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ESQUERDA | Por que a direção do PSOL nega a entrada do MRT?

Exigimos uma resposta oficial da direção do PSOL sobre o pedido de entrada do MRT no partido.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

quarta-feira 16 de agosto de 2017 | 16:20

Diante da crise do PT o PSOL vem anunciando sua vontade em ser um polo aglutinador das organizações políticas e ativistas que se reivindicam socialistas e revolucionários. Em nota, a Executiva Nacional do PSOL declarou no dia 10 de dezembro de 2016 que o PSOL "(...) deve ser um porto generoso para todos os segmentos dispostos a reconstruir no dia-a-dia das lutas e nas eleições um projeto de esquerda, radicalmente democrático e com independência de classe", e seguem "(...) devemos nos propor a ser um porto seguro e democrático a todos os que querem reconstruir a esquerda no país por meio de um projeto que faça um ajuste de contas com os erros, reconheça avanços e aponte mudanças de práticas e de programa para a nova conjuntura que atravessaremos no país".

Este discurso de unidade orientava uma nova postura frente às decisões congressuais anteriores, como se expressou na convocatória ao 6º Congresso Nacional do PSOL: "Os acontecimentos políticos e econômicos recentes e os acertos dos posicionamentos partidários credenciaram o PSOL enquanto um importante polo para a necessária reorganização da esquerda brasileira no chamado pós-petismo no governo nacional. Esse será, certamente, um tema que deverá galvanizar a atenção e as energias militantes neste ano, desembocando em decisões congressuais que garantam uma ampliação qualificada dos quadros partidários, conquistando todos aqueles e todas aquelas que sonham em reconstruir o sonho de mudança social em nosso país".

Entretanto, este discurso da direção do PSOL se contrasta com sua atuação na prática. Para construir uma alternativa de massas ao PT são necessários métodos sérios. O PSOL se negar a dar respostas oficiais ao MRT há dois anos, com fundamentos claros, não corresponde a essa necessidade.

Nossa organização, o Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) em seu I Congresso no ano de 2015, após enviar uma primeira carta à Direção do PSOL em 27 de maio de 2015, votou pelo pedido de entrada no PSOL, considerando que, naquele momento, após as jornadas de junho o PSOL se alçou como a principal referência à esquerda do PT. Estive em reuniões com dirigentes de várias tendências internas, como a Ação Popular Socialista, Insurgência e Movimento Esquerda Socialista apresentando essa proposta; assim como também nos reunimos com outras correntes e com parlamentares que se manifestaram favoráveis a nossa entrada. Este primeiro pedido oficial a partir do I Congresso entretanto nunca foi respondido oficialmente pelo PSOL, apesar da ampla campanha e simpatia de milhares de ativistas do conjunto da esquerda em todo o país que entendiam nosso pedido como uma tentativa de avançar na difícil tarefa de batalhar pelas ideias revolucionárias chegando a setores muito mais amplos.

O golpe institucional reembaralhou as posições do conjunto da esquerda. O PSOL se dividiu, com sua principal figura pública Luciana Genro, ex-candidata a presidente em 2014, encabeçando uma posição de apoio envergonhado ao impeachment e de defesa da Operação Lava Jato. Ainda assim, a maioria do PSOL se posicionou corretamente contra o golpe institucional.

Neste momento se expressou o caráter amplo do partido, e a possibilidade de comportar posições antagônicas em meio a um dos mais importantes processos nacionais das últimas décadas. O MRT foi uma das poucas organizações externas ao PSOL que batalhou por uma decidida posição contra o golpe institucional de forma independente do PT, chegando em centenas de milhares através do Esquerda Diário.

Esta confluência com a posição majoritária das correntes do PSOL permitiu uma nova discussão sobre a nossa entrada, desta vez avançando diretamente para uma experiência em torno das filiações democráticas nas eleições em 2016. Em 5 cidades, o MRT apresentou candidaturas pelo PSOL: Carolina Cacau no Rio de Janeiro (1842 votos), Diana Assunção em São Paulo (3590 votos, a 11ª mais votada do PSOL na cidade), Maíra Machado (1496 votos, a mais votada do PSOL no ABC e a 41ª vereadora mais votada da cidade de Santo André), Flávia Valle em Contagem (693 votos, a mais votada do PSOL na cidade e proporcionalmente a quinta mais votada da esquerda na região metropolitana de Belo Horizonte) e Danilo Magrão em Campinas (1009 votos, o 4º mais votado do PSOL na cidade). No Rio de Janeiro, durante o segundo turno, atuamos na campanha de Marcelo Freixo com um perfil anticapitalista, em combate frontal com o candidato Marcelo Crivella chegando a mais de 200.000 acessos no Esquerda Diário somente nesta cidade.

