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Movimento estudantil | Por que defendemos assembleias de base e comando nacional de delegados?

Após as manifestações do último sábado, nós da Faísca temos defendido que a disposição de luta que se expressou em mais de 100 mil pessoas tomando as ruas no país ao contrário de ser desperdiçada, precisa ser potencializada, e que por isso são necessárias e urgentes assembleias de base em cada universidade, onde os estudantes tenham direito à voz e voto e que estas votem construir um comando nacional de delegados eleitos em assembleias, que possam definir os rumos da mobilização. Apesar da ampla receptividade para estas propostas, assim como para nossos cartazes que diziam “Fora Bolsonaro, Mourão e militares!”, é difícil imaginar como isso se daria na prática. Neste texto buscamos desenvolver o como e o porquê.

Marie CastañedaEstudante de Ciências Sociais na UFRN

sexta-feira 4 de junho de 2021 | Edição do dia

A dificuldade em visualizar como seria possível uma organização verdadeiramente democrática da luta nacional contra os cortes na educação, Bolsonaro e os demais ataques se conecta com o fato de que tanto a direção majoritária da UNE (UJS, Juventudes do PT e Levante Popular da Juventude), quanto infelizmente a Oposição de Esquerda (Correnteza, Juntos, Afronte, UJC) tem uma atuação que vai na contramão de uma auto-organização democrática, isso ficou demonstrado com as assembleias-live implementadas pela UJS na UFF e em todo o país, o principal entrave para a auto-organização dos estudantes. Mas tragicamente também pela Oposição de Esquerda na UNIFESP, sem direito a voz e voto para os estudantes, e agravado na última terça-feira, quando a página do instagram Povo na Rua - Fora Bolsonaro, com a UP (Correnteza) e o MES-PSOL (Juntos) junto ao Glauber Braga convocaram uma assembleia na qual era impossível falar. No mesmo dia, a diretoria da UNE, eleita há dois anos, decidiu que a conclusão natural do 29M não é organizar a luta desde as bases democraticamente, levando os próprios estudantes a serem sujeitos da luta, mas definir datas para um congresso extraordinário e que o próximo dia de manifestações é o dia 19 de junho, um sábado. Não é tempo de atos rotineiros aos sábados, é tempo de parar todas as universidades e institutos federais para impedir sua precarização ainda maior.

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A maior unidade possível entre estudantes e trabalhadores é mais do que essencial para que possamos enfrentar os cortes nos institutos e universidades federais que são parte de um plano de ataques no qual Bolsonaro, Mourão, os militares, o STF e o Congresso Nacional estão unificados. Isso inclui a Reforma Administrativa, a demissão em massa sem acordo coletivo, a destruição da Amazônia e os ataques de garimpeiros aos Yanomamis, demissões e a privatização da Eletrobrás e dos Correios.

Viemos defendendo a existência de assembleias de base, com direito a voz e voto para os estudantes, em cada universidade e curso para definir com qual conteúdo os estudantes vão lutar e como, unificando nossa luta nacionalmente. Isso é essencial para que os estudantes possam tomar a luta nas próprias mãos. Muitos DCEs e entidades estudantis se recusaram a promover estes espaços de auto-organização, ou garantiram falas longuíssimas para representantes da UNE e para as Reitorias, mas não para os estudantes. A existência de assembleias permite com que os estudantes troquem opiniões e posições e votem democraticamente os encaminhamentos, como fizeram os estudantes da UFMG por exemplo, garantindo o direito de levar a defesa de “Unir estudantes e trabalhadores dia 29 por Fora Bolsonaro e Mourão” por exemplo.

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Agora, após o 29M, depois de toda força que demonstramos nas ruas, vemos a decisão dos rumos da mobilização ser arrancada das nossas mãos. Por um lado, a Diretoria da UNE se reúne e define que a próxima data de manifestação é o dia 19 de Junho, pleno sábado, sem nem sombra da convocação massiva de assembleias de base que possam servir de fato para organizar os estudantes, por outro lado a Unidade Popular e o MES-PSOL realizam live que chamam demagogicamente de assembleia sem permitir nem mesmo o acesso ao Zoom para aqueles que já tinham informado querer fazer uso da fala.

