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28 DE MAIO: Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher | Perda de audição, dores, depressão: qual a realidade das operadoras de telemarketing?

Aproximadamente 72% são mulheres, 84% com idade entre 18 e 29 anos. Esse setor corresponde ao maior empregador na área de serviços do país, sendo a grande maioria empresas terceirizadoras que prestam serviço para grandes empresas renomadas e contratam por um salário mínimo cheio de descontos.

quinta-feira 28 de maio de 2015 | 07:30

- Oi, não te vi esses dias. Você está bem?

  •  To sim, tava de atestado, mas infelizmente já voltei.

    O breve diálogo acima é quase tão comum de se ouvir dentro das empresas que prestam serviço de Call Center quanto a frase “Senhor, você pode me falar os três primeiros dígitos do seu CPF, por gentileza?”.

    Estima-se que no Brasil hoje o setor do telemarketing empregue cerca de 1,5 milhão de trabalhadores, sendo a ampla maioria jovens, mulheres e negros, com aproximadamente 72% de mulheres e 84% com idade entre 18 e 29 anos. Esse setor corresponde hoje ao maior empregador na área de serviços do país, sendo a grande maioria empresas terceirizadoras que prestam serviço para grandes empresas renomadas e contratam por um salário mínimo cheio de descontos.

    Junto ao crescimento do setor, aumentou também o número de doenças ocupacionais ligadas a este precário serviço. O uso do headset unilateral (fone de ouvido utilizado no atendimento) tem sido grande causador de danos irreversíveis para a audição, como a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), que leva a necessidade de jovens trabalhadores de utilizarem aparelho auditivo por consequências, muitas vezes, do seu primeiro emprego.

    Além disso, a precariedade do serviço gera diversos outros tipos de doenças ocupacionais, como a LER/DORT (Lesão por Esforço Repetitivo), ocasionada pelo rotineiro trabalho no computador; dores constantes nas costas, devido às péssimas condições das cadeiras que, na maioria das vezes, não possuem os ajustes de altura, encosto e braços necessários e as quais o operador é obrigado a ficar sentado durante mais de 6 horas; além das doenças psicológicas, como o estresse – que ocasionalmente geram desmaios na operação, pressão alta, alergias, dores pelo corpo e de cabeça, gastrite crônica –, depressão e síndrome do pânico, normalmente ocasionados devido à pressão por produtividade e metas, que vêm acompanhados do assédio moral dos supervisores, que não se abalam em humilhar um operador na frente de toda a operação quando quer cobrar melhores resultados.

    Dentro das metas a serem batidas, uma delas é o tempo em que o atendente fica disponível para atendimento, ou seja, o tempo do seu ponto menos as pausas. Porém, apesar da orientação de fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas de que, em serviços como esse, é necessária uma pausa de 10 minutos a cada hora trabalhada, além da orientação não ser respeitada, em muitos Call Centers não é permitida nenhuma pausa para ir ao banheiro ou beber água. Isso também gera diversas complicações no sistema urinário, como infecções, problema esse que já afeta majoritariamente as mulheres.

    Frente a todo esse cenário de alto índice de doenças ocupacionais no telemarketing, estudos mostram que, além das mulheres serem maioria no setor e os principais alvos de assédio moral e sexual por parte dos supervisores, são também majoritariamente as que têm a saúde mais afetada, pois ligado ao trabalho precário de carteiras assinada, há também a dupla jornada de trabalho – muitas vezes tripla, pois possuem dois empregos – em que seguimos mais horas de trabalho doméstico e cuidado com os filhos.

    Além disso, o desrespeito com as leis e os direitos trabalhistas leva a que muitas trabalhadoras grávidas sejam demitidas, como parte da grande rotatividade nesses empregos – alto índice de pedidos de demissão devido aos baixos salários e péssimas condições de trabalho, além dos cortes por parte da empresa –, já que mulheres grávidas não seriam tão produtivas, pois entregam resultados com menos tempo disponível, consequência do alto número de pausas. Quando não são direta e ilegalmente demitidas, são forçadas a pedir demissão devido à pressão da supervisão.

    Mais uma vez, o capitalismo mostra o quanto sua sede de lucro importa mais do que a saúde dos trabalhadores, sendo os operadores de telemarketing, na maioria das vezes trabalhadores terceirizados e amplamente mulheres e negros, uma grande expressão disso. É preciso acabar com essa exploração, com a pressão e assédio moral da supervisão, garantir salários e condições dignas de trabalho, que respeitem a orientação dos médicos para o setor, e para assim garantir o direito mais básico a essas e esses trabalhadoras e trabalhadores: o direito a sua saúde física e mental.




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