Nossa campanha comprovou a possibilidade de, como parte do PSOL, defendermos nossa política revolucionária batalhando por um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo. Ao mesmo tempo, as divergências dentro do PSOL, que ao contrário de serem internas foram intensos debates públicos entre as correntes durante todo o ano de 2016, habilitam a possibilidade de que nós também sejamos parte destes debates, colocando nossas opiniões e críticas, ao mesmo tempo em que possamos confluir nas posições que concordamos. Nenhuma polêmica apresentada por nossa corrente poderia ser considerada por alguém em sã consciência como mais grave que um apoio envergonhado ao golpe institucional, posição esta que existiu dentro das fileiras do PSOL, não por um grupo recém-ingresso, mas pela ex-candidata a presidente Luciana Genro.

Após nosso II Congresso, realizado em março deste ano, enviamos ao Diretório Nacional do PSOL uma nova carta – que reproduzimos abaixo, pela primeira vez publicamente – solicitando novamente a nossa entrada no partido. Em novas conversas com dirigentes de correntes internas do PSOL, das quais na maioria participei pessoalmente, buscamos o diálogo para colocar nosso ponto de vista sobre a situação nacional e o fato de que, frente à entrada em cena da classe trabalhadora na política nacional, a Reforma Política para calar a esquerda e o acelerar dos ataques por parte do governo golpista, nos parecia ainda mais urgente chegar a uma definição sobre nosso pedido. Nos chama atenção que alguns poucos militantes do PSOL e do MAIS estejam difundindo e corroborando uma mentira sobre uma suposta exigência de nossa parte em querer impor uma entrada com participação plena no Congresso do PSOL que ocorrerá em dezembro deste ano: ao contrário, não somente não colocamos nenhum tipo de condição organizativa, como informamos a todos os dirigentes do PSOL com quem nos reunimos que não exigiríamos inclusive a participação em organismos de direção do partido num primeiro momento, caso lhes parecesse que isso poderia alterar a correlação de forças interna construída pelas correntes. Perguntamos a estes poucos militantes do PSOL e do MAIS que informem algum documento que comprove esta informação mentirosa que estão disseminando pelas redes sociais. Como não existe nenhum documento falando isso, só podemos acreditar que alguns poucos querem inventar motivos pra justificar o injustificável, ou seja, evitar a discussão que explique por que uma corrente revolucionária como o MRT não pode ser parte de um partido que, como já apontamos em suas próprias palavras "(...) deve ser um porto generoso para todos os segmentos dispostos a reconstruir no dia-a-dia das lutas e nas eleições um projeto de esquerda, radicalmente democrático e com independência de classe".

Portanto, consideramos que a esquerda precisa ser séria e trabalhar com critérios e fundamentos políticos claros se quer verdadeiramente construir uma alternativa de massas à esquerda do PT que tire conclusões do que significou a experiência deste partido.

Há uma contradição, que a direção do PSOL deveria explicar, entre este discurso “generoso” e de unidade dos setores à esquerda do PT, e o veto a uma organização revolucionária como o MRT. Contrasta a seriedade com a qual o MRT vem buscando a entrada no PSOL há mais de 2 anos, e a falta de respostas oficiais, e até mesmo públicas, da direção do PSOL com fundamentos políticos claros, o que constitui uma postura infantil.

Há alguns dias o MAIS, jovem organização que vem de uma ruptura com o PSTU a partir de rechaçar a posição de apoio ao golpe institucional, anunciou sua entrada no PSOL. Assim como em relação a outras correntes internas do PSOL, temos debates públicos e divergências com a política desta organização. Isso não nos impede de reivindicar a entrada do MAIS no PSOL, caminho que consideramos correto apesar de discordar da política de apoio às Diretas Já e de adaptação às burocracias sindicais durante as grandes paralisações nacionais no país. Mas a direção do PSOL precisa responder quais foram os critérios para aceitar a entrada do MAIS e seguir negando a entrada do MRT sem nenhuma resposta clara e séria.

Ao mesmo tempo tomamos conhecimento de uma notícia escandalosa em matéria disseminada pelo jornal O Globo que informa a entrada de um grupo de policiais do Rio de Janeiro no PSOL, informação confirmada por Freixo nas redes sociais. Os militantes do PSOL e toda a vanguarda não consideram chocante a possibilidade de um grupo de policiais entrarem no partido, enquanto a companheira Carolina Cacau, que foi candidata pelo PSOL no Rio de Janeiro e é uma das principais ativistas da UERJ em greve neste momento, é negada pela direção do PSOL?

Consideramos necessário um método fraterno de discussões políticas transparentes e critérios claros como uma condição para que as organizações políticas à esquerda do PT possam unir forças na luta de classes e impedir que a experiência das massas com o PT resulte em desmoralização e fortalecimento da direita. Os esforços do MRT para confluir na luta de classes, e todos os debates políticos e polêmicas, estão a serviço desta perspectiva.