Defendemos as entidades estudantis como ferramentas de luta e organização dos estudantes, o movimento estudantil que apesar da atomização e ataques impostos pelo Ensino Remoto busca se reerguer, não é possível que seja essa Diretoria defina os rumos da mobilização. A UNE é uma entidade nacional de importância histórica, precisaria ser a primeira a defender que se formasse um Comando Nacional de Delegados de Base. Cada assembleia estudantil poderia votar delegados na proporção de 1 a cada 40 ou 50 estudantes, por exemplo, responsáveis por levar para as reuniões de Comando Nacional as deliberações de cada assembleia e defender seu conteúdo. Estes delegados precisam ser revogáveis, como garantia de que as posições votadas em assembleia se expressem no comando nacional. O direito de definir o conteúdo e os rumos da mobilização são uma questão política de primeira importância. Isso sim permitiria uma experiência política profunda e acelerada para preparar grandes combates.

A convocação do Congresso Extraordinário da UNE indica uma renovação dos nomes da sua diretoria, para uma gestão provisória e curiosamente (ou não) não possui uma palavra sequer sobre eleição de delegados, anunciando um congresso formal, no qual a força dos estudantes que despertam para a necessidade de um movimento estudantil combativo e ligado aos trabalhadores, que ingressaram em meio à pandemia e odeiam Bolsonaro, Mourão, os militares e cada instituição deste regime apodrecido possam fazer pesar suas posições para batalhar por elas. Como é possível se contentar uma troca formal entre as figuras anteriores e novas das correntes que não inclua revolucionar a entidade para que esta esteja à altura dos desafios colocados, com os ventos da luta de classes internacional batendo às nossas portas? A UJS quer impor este congresso que vá na contramão de organizar os estudantes de fato desde as bases e frente a isso, chamamos a Oposição de Esquerda a se somar conosco na batalha por assembleias de base em cada universidade e por um comando nacional de delegados e que este seja o caminho que construa um congresso extraordinário com razão de ser, que revolucione o movimento estudantil.

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O conteúdo político das correntes que compõe a Diretoria da UNE explica a lógica ordeira, para que nada saia do controle rumo às eleições de 2022. O “não podemos esperar 2022” se transforma em mera frase de efeito para encobrir sua política, que para todas sem exceção termina em “Impeachment JÁ!”, apostando a confiança da juventude em que Mourão é um suposto mal menor e buscando disfarçar uma saída institucional que só poderia se dar em 2022.

A UJS, juventude do PCdoB e maior corrente da entidade, está em negociação com ninguém menos que o PSB para superar a cláusula de barreira, partido de Paulo Câmara, governador de Pernambuco cuja repressão cegou dois trabalhadores no 29M em Recife. O PT, enquanto Lula perdoa golpistas e anuncia a abertura para privatizações, buscam se cobrir pela esquerda com figuras como a deputada federal Natália Bonavides, novamente com o Impeachment. Estas duas organizações dirigem a CUT e a CTB respectivamente, tendo convocado um dia de luta separado no dia 26, precisamos exigir que organizem as bases de trabalhadores para estarem conosco nas ruas no dia 19.

Já a Oposição de Esquerda, além de votar contra esta exigência em todas as assembleias que propusemos, como no CACH-UNICAMP, com o Afronte e o Juntos, e na Ciências Sociais da UFRN, com a Correnteza, por trás de um discurso combativo caem na mesmíssima política, majoritariamente votando contra também a menção de Mourão nos blocos dos cursos. Esta política está à serviço de desgastar Bolsonaro, aumentar a confiança na CPI, colocando a diretamente nas suas faixas como faz o Afronte e preparar a corrida eleitoral de 2022 com Lula diretamente no primeiro, ou definitivamente no segundo turno, enquanto os ataques seguem sendo aprovados hoje e novamente, os que fizeram o golpe em 2016, perdoados por Lula. Chamamos a Oposição de Esquerda a romper com esta política que só serve às correntes majoritárias que querem o movimento estudantil passivizado, não podemos permitir isso.

Precisamos de um movimento estudantil combativo e disruptivo, que queira se ligar profundamente à classe trabalhadora para desafiar o poder junto à ela. Não resgatamos Maio de 68 à toa, sabemos que o capitalismo e seus governos não tem nada a nos oferecer, como dizia a Geração Z estadounidense “somos a geração que vai fazer a revolução” e por isso convidamos todes nossos leitores a compartilhar a batalha por um movimento estudantil profundamente anti-burocrático e democrático conosco, por assembleias de base e um comando nacional de delegados imediatamente.

Vem pras atividades estaduias da Faísca!




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