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Sobre a nova capa da Playboy que traz a modelo plus size Flúvia Lacerda, como tratar o direito pleno ao corpo das mulheres?

Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

terça-feira 20 de dezembro de 2016 | Edição do dia

Há alguns meses escrevi com minha camarada Natália Angyalossy o artigo Libertem nossos corpos e suas mentes sobre a polêmica de uma modelo claramente magra chamada de plus size pela indústria da moda. O tema plus size volta a ser centro de discussão, agora sob novo viés. A nova capa da revista Playboy é a modelo brasileira plus size Flúvia Lacerda.

Primeiro devemos discutir o papel que revistas como a Playboy, Sexy, VIP cumprem no imaginário de homens e mulheres. Longe de representar qualquer subversão frente ao conservadorismo relacionada ao sexo, são revistas que reafirmam o papel de mulher objeto e homem garanhão dá sociedade patriarcal. E usam o sexo e o corpo feminino como fetiche para vender revistas.

A opressão do corpo da mulher gorda

Todas as mulheres, absolutamente todas, estão constantemente preocupadas e descontentes com o próprio corpo. Culpa dos padrões de beleza que são impossíveis de se alcançar.

Porém, paras as mulheres gordas os padrões de beleza são ainda mais cruéis, pois não sofrem unicamente com a pressão que os padrões de beleza exigem, são invisibilizadas nos meios de comunicação, são alvos de piadas e de olhares tortos em festas e ambientes sociais, são esquecidas enquanto sujeitos portadores de sexualidade e sensualidade.

Flúvia Lacerda é linda! Lindíssima! A dita "Gisele Bünchen plus size". Claro que o fato de ter ela na capa não muda em nada o papel que a Playboy cumpre e cumpriu todos esses anos de objetificação da mulher. Não muda o machismo da indústria cultural, nem põe fim ao patriarcado. Como gorda que sou, ver uma mulher fora dos padrões na capa de uma revista como a Playboy só me coloca uma tarefa na cabeça: acabar com os padrões de beleza e com o machismo. Tudo junto no pacote.

Porque é preciso questionar a objetificação da mulher. É preciso questionar porque as gordas são invisibilizadas não somente nas capas de revistas. São invisíveis na sociedade obcecada por um padrão de beleza inalcançável.

Lembro da primeira matéria que li com a Flúvia falando da carreira de modelo plus size. Fiquei feliz em saber que havia reconhecimento de uma beleza fora dos padrões. Ainda que limitadíssimo, pois Flúvia ainda é branca, ainda é loira, ainda tem traços europeus.

Dá uma certa visibilidade a capa da Playboy hoje pras gordas? Talvez. Algumas mulheres podem até sentir um certo alento, tamanha a opressão que sentem. Mas o que a gente quer mesmo e precisa é que todas as mulheres sejam livres, que seus corpos sejam livres, livres do olhar torto, livres do julgamento, livres da opressão e da exploração, do controle da religião e do estado. Livres pra serem o que quiserem.

Não queremos ser nem objetificadas, nem nicho de mercado para vender revistas e padrões de beleza, queremos ser livres.




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