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Dia Latino-Americano e Caribenho pela legalização do aborto | Pílula Anticoncepcional: do avanço da liberdade sexual ao descaso à saúde da mulher

segunda-feira 28 de setembro de 2015 | 00:01

O surgimento da pílula anticoncepcional na década de 60 esteve ligado diretamente a uma maior liberdade sexual das mulheres, fazendo-as se sentir donas de seu próprio corpo sem a preocupação da gravidez indesejada. No entanto, algumas contradições acompanham esse processo, como a facilidade com que as mulheres brasileiras aderiram à contracepção hormonal estar imbricada com políticas internacionais de redução da natalidade em países do terceiro mundo. Assim, enquanto em lugares como a França a pílula somente foi liberada para consumo em 1967, no Brasil a pílula anticoncepcional e o DIU foram comercializados sem entraves desde o início da década de 60.

O consumo da pílula também não está aliado a uma melhor atenção à saúde da mulher, dadas às suas necessidades específicas, como exames preventivos e periódicos de câncer do colo uterino, mamografias, ultrasonografias, etc, que o precário sistema de saúde pública brasileiro não garante. Em 1970, 6,8 milhões de cartelas de pílulas anticoncepcionais foram vendidas e, em 1980, este número subiu para 40,9 milhões. Atualmente, esses números são ainda maiores. De acordo com a Celsam (Comitê Científico do Centro Latinoamericano Salud y Mujer) os países que mais consomem pílulas na América Latina são Uruguai, Brasil e Chile. A região conta com cerca de 116 milhões de mulheres e 10% utilizam o anticoncepcional para o controle de natalidade, cerca de 12 milhões de usuárias.

O uso dos anticoncepcionais é um dos métodos mais conhecidos mundialmente e tem eficácia de 99,9% na prevenção da gravidez. No Brasil, mulheres com melhor renda e mais escolaridade possuem mais conhecimento sobre o uso correto (como proceder no caso de esquecimento, por exemplo) e sobre os efeitos colaterais (redução, irregularidade e ausência do fluxo menstrual, alteração de humor, irritabilidade, tontura e cefaleia, náusea e vômito, alterações sistêmicas, alteração de peso). No entanto, os conhecimentos das mulheres com relação às complicações advindas do uso dos anticoncepcionais orais são muito poucos. As primeiras pílulas comercializadas (a Anovlar da empresa estadunidense Schering) apresentavam uma alta dosagem de hormônios sintéticos, o que não tardou a evidenciar os efeitos colaterais, desde os menos graves como mal–estar, retenção de líquido (inchaço), ganho de peso, até os mais graves como trombose, AVC, glaucoma, etc.

É impossível negar que a pílula permitiu a quebra de alguns obstáculos na emancipação das mulheres, já que na teoria elas poderiam manter relações sexuais com quantos parceiros quisessem sem o medo da gravidez, mas também possibilitou que as mulheres adentrassem ainda mais no mercado de trabalho, demonstrando que a pílula não deixa de ser mais uma mercadoria funcional para o capitalismo, além de submeter as mulheres à indústria farmacêutica.

A liberdade sexual das mulheres ainda necessita de uma grande luta política e ideológica para que a saúde da mulher esteja acima dos interesses lucrativos da indústria farmacêutica. É necessário e urgente que sejam realizadas pesquisas em prol da saúde da mulher para desenvolvimento de novos métodos que não nos façam ter que escolher entre ter um AVC de repente, ter uma gravidez indesejada ou recorrer ao aborto clandestino e fatal. Também é importante que os exames preventivos seja acessíveis a todas, que todos os métodos contraceptivos desenvolvidos sejam explicados e de acesso livre, seguro e gratuito para que todas as mulheres possam escolher qual o método às convém, dentro de suas particularidades e que a discussão de educação sexual nas escolas possa ser livremente realizada.

Além disso, faz-se necessário que os trabalhadores de saúde da atenção básica, em particular os agentes de saúde, enfermeiros e farmacêuticos, tenham ferramentas para desenvolver estratégias de educação em saúde no sentido de promover a aquisição de conhecimento por parte das mulheres que utilizam a pílula, que viria através de um SUS de qualidade sob controle dos trabalhadores e usuários.




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