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Debates na esquerda | Por oportunismo eleitoral, Frente Ampla deu as mãos a Arthur do Val

sexta-feira 11 de março de 2022 | Edição do dia

Após a divulgação dos áudios machistas e misóginos de Arthur do Val do Movimento Brasil Livre falando sobre as vantagens que via na exploração sexual das mulheres ucranianas em meio à guerra, uma ampla campanha de repúdio contra o reacionário deputado da Alesp. Arthur do Val é odioso, além de machista e misógino tem um amplo histórico de ataques às mulheres, ao movimento de trabalhadores e ao movimento estudantil, invadindo escolas e atacando fisicamente jovens estudantes, ou incitando a violência contra manifestações operárias.

Porém, os setores oprimidos e explorados devem também guardar na memória quando as suas direções e seus partidos políticos, motivados pelo oportunismo eleitoreiro, andaram de mãos dadas com esse esgoto da política brasileira.

No dia 12 de setembro, em um domingo, o Movimento Brasil Livre convocou uma manifestação de direita pelo Fora Bolsonaro, que foi imediatamente atendida por setores da esquerda. Naquele momento, o PC do B publicou uma nota afirmando que iria à manifestação e que "não se esquiva da luta":

A nota foi tirada do ar, mas conseguimos encontrar seus rastros usando o Google. E, para dizer a verdade, essa não foi nem de longe a primeira vez que o PCdoB se aliou ao MBL. Pra ficar só em alguns exemplos, em Guarulhos, o PCdoB participou da Chapa eleitoral de Eli Correa Filho, do DEM, que também teve a participação do MBL. E nas eleições estudantis de diversas universidades, como a Unicamp, o PCdoB já inaugurava chapas juntamente com o MBL há bastante tempo.

Leia mais: 5 momentos em que o PC do B fechou com a direita golpista

O PT e o PSOL não assinaram a convocatória daquela manifestação, mas liberaram seus militantes para aderir ao ato junto com a direita. A não participação total de PT e PSOL no fiasco daquelas manifestações, no entanto, não foi fruto de questões ideológicas. A frente ampla com os direitistas já havia sido amarrada meses antes, com a entrada do pedido do "Superimpeachment" de Bolsonaro em 30 de junho:

Tal política com toda a cara da conciliação de classes de Lula tomou forma no parlamento. Lado à lado, as presidentas do PT e do PCdoB, com seus deputados, com dirigentes e deputados do PSOL, dividiram palanque com Kim Kataguiri do MBL, outra figura que não é mais convidada da frente ampla por defender o direito à criação de um partido nazista no Brasil. (Além de Kataguiri, Alexandre Frota, Joice Hasselman e muitos outros direitistas participaram desta frente ampla).

Marcelo Freixo, que havia acabado de deixar o PSOL para aderir ao PSB, já discutia cotidianamente com membros desta direita. Depois de debater com Janaína Paschoal (ainda no PSOL), no PSB decidiu trocar ideias com Kim Kataguiri em nome da frente ampla contra Bolsonaro.

Imaginem vocês, fazer uma frente ampla com alguém que publicamente já expressava falas misóginas como a à seguir, de um tweet de 2014 quando o MBL já estava em pleno funcionamento:

Mas a saída de Freixo não isentou o PSOL, que teve na figura de Isa Penna, deputada estadual de SP, a defesa da ida às manifestações de direita convocadas pelo MBL no ano passado sob determinadas condições. Isa Penna de fato não só foi à manifestação como teve fala garantida no palanque do MBL, como pode-se ver na imagem:

Foi só após o "escândalo do Monazi" que a deputada declarou ter interrompido diálogo com o grupo, e depois disso foi que deu entrada no pedido de cassação de Arthur do Val.

Vimos depois que esta não era uma política exclusiva da deputada, pelo contrario, estava em sintonia com a direção nacional do PSOL, na figura de seu presidente Juliano Medeiros. Em Outubro, a Esquerda convocou esta mesma direita para a participação nas manifestações, agora hegemonizadas pelo PT, contra Bolsonaro. Juliano Medeiros, presidente do PSOL, defendeu a unidade tática com estes setores - o MBL, no caso - para tirar Bolsonaro.

O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado - PSTU não faz parte da Frente Ampla. Mas nem por isso ficou atrás, no ano passado o PSTU assinou o mesmo pedido de Superimpeachment e esteve presente na entrega do documento em Brasília. Em setembro do ano passado, ainda, o PSTU afirmou em um editorial lançado em seu site que o problema das manifestações convocadas pelo MBL é que elas não eram um chamado unitário, e em polêmica com o PCO, afirmou que seria absurdo vetar qualquer setor que estivesse pelo Fora Bolsonaro das manifestações convocadas e hegemonizadas pelo PT.

O PCO, esse satélite do PT, pode se fingir de combativo mas não engana ninguém. Pode até arrumar briga na rua com o MBL. Mas na política, sempre defende a liberdade de expressão da direita para que fale as maiores barbaridades racistas e machistas. Afinal de contas, saíram em defesa da liberdade de expressão de Monark no recente caso da defesa da criação de um partido nazista.

Enquanto PT, PCdoB e PSOl convocavam manifestações em unidade com a direita contruíndo a frente ampla com a direita e a extrema-direita não bolsonarista, o PSTU e o PCB de Jones Manoel serviram de linha auxiliar ao defender que a extrema direita do MBL tinha o direito de compor tais atos em "unidade de ação", com a única diferença que, no discurso "vermelho", afirmavam que o tinha que sair "imediatamente". Como vimos, com essa estratégia, Bolsonaro não saiu imediatamente com essa política...

Ao contrário de combater a direita, a Frente Ampla nos apresentou uma chapa Lula-Alckmin. E ao contrário de combater a extrema direita, a Frente ampla deu tanta liberdade para os reacionários do MBL, que um deles se sentiu à vontade para a defender o direito de organização de um partido nazista, enquanto que o outro se sentiu no direito de ir para a Ucrânia e, em meio à uma guerra, propagar áudios misóginos e machistas, dizendo que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres”. Só poderia ser esse o resultado de uma frente que manda todo mundo ficar em casa e esperar o momento de votar em Lula e em Alckmin.

À esquerda que lembra dessa política, varrida para baixo do tapete pelas lideranças agora, chamamos a defender a unidade da esquerda naquilo que realmente importa. Não uma unidade eleitoreira em torno da chapa Lula-Alckmin, mas uma unidade para lutar em defesa dos interesses da classe trabalhadora. Chamamos à uma campanha pela revogação da reforma trabalhista, e frente à escalada do conflito no Leste Europeu, batalharmos por uma posição independente dos trabalhadores, Fora a Otan e Fora Putin da Ucrânia! Por essas posições batalhamos no Polo Socialista Revolucionário e também lutamos para que essa unidade se concretize em cada local de trabalho e estudo, como aliança em cada luta concreta dos trabalhadores.




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