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ELEIÇÕES CAELL 2016 | Por isso me Grito: carta aos docentes

sexta-feira 20 de novembro de 2015 | 00:00

Por meio desta carta, nos comunicamos diretamente com os docentes do curso de Letras da USP, em muito afetados pela atual política de congelamento do repasse de verbas à universidade. Desde o ano passado e especialmente desde o início deste ano, os membros da Chapa “Por isso me Grito” vieram se organizando como força de oposição à atual gestão do CAELL (representada em parte por membros da Chapa Candeia), que numa clara política de imobilismo do movimento estudantil, abandonou esses docentes gravemente afetados à sua própria sorte.

Nossa chapa grita contra a flexibilização do trabalho docente e por mais contratações

Desde o momento em que Zago assumiu a direção da maior Universidade pública do país, os docentes se chocaram com uma grave política de congelamento de contratação de trabalhadores – funcionários e docentes. Essa política, ao passo que favorece a destinação de verbas públicas para custear sabe-se lá o que (já que as contas da Universidade não são públicas), favorece também o decaimento da qualidade de trabalho dos docentes da USP, em especial de nossa faculdade.

Insistimos: em especial em nossa faculdade. Em uma sociedade capitalista, os conhecimentos das áreas de humanidades, quando não voltados à manutenção do status quo, mas ao fortalecimento do pensamento crítico, da arte livre e da emancipação cultural, não servem para os cofres públicos, pois não respondem aos interesses da classe dominante, que dita os rumos dos financiamentos e das decisões políticas do Estado. Para muitos cursos da USP, o esvaziamento dos cofres públicos significa pouco pois pela via das Fundações angariam recursos da iniciativa privada. Outros, mesmo dentro das humanidades, contam com os interesses muitas vezes escusos das instituições públicas de fomento, como a FAPESP e a CNPQ, que em geral privilegiam o produtivismo acadêmico em detrimento do aprofundamento científico, da produção acadêmica livre e daquela voltada aos trabalhadores e ao povo pobre. Isso significa que em momentos de crise, a realidade financeira da universidade se contra-balenceia ainda mais, e os cursos que sempre contaram com maiores financiamentos de pesquisa ou com as famigeradas Fundações seguem seus rumos quase que em completa normalidade. Cursos como o da Letras, onde o produtivismo é uma pressão subjetiva mais do que uma realidade possível, onde o estudo da literatura e das artes tem como consequência a formação de uma massa crítica de jovens professores, editores, etc, o maior interesse dos que dirigem a universidade é o sucateamento.

Como consequência disso, vemos vários de nossos professores se aposentando e sendo substituídos por professores temporários, como é o caso de muitas disciplinas de línguas, ou a ameaça por parte da reitoria de legalizar a contratação de tipo horista para uma categoria que antes só poderia ser contratada em regime de dedicação exclusiva. Assim, o interesse das Fundações, dos órgãos de fomento e do Estado se mesclam em, por um lado, precarizar a vida e o trabalho de um docente que jamais poderá voltar a pesquisar novamente e terá a USP como ponto de parada em meio a uma rotina costurada por aulas atribuídas; e de outro um docente que conta com a garantia da pesquisa exclusivamente por estar nos espaços da academia que recebem maior financiamento.

Por isso, lutamos lado a lado com os professores pela saída das Fundações e também pelo direito ao Regime de Dedicação Integral à Docência e Pesquisa, pelo fim do produtivismo acadêmico e pela volta do gatilho automático, para que cada professor aposentado ou afastado possa ser substituído por um docente contratado no mesmo regime; exigimos também a abertura do livro de contas da Universidade, para que a Reitoria pare de esconder a crise e nos mostrar aonde estão sendo gastos os recursos públicos.

Porque a chapa Candeia não serve?

O nível dos ataques que viemos sofrendo durante os últimos anos e que vem se intensificando no último período nos coloca o desafio de, assim como estudantes e professores da rede pública, nos organizar para responder à altura contra cada um dos crimes que o Estado de São Paulo, na figura do governador Alckmin, comete contra a educação.

