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COTAS UNICAMP | Por que Danny Glover apoia COTAS na Unicamp?

Às vésperas de decisão no Conselho Universitário, a luta por cotas na Unicamp recebe apoio internacional: entenda o que Danny Glover apoia.

domingo 28 de maio de 2017 | Edição do dia

Na tarde de ontem (dia 27/05), o renomado ator Danny Glover, o eterno Roger Murtaugh da sequência Máquina Mortífera, publicou em sua página nas redes sociais sua foto com o filtro da campanha por cotas étnico-raciais na Unicamp e uma pequena nota na descrição:

“O livre acesso a uma educação pública de qualidade é um direito social garantido pela Constituição Brasileira. A presença reduzida de estudantes negros e indígenas torna necessária a existência de políticas públicas legitimas que combatam os privilégios e exclusões. Por isso eu apoio cotas na Unicamp, Brasil”

(livre tradução).

Danny, que se manifestou diversas vezes contra o golpe institucional no Brasil, se soma a uma imensa campanha pela implementação das cotas étnico-raciais na Unicamp.

Entenda:

Fruto de uma mobilização histórica do movimento negro, as cotas étnico-raciais já é realidade em dezenas de universidades públicas federais e estaduais no Brasil, desde 2003, quando a UERJ implementou a primeira política de cotas em seu vestibular. Para se ter uma ideia, o número de ingressantes negros e indígenas em universidades públicas no último decênio supera o conjunto de ingressantes negros indígenas desde a fundação da primeira universidade no Brasil. Neste sentido, as cotas étnico-raciais se consolidaram como uma ação afirmativa que visa não só reparar uma história de violência racista, mas combater desigualdades de acesso e oportunidades.

Logo, questionar privilégios, desestabilizar noções sobre público e privado, ampliar epistemes, se contrapor ao ideário meritocrático e escancarar o racismo no Brasil são incumbências desta política que, em essência, AFROntam a aparente ideia da democracia racial que, por muito tempo, sustentou a falácia de que as diferenças (lê-se desigualdades) raciais são meros detalhes se colocados ao lado da “harmonia de raças” que reina em nosso país. Lutar por cotas é entender que o apartheid à brasileira não está na letra da lei mas, sim, nos espaços de poder, nas relações de trabalho, nas diferenças salariais, sobretudo no acesso a equipamentos públicos de excelência.

Na contramão destes avanços, a Unicamp e a USP responderam tais reivindicações com a adoção de bonificações em seus “seletivos” vestibulares. A Universidade de São Paulo com os vergonhosos PASUSP e INCLUSP, que acrescia míseros pontos no vestibular da FUVEST e a Universidade Estadual de Campinas com o tímido e limitado PAAIS, um sistema de bonificação mais extenso em comparação à bonificação da USP, que foi ampliado também para a primeira fase nos últimos anos. Estas posturas são mais uma exposição da resistência racista presente na ressentida burguesia paulista. Estas universidades, cujos corpos discente e docente são praticamente brancos, frente à diversidade étnica e racial de um país majoritariamente negro, carecem de criatividade para sustentar argumentos que, na aparência, não seja o racismo e o classismo. As duas universidades brasileiras na ponta dos grandes rankings internacionais se tornam a vanguarda do retrocesso, quando o assunto é inclusão. Eis a oportunidade para avaliarem os resultados das outras instituições e não repetir a famigerada groselha de que “a qualidade vai cair”.

Neste contexto, os estudantes negros da universidade, organizados no Núcleo de Consciência Negra da Unicamp, deu início a uma verdadeira cruzada pelas cotas na universidade. Em um primeiro momento, preenchendo a completa ausência do DCE-Diretório Central dos Estudantes, na luta contra o PIMESP (Programa de Inclusão por Mérito no Ensino Superior Público Paulista), proposta do governador Geraldo Alckmin, elaborada pelos reitores das estaduais paulistas (o CRUESP) que previa um curso virtual de “nivelamento” de dois anos como condição para estudantes das escolas públicas, que optassem pela reserva de vagas, ingressarem nas universidades paulistas. A proposta de tutela de negros e pobres não vingou graças à organização dos estudantes das três universidades estaduais (na Unicamp, sem o protagonismo do DCE) e dos movimentos negro e pela educação.