Esperamos uma posição oficial da direção do PSOL.

*Diana Assunção é dirigente nacional do MRT e foi candidata a vereadora de São Paulo pelo PSOL nas eleições de 2016. É também diretora de base do Sindicato dos Trabalhadores da USP. Fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas, escreveu o prólogo do livro “Mulher, estado e Revolução” de Wendy Goldman e é organizadora do livro “A precarização tem rosto de mulher”, entre outras publicações.

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CARTA AO DIRETÓRIO NACIONAL DO PSOL

Vivemos um momento nacional marcado por um enorme plano de ajustes do governo golpista de Temer, que avança com sua reforma trabalhista e da previdência, além de outros ataques importantes contra a classe trabalhadora e o povo pobre. O golpe institucional que ocorreu no Brasil em 2016 permitiu avançar e aprofundar ajustes que o PT em seu governo já vinha aplicando. O último dia 15 de março mostrou a força da classe trabalhadora começando a entrar em cena, apesar do freio da maioria das centrais sindicais. Esta situação onde o petismo busca se recompor para o projeto Lula 2018, recoloca a necessidade de uma alternativa independente.

Neste contexto, consideramos importante remarcar que foi correta a posição que a maioria da esquerda e do PSOL teve contra o impeachment. Nós do MRT nos posicionamos contra o golpe institucional, de forma independente do PT e sempre com uma política de exigência às centrais sindicais para que organizassem uma resistência efetiva e adotando uma postura crítica à Lava Jato. Acreditamos que esta exigência agora, no momento em que se aceleram os ataques e após o dia 15 de março, se torna uma questão vital para uma verdadeira resposta da classe trabalhadora com sua própria auto-organização.

Além da luta contra o golpe institucional, que nos colocou atuando na mesma trincheira num momento divisor de águas para a política nacional e para a esquerda, em 2016, tivemos a oportunidade de lançar candidaturas através de filiações democráticas pelo PSOL em 5 cidades: Carolina Cacau no Rio de Janeiro (1842 votos), Diana Assunção em São Paulo (3590 votos, a 11ª mais votada do PSOL na cidade), Maíra Machado (1496 votos, a mais votada do PSOL o ABC e a 41ª vereadora mais votada em Santo André), Flávia Valle em Contagem (693 votos, a mais votada do PSOL na cidade e proporcionalmente a quinta mais votada da esquerda na região metropolitana de Belo Horizonte) e Danilo Magrão em Campinas (1009 votos, o 4º mais votado do PSOL na cidade). Consideramos que foi uma importante experiência onde nós enquanto organização revolucionária pudemos, utilizando democraticamente a legenda do PSOL expressar nossas ideias de independência de classe na luta por um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

A combinação da crise do PT com a enorme situação de ataques, cuja resistência operária se potencializou nas últimas semanas, coloca o PSOL como principal partido à esquerda do PT, e por isso o PSOL tem hoje uma importante responsabilidade de aglutinar os setores que se reivindicam socialistas e anticapitalistas. Como expressam na convocatória do Congresso: "Os acontecimentos políticos e econômicos recentes e os acertos dos posicionamentos partidários credenciaram o PSOL enquanto um importante polo para a necessária reorganização da esquerda brasileira no chamado pós-petismo no governo nacional. Esse será, certamente, um tema que deverá galvanizar a atenção e as energias militantes neste ano, desembocando em decisões congressuais que garantam uma ampliação qualificada dos quadros partidários, conquistando todos aqueles e todas aquelas que sonham em reconstruir o sonho de mudança social em nosso país".

Por outro lado, se reforça o caráter democrático do PSOL diante da reforma política, como se aponta na declaração da Executiva Nacional "A legislação eleitoral criou enormes dificuldades para estruturação de novos partidos de esquerda e está formatada para impedir o surgimento de alternativas eleitorais de nosso campo. A recente aprovação de cláusula de barreira no Senado Federal demonstra que os ataques ainda não estão conclusos. Assim, nosso partido, em primeiro lugar, deve ser um porto generoso para todos os segmentos dispostos a reconstruir no dia-a-dia das lutas e nas eleições um projeto de esquerda, radicalmente democrático e com independência de classe".

Neste sentido, levando em consideração este caráter democrático e plural, que permitiu inclusive que posições antagônicas frente ao golpe institucional se expressassem publicamente, propomos que o Diretório Nacional do PSOL, levando em consideração o novo momento pós-golpe institucional, a experiência com as candidaturas anticapitalistas do MRT no PSOL e a nova situação da luta de classes pós 15 de março, considerem um novo pedido de entrada de nossa corrente no partido.

Delegados do II Congresso do MRT
São Paulo, 19 de março de 2017




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