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POR QUE ODIAR O PT? | Pensando minha geração a partir do texto de Gregório Duvivier

terça-feira 11 de agosto de 2015 | 00:47

Acabei de ler essa coluna do Gregório publicado originalmente na Folha de São Paulo. Achei muito interessante, pois me lembro de que a pouco tempo atrás, em uma entrevista, Gregório ainda resistia em sua simpatia ao PT. Agora, alguns meses depois, escreve essa coluna, que é praticamente uma ruptura com toda a trajetória deste partido que se dizia de esquerda.

Mas para mim, mais interessante ainda, é o fato de que Gregório acaba por se traduzir enquanto uma geração. Uma geração de jovens, trabalhadores e militantes que acreditaram na criação deste partido, depositaram suas esperanças, construíram suas ideias, posições política e suas práticas tendo o PT como a grande e única referência de esquerda.

O PT durante muito tempo, desde sua criação, tornou-se um grande paradigma para esquerda. Por concentrar em si uma grande referência de massas e ter reunido praticamente todas as correntes de esquerda em sua construção, o PT passou a ser uma entidade inquestionável. Todos seus erros, eram justificáveis, todos seus caminhos eram defensáveis, até mesmo abandonar questões de princípios, até mesmo se voltar contra aqueles que o construiu. E aos poucos os construtores dos movimentos sociais e de esquerda, lutadores, ativistas, militantes, passaram a ser telespectadores, comentaristas, devotos passivos, eleitores de um partido que se dizia portador de enormes transformações. Durante os anos do governo Lula o PT era um paradigma tão grande que cada pequena migalha que ele balançava para os trabalhadores era exaltado como um passo ao socialismo, e cada migalha se tornava um escudo, uma arma na defesa deste partido, que garantiu recordes de lucros aos banqueiros internacionais. O PT era incriticável. O Lula era o cara. Ou o defendia, ou estava fazendo o jogo da direita (semelhanças com os dias de hoje não é mera coincidência).

Dentro dos movimentos sociais o paradigma do PT algemava as outras correntes e organizações da classe trabalhadora, mantendo-os reféns de suas políticas, de seu programa. Seu governo não podia ser mencionado nas manifestações, sob o risco de racharem com as ações e movimentos da esquerda. E as organizações aceitavam, pois o PT tinha apoio de todos, era de massas, mesmo que uma ilusão, uma ilusão de massas. Ainda que nas manifestações em si, o PT levasse apenas algumas dezenas de militantes, ninguém queria correr o risco de rachar com o PT, pois as trabalhadoras terceirizadas do telemarketing, da limpeza, os operários das fabricas, apoiavam o PT. As fabricas que nunca paravam nas manifestações, que desaprenderam a força da greve e a potência da classe trabalhadora nas ruas tomando nas mãos seu próprio destino.

Até mesmo quando os primeiros escândalos de corrupção e as primeiros cortes de direitos apareceram, devia-se ter muito cuidado em como e o quanto criticar, pois caso o contrário "estaria se fazendo o jogo da direita". E assim os trabalhadores, jovens e militantes de esquerda aprenderam a defender os seu oposto, a defender o indefensável!

Minha geração, ao contrário da geração dos meus pais petistas, ao contrário da geração de Gregório, aprendeu desde jovens a odiar os partidos, desprezar a política e a votar em artistas da TV. Eu, que sempre fui militante de esquerda, não os condeno. Pois foi isso que as gerações passadas ensinaram a eles. Que um partido de esquerda pode fazer um política de direita, pode falar uma coisa e fazer outra, e ainda ser defensável. Aprenderam que um partido de "esquerda" também pode atacar os direitos trabalhadores, a educação e a juventude, pode reprimi-los na ruas e mata-los nas favelas. O PT ensinou para a minha geração que isso é também ser de “esquerda”. Minha geração aprendeu a pensar somente em si mesmos, crescer na vida, emergir pra classe C e esperar passivamente que o governo fizesse algo por eles, ou até mesmo seu próprio patrão, por que não?

Finalmente o paradigma do PT está se ruindo, junto com seu governo e seu nome na história. As migalhas do lulismo se provaram tão efêmeras quanto um sonho de segunda-feira. Todas suas promessas semi cumpridas, ao longo de 8 anos, dois mandatos, evaporaram em apenas alguns meses. Finalmente o incriticável tornou-se indefensável. Minha geração aprendeu a ir as ruas, aprendeu os primeiros passos para fazer a roda começar a girar novamente, varreu as ruas com um grito instintivo contra seus algozes, não importava mais as justificativas, as boas intenções, o nome que davam para os governantes e seus políticos, estavam dispostos a varrer tudo que existiu até ali. Os operários das fabricas despertaram com tal grito, reaprenderam a utilizar a greve como um instrumento de luta de nossa classe.

Mas o grande dilema que resta hoje é que minha geração ainda não aprendeu o que é realmente ser de esquerda, defender os trabalhadores, lutar por um futuro sem exploração e opressão e a importância de se organizar e construir instrumentos políticos para conquistar suas demandas. Este dilema permanece em aberto. A oposição de direita tenta aparecer como uma alternativa.

Alguns militantes do PT permanecem tentando reanimar o morto, justificando o injustificável, presos na conservação de suas próprias trajetórias de erros, como um capitão que naufraga com seu navio. Outros assistem sua própria ruína e as consequências de suas ações como se nada tivessem a ver com isso, no máximo, colocando a culpa na direita. Outros tentam dar sentido ao seu passo defendendo a tragédia do presente, agitando o "golpe" mais que os próprios "golpistas".

A roda da história não para, e o PT está sendo esmagado por ela. Mas o pior é que, se depender dele, irá levar junto consigo a imagem do que é ser de esquerda para sua cova, e isto sim será um prato cheio para a direita. Não basta mais “ser de esquerda”, pois hoje esta é uma identidade que perdeu seu sentido histórico para ampla camada de jovens e de trabalhadores. Mais uma vez está provado pela história que nem todos os caminhos levam a Roma. Que nem toda “esquerda” segue o mesmo caminho. Que não basta seguir uma “figura carismática” que unifique a todos, que não basta votar. Agora é preciso dizer novamente o que é ser de esquerda. É preciso não só “ser de esquerda”, é preciso ter ideias, e almejar apresenta-las, disputa-las na grande política, provar que tudo que foi feito até agora não é “ser de esquerda”. Finalmente a esquerda está impelida a se pôr em movimento. E está colocado o desafio de aprender com seus erros, reconstruir o que já no início foi esquecido, tomar consciência da importância da palavra PRINCÍPIOS! E nunca mais se esquecer, e ensinar, que esquerda e direita não se trata de dois lados de um mesmo parlamento, mas sim, duas classes com interesses inconciliáveis, que ser de esquerda é estar do lado da classe trabalhadora, dos pobres, das mulheres, dos negros, da juventude e dos LGBTs, contra toda e qualquer política da burguesia e seu estado.

Talvez a coluna de Gregório seja um ponto de expressão de ruptura das gerações petistas. Talvez alguns resistam mais, outros menos. Mas no final o que realmente importa é não cometer os mesmo erros novamente e não permitir que o PT arraste consigo para o desfiladeiro a imagem daqueles que estão e sempre estiveram ao lado dos trabalhadores e setores oprimidos. Mais do que motivos para chorar, temos uma oportunidade para lutar, como se nunca lutou antes em nosso país!


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