No mesmo ano do surgimento do NCN da Unicamp (2012) foi fundada uma força tarefa para organizar a luta por cotas na universidade, enquanto a burocrática e desinteressada política das gestões do DCE estava distante. Assim, surge a Frente Pró-Cotas da Unicamp. Juntas, as duas organizações aglutinaram apoio de boa parte dos movimentos estudantis da universidade e da comunidade universitária, por meio de atividades de formação semanais e de diálogos com outras instituições. A partir disso, convenceu-se cada vez mais estudantes e entidades em torno da necessidade de cotas e como um barril de pólvora, as cotas derrubaram a bastilha do privilégio branco bandeirantista:

2012

  •  Surgimento do Núcleo de Consciência Negra da Unicamp e da Frente Pró-Cotas da Unicamp.

    2013

  •  Movimento Negro e Pró-cotas organiza luta contra o PIMESP.
  •  Ocupação contra a entrada da polícia militar na Unicamp.

    2014

  •  Greve dos três setores contra a proposta de aumento salarial de 0% pelo CRUESP.

    2015

  •  Aprovação das cotas étnico-raciais nos programas de pós-graduação do IFCH-Unicamp (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas), sendo a primeira política de cotas no ingresso da pós-graduação das universidades estaduais paulistas.

    2016
    - GREVE E OCUPAÇÃO
    A maior greve da história da universidade mobilizou as 24 unidades da Unicamp sob a bandeira das cotas, seja por paralização de um dia como no campus de Piracicaba ou em greve de meses como em cursos das engenharias, humanidades, biológicas e até mesmo em cursos da área da saúde, como a medicina. A reitoria ficou mais de 100 dias ocupada, o Ciclo Básico foi trancado e o movimento “Ocupa Tudo Unicamp” se tornou um dos marcos de organização e mobilização estudantil com projeção nacional.

    Vale ressaltar que esta greve tinha como mote “Cotas sim, cortes não! Contra o golpe, pela educação, permanência e ampliação”. O NCN e a Frente Pró-Cotas pressionaram, desde a assembleia geral, com mais de 1,5 mil estudantes, para que cotas fosse parte do mote. A cada assembleia de curso e unidade, os movimentos pró-cotas estavam presentes defendendo esta pauta. Incontáveis vezes, o placar desfavorável às cotas foi revertido nas discussões. De modo geral, resistimos em manter as cotas não só nos motes, mas, sobretudo, na boca das pessoas e nos cronogramas das atividades.

    Certamente, a maior conquista foi promover espaços de reflexão sobre qual projeto de universidade se desejava e se defendia. Discutir orçamento, assédio, moradia, permanência e o golpe, que ainda estava em curso, fez com que florescesse um movimento preparado para lidar com a truculência, violência e pressão de movimentos reacionários intra e extra-Unicamp. Cota, naquele momento, foi a pauta mais radical, na medida que a raiz mais profunda dos desafios desta universidade foi (e ainda é) repensar sua origem na ditadura, sua função em um projeto burguês e seus objetivos na manutenção do racismo.

  •  COTAS NA FACULDADE DE EDUCAÇÃO
    Aprovação da política de cotas étnico-raciais nos programas de pós-graduação da Faculdade de Educação. Ressalta-se, também, o trabalho dos movimentos pró-cotas na construção do projeto, e a atuação dos estudantes e do centro acadêmico (CAP) que pressionou a unidade, por meio de uma ocupação.
  •  GTs e AUDIÊNCIAS PÚBLICAS SOBRE COTAS
    Da mobilização surgiram três grupos de trabalho paritários (entre reitoria e estudantes) para discutir 1- construção de 3 audiências públicas sobre cotas, 2- reelaboração das políticas de bolsas e 3- sobre ampliação e reforma da moradia. O primeiro resultado real foi o aumento de bolsas e ampliação de concessão de auxílios externos para quem obtém o termo, mas não encontra vaga na moradia;

