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CORONAVÍRUS NA FRANÇA | A estratégia de vacinação do governo francês se destaca por sua incapacidade de frear as cadeias de contágio e resolver a crise sanitária. O ano de 2021 se inicia, assim, com um novo grande escândalo no manejo da pandemia.

A estratégia de vacinação do governo francês se destaca por sua incapacidade de frear as cadeias de contágio e resolver a crise sanitária. O ano de 2021 se inicia, assim, com um novo grande escândalo no manejo da pandemia.

quinta-feira 7 de janeiro de 2021 | Edição do dia

O número de mortos na França desde o início da pandemia superou, neste domingo, a marca de 65 mil, e a situação sanitária indica sinais muito preocupantes, no momento em que ainda não se contabilizou os impactos das festas de Natal e Ano Novo na curva de hospitalizações.

Diante desta epidemia que parece não ter fim, a chegada da vacina – que sabemos ter sido desenvolvida em tempo recorde, mas cujas diversas fases de provas acabaram sendo altamente efetivas, apesar das incógnitas a longo prazo – parece ser um componente essencial de qualquer estratégia sanitária eficaz.

Por isso, o governo Macron colocou o tema da vacina no centro de sua estratégia de saúde para 2021, abandonando efetivamente a estratégia de “testar-alertar-proteger”, cujo objetivo era romper as cadeias de contágio, privilegiando, ao invés disso, uma gestão autoritária de alternância entre a semi contenção e o toque de recolher para evitar a superlotação de hospitais e um colapso da economia.

Neste sentido, em termos sanitários, o governo adotou uma estratégia de vacinação composta por três fases: em janeiro, vacinar os moradores e trabalhadores de asilos; em fevereiro, pessoas com doenças e idosos; e, durante a primavera, o restante da população. Uma estratégia que revela a total falta de preparo deste governo. O ano de 2021 se inicia com um novo escândalo de saúde em torno da estratégia de vacinação.

Até 1º de janeiro, apenas 516 pessoas haviam sido vacinadas. Em comparação com outros países europeus, a França estagnou logo no início: na Itália, 85 mil pessoas receberam a vacina, outras 200 mil na Alemanha e um milhão no Reino Unido.

Enquanto a estratégia britânica se destaca por uma gestão aventureira que não leva em consideração as sugestões de especialistas, como o período recomendado entre a primeira e segunda doses, a estratégia do governo francês demonstra graficamente sua incapacidade de levar a cabo uma campanha de vacinação eficaz, somado aos problemas de logística e procedimento.

Se, por um lado, foram obtidas 500 mil doses da vacina Pfizer, a quantidade de doses aplicadas é baixa, dada a gravidade da situação sanitária. Para justificar este novo escândalo, o “homem das vacinas”, Alain Fischer, declarou há alguns dias que, ao contrário da Alemanha, onde foram instalados “vacinódromos”, a estratégia do governo francês era “levar a vacina às pessoas”, o que “leva tempo” e é “complicado”. Macron faz questão de isentar-se da responsabilidade, tendo em vista as eleições de 2021, mas é o chefe de Estado no Conselho de Defesa, ou seja, o principal responsável pela caótica aplicação da vacina.

Por outro lado, a lentidão da campanha de detecção é mais preocupante, já que a nova cepa britânica do vírus foi detectada novamente na França. Como relembrou Arnaud Fontanet, membro do Conselho Científico, à Radiofrance, “a preocupação do momento é saber se esta variante se estenderá e com qual velocidade, sabendo que na Grã Bretanha essa variante possui uma transmissibilidade 50% maior do que as demais cepas do vírus e que, portanto, realmente pode colocar-nos em uma situação de extrema complexidade”. Em um contexto em que a cepa britânica pode multiplicar-se a qualquer momento, o tema da vacina se torna ainda mais essencial”.

Diante do risco de uma crise política, o governo tenta acelerar a campanha

Ignorando críticas, o governo anunciou a aceleração da campanha. Tentando justificar a lentidão da campanha, alegando que haviam “escolhido um caminho diferente” de outros países europeus, Gabriel Attal, porta-voz do governo, disse ao Le Parisien que “a aceleração solicitada pelo presidente já está em andamento”.

A aceleração tardia ilustra o total despreparo do governo, advertido já há vários meses sobre as limitações deste tipo de vacinação. Hoje, a um ano do início da pandemia, Macron continua mostrando-nos sua incapacidade para manejar o nível de crise que nossas vidas enfrentam.

A força dos trabalhadores pode enfrentar a crise sanitária

Por trás desta gestão catastrófica e errática, é o próprio Macron quem alimenta a desconfiança em relação às vacinas entre a população. A última pesquisa realizada pela consultoria Odoxa revela que 58% da população têm receio de vacinar-se. Uma desconfiança que o governo estimulou por meio de sua gestão autoritária, tentando tornar obrigatória a vacinação, o que gerou ainda mais rechaço. Mediante um projeto de lei apresentado na noite de Natal, abriu-se a possibilidade de que o Primeiro Ministro tornasse a vacinação obrigatória. Assim, o governo fez um perigoso jogo e aumentou a desconfiança já existente.

Já o ministro da Saúde, Olivier Véran, anunciou estar convencido “de que se alcançará um bom nível de imunidade coletiva sem a vacinação obrigatória”, o que não descarta que este projeto de lei, que atenta contra a liberdade, seja posto de lado para dar mais prerrogativas ao Executivo, em continuidade ao giro autoritário que o governo Macron vem dando há vários meses.

Se as vacinas são parte da solução desta crise, não se pode criar ilusões neste governo que, enquanto fala das vacinas como o novo santo Graal, sequer estabeleceu até agora centros de vacinação no Ehpad (moradia de idosos), nem forneceu contêineres suficientes para armazena-las.

É cada vez mais urgente colocar em prática um verdadeiro plano de saúde, que responda ao que está em jogo, nos hospitais, escolas, transportes e locais de trabalho, para que a vida e a saúde da população não sejam sacrificadas. Um verdadeiro plano de saúde que tenha em seu centro a contratação massiva de profissionais da saúde e da educação, para aliviar a congestão nos hospitais e escolas.

Para além da responsabilidade do governo, a forma com a qual é levada adiante a investigação, produção e distribuição da vacina demonstrou a impossibilidade do sistema capitalista resolver crises da magnitude da pandemia do coronavírus. Os capitalistas que encabeçam as empresas farmacêuticas se negam a compartilhar a investigação científica de forma transparente com o progresso dos trabalhos. Neste sentido, é necessário exigir que as patentes das vacinas sejam distribuídas em todo o mundo, gratuitamente, para que os países mais pobres também tenham acesso a elas.

Como a responsabilidade recai sobre as grandes empresas farmacêuticas que organizam a escassez e sobre os governos nacionais que são seus principais aliados, são apenas os trabalhadores desta indústria e os trabalhadores da saúde nos hospitais os capazes de se encarregar de manejar e dar uma saída a esta crise sanitária.




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