamente extinta".

Ou seja, o PDV é uma forma de desmontar a categoria e avançar no plano de acabar com cargo de cobrador, o que irá gerar ainda mais desemprego na cidade. Prova também que privatizando a Carris, fica ainda mais fácil de acabar com os cobradores e atacar as isenções.

Além disso, o PDV é uma ferramenta que patrões e seus governos utilizam para atacar e precarizar a vida dos trabalhadores. Um dos casos que podemos citar ocorreu no Metrô de São Paulo, onde o governo da época (Alckmin/PSDB), alegava que precisava privatizar uma das linhas, aplicar o PDV como um "mecanismo moderno de gestão" e que não iria afetar os usuários do metrô. Na prática, após inúmeras demissões, não ocorreram o mesmo número de contratações, o que levou a sobrecarga de trabalho dos que ficaram e aumentou o sucateamento do transporte público. Outro exemplo é a Caixa Econômica Federal, que mesmo batendo recordes de lucro aplicou PDVs ao longo de anos, demitindo mais de 10 mil trabalhadores. Aplicou a reforma trabalhista e a terceirização irrestrita, substituindo os antigos contratos trabalhistas por bancários terceirizados e temporários.

Na Carris não será diferente. Os rodoviários que não entrarem no PDV terão uma sobrecarga enorme de trabalho. O último concurso público para a Carris foi atacado por Melo logo em sua posse, cortando mais de 100 vagas antes disponíveis. Mesmo com as apenas 10 vagas do concurso para cobrador, ainda assim até hoje ninguém foi chamado. E seguindo a lógica anterior, o contrato desse concurso era temporário, valendo por 1 ano, podendo ser prorrogado por mais 1.

Não tenhamos dúvidas de que após o PDV, virá não somente a sobrecarga de trabalho como a aplicação da terceirização e contratos temporários. Isso será um duro ataque à organização sindical da categoria, facilitando demissões e perseguições políticas por parte da patronal e dividindo a categoria entre efetivos e temporários/terceirizados. Assim, facilitando ainda mais para a patronal arrochar o salário, cortar benefícios e todos tipo de abuso nas garagens. Esse impacto será evidente desde o trabalhador até o usuário do transporte.

Não é nenhuma novidade que a direção do sindicato está traindo a categoria. Agora, partidos da oposição a Melo (PT e PSOL) se posicionaram a favor do PDV na CCJ. Tratam o PDV como uma espécie de ’moeda de troca’, como se fosse possível substituir a privatização pelo PDV. É preciso denunciar esse ataque brutal de Melo e dizer a verdade ao conjunto dos rodoviários da cidade. O PDV faz parte do projeto de privatização da Carris, fim dos cobradores e ataque às isenções.

A Carris esteve por anos na vanguarda das principais lutas na cidade de Porto Alegre. Em 2011, parou durante 4 dias; em 2013 parou; em 2014 parou 15 dias; 2017 parou; e em tantos outros momentos os trabalhadores da Carris mostraram força e coragem. Na semana passada não foi diferente. É a última barreira entre um transporte público de qualidade e a desgraça que é a gestão privada dos transportes na cidade. Os vereadores do PSOL, PT e PCdoB deveriam estar construindo uma grande campanha de apoio à luta dos rodoviários, impulsionando através de suas figuras, centrais sindicais (CUT, CTB, INTERSINDICAL, CSP-CONLUTAS) um fundo de greve para que os rodoviários não fiquem refém das chantagens da patronal e prefeitura.

A única via de derrotar os planos privatistas de Melo e dos empresários do transporte é confiando em nossas próprias forças, dos rodoviários em unidade com os usuários do transporte. São os rodoviários quem realmente sabem as necessidades do transporte. Melo e sua turma da ATP tem apenas o interesse parasita de lucrar nas nossas costas. Por isso é necessário lutar contra a privatização da Carris, contra o fim dos cobradores e por um transporte 100% Carris sob controle dos trabalhadores e usuários.




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