    A seguir, a realização de três audiências públicas, organizadas pelo GT institucional e pela Frente Pró-Cotas da Unicamp, Núcleo de Consciência Negra da Unicamp e a recém força tarefas das reuniões ampliadas. O reitor participou das três audiências, e o amplo apoio dos movimentos sociais e estudantis foi visível. São elas:

    1ª. Audiência Pública: "Cotas e ações afirmativas: perspectiva histórica e o papel da Universidade Pública no Brasil" (realizada em outubro de 2016)

    2ª. Audiência Pública: “Cotas e ações afirmativas: experiências nacionais e internacionais” (realizada em novembro de 2016)

    3ª. Audiência Pública: "Cotas e ações afirmativas: o PAAIS, seus alcances e limites" (realizada em dezembro de 2016)

    2017

  •  AVANÇO DAS COTAS NAS PÓS-GRADUAÇÕES:
  •  Aprovação das cotas étnico-raciais nos programas de pós-graduação do Instituto de Economia da Unicamp;
  •  Aprovação das cotas étnico-raciais nos programas de pós-graduação de Teoria Literária e de Linguística, do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp;
  •  Aprovação do relatório de cotas para os programas de pós-graduação do Instituto de Artes, apreciado na congregação e em fase de formatação da proposta.
  •  RELATÓRIO SOBRE COTAS
    O Grupo de trabalho responsável por organizar as audiências públicas submeteram um relatório para apreciação da comunidade universitária em uma sessão extraordinária do Conselho Universitário.
  •  MOBILIZAÇÃO PELA UNIVERSIDADE
    Foi instituído um encaminhamento, baseado no relatório já apreciado, a ser votado no próximo dia 30 de maio para a aprovação das cotas, do vestibular indígena, a criação de um GT que desenhe a implementação das políticas de inclusão com um cronograma que se encerra no CONSU de novembro e a criação da Secretaria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade.

    Sindicato das Empregadas Domésticas de Campinas

    A partir disso, centrou-se a mobilização na intensificação de atividades sobre cotas, em uma forte campanha virtual e na presença nas congregações e assembleias de curso, para que as unidades indiquem voto favorável no próximo CONSU.

    E agora, nas vésperas da votação vamos realizar um grande Festival/Ato Nacional por Cotas no dia 29 e no dia 30, chamamos todas e todos para concentrar toda a mobilização em frente à reitoria.

    Cotas sim, cotas enquanto for preciso!
    #EuApoioCotasNaUnicamp

  •  Caso queira colocar o filtro da campanha em seu perfil, clique>> Aqui.
  •  Sobre o evento do Festival/Ato Nacional pelas Cotas na Unicamp >> Aqui

    PROGRAMAÇÃO
    Festival/Ato Nacional por Cotas dia 29 de maio:

    10h - Du Kiddy com participação de Aluísio Alberto. Local: Teatro de Arena

    12h - Escola de Capoeira Angola Resistência - Núcleo Moradia e FE/Unicamp

    14h - Mesa: Desafios para além das cotas: racismo institucional na Universidade; Local: Auditório da Adunicamp.

    16h - [EM HOMENGAGEM AOS NOSSOS MAIS VELHOS]: A história de Raquel Trindade contada pelos (as) nossos griots: roda de conversa sobre as ações diretas de uma militante negra na Unicamp; o nascimento, atuação e pensamentos do grupo de cultura negra Urucungos, Puitas e Quijengues. Além disso, vamos refletir sobre o movimento negro na cidade de Campinas, a partir das memórias sobre a Casa de Cultura Tainã. A roda de conversa será seguida com um Samba de Bumbo com a participação do Grupo Urucungos, Puítas e Quijengues, Casa de Cultura Tainã, Renata Oliveira e convidados (as).

    18h - Preta Rara . Local: Teatro de Arena

    20h - MCLinn da Quebrada. Local: Teatro de Arena

    DIA 30 DE MAIO: ATO PELA IMPLEMENTAÇÃO DAS COTAS NA UNICAMP!

    7h - CONCENTRAÇÃO PARA O ATO! (LOCAL: EM FRENTE A REITORIA)

    9h - INÍCIO DA VOTAÇÃO DO CONSELHO UNIVERSITÁRIO;




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