Entretanto, não podemos fechar os olhos para o fato de que os ataques à educação e à qualidade de vida da população também se dão à nível nacional, pela figura do governo PT e de seus aliados da direita. Esse governo é responsável por um dos maiores cortes nas verbas públicas para a educação, que já chegou a quase R$ 11bi. Os setores aliados ao governo do PT historicamente, como a UNE e a CUT convocam hoje as mulheres às ruas exigindo a saída de Cunha, mas deixam de dizer que Cunha foi colocado ali pelo próprio PT, e que a PL5069 que criminaliza a pílula do dia seguinte foi redigida por este ser patológico junto ao presidente do PT-Rondônia, e que em 13 anos de governo PT a legalização do aborto foi retirada do programa e no lugar dela, estabeleceu-se um acordo inabalável com o Vaticano, legitimando que ainda hoje tenhamos as maiores taxas do mundo de mulheres mortas por abortos clandestinos. Nestes 13 anos, os LGBTs também foram obrigados a ver seu Kit anti-homofobia ser retirado das escolas em um acordo entre PT e direita, assim como as negras e negros tiveram de ver a população carcerária aumentar, o trabalho terceirizado se institucionalizar e as tropas brasileiras no Haiti seguirem massacrando o povo haitiano a mando dos EUA.

Fica claro, tanto aos trabalhadores quanto à juventude, que a resposta à crise não pode ser dada caminhando lado a lado com os governos, tampouco tentando blindá-los das críticas que devem receber. Isso não significa que defendemos o golpe – assim como a maior parte da direita também não defende, pois não está preparada para enfrentar a crise política de uma possível queda do PT, ainda hoje principal dirigente de massas de trabalhadores no Brasil. Isso significa que estamos dispostos a nos organizar de maneira independente dos governos e das reitorias, pois o que importa nesse momento de crise não é proteger os dirigentes dos partidos burgueses, mas nosso direito à vida, à educação e às condições mínimas de trabalho, além, é claro, de ir por mais.

A gestão Ruído Rosa, hoje Chapa Candeia, em dois anos não demonstrou o menor interesse, como parte de uma política de imobilismo do movimento estudantil, em abrir um diálogo entre docentes e estudantes, recusando-se a busca-los para participar das paralisações, de aulas públicas; recusando-se inclusive a construir espaços para debatermos junto a vocês todos os ataques que viemos sofrendo em comum, como as salas lotadas que afetam a todos nós, o fechamento de creches, a não contratação, a flexibilização do trabalho.
Esse imobilismo é a imagem na Letras da política de blindagem do governo PT, que por medo de surgirem lutas que desestabilizam o governo, impede e boicota os espaços de organização e de debate político e cultural em nosso curso. Os estudantes que vem ocupando as mais de 70 escolas no Estado de São Paulo já criaram uma batalha com as vertentes do governismo dentro de seu movimento, expulsando de suas assembleias e ocupações correntes como a UNE, a UMES e a UBES.

Contra o governismo e o imobilismo que querem perpetuar em nosso curso, estamos pelo diálogo permanente com os professores que querem se aliar aos estudantes na luta por uma universidade onde prime o pensamento livre, a produção cultural independente, com vistas a transformar o caráter de classe da universidade, devolvendo aos trabalhadores que a financiam, o conhecimento necessário nas suas salas de aula e nos seus locais de trabalho.

Parte da mostra de que estamos dispostos a fazer isso é a existência contínua por mais de 4 anos do Grupo de Estudos de Cultura e Marxismo, do qual já participaram uma série de docentes da Letras e que se coloca hoje, lado a lado com os docentes que já debatem intensamente o marxismo na sala de aula, como uma medida pequena mas decidida de “cavar uma trincheira ideológica” em nossa Universidade.

Convidamos os docentes que apoiam essa ideia e que vem a necessidade de lutar por uma nova tradição de movimento estudantil, um movimento vivo, democrático e combativo, que se coloque em unidade com os trabalhadores – docentes e funcionários – da universidade, a apoiarem ativamente nossa chapa assinando essa carta, divulgando-a escrevendo também suas próprias notas de apoio.




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