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PTS-FIT ARGENTINA | Parlamentarismo revolucionário: a tradição ganhou herdeiros

segunda-feira 11 de dezembro de 2017 | Edição do dia

A última semana tivemos dois acontecimentos relevantes na Argentina, em níveis diferentes, em relação a luta política por parte da esquerda revolucionária no país. No nível político superestrutural assumiram os novos deputados em diferentes níveis nacional, estadual e municipal da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) com destaque entre eles os do Partido de Trabalhadores Socialistas (PTS), organização irmã do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) no Brasil, e no plano da luta de classes mais direta o deputado Raul Godoy de Neuquén, integrante desta força política, foi ferido pela brutal repressão contra organizações solidárias aos trabalhadores de uma madeireira neuquina ocupada pelos seus trabalhadores contra as demissões.

Em relação com o primeiro nível, alguns dos legisladores que assumiram foram Nicolás del Caño (província de Buenos Aires) mais uma vez como deputado nacional, Alejandro Vilca em Jujuy, depois de uma extraordinária eleição na província do norte do país e merece um especial destaque Myriam Bergman, na Cidade Autónoma de Buenos Aires, que sendo vaiada pelos macristas (em referência aos partidários do Presidente direitista e empresário Mauricio Macri) gerou um fato político nacional que não conseguiu ser ignorado sequer pela imprensa burguesa e os principais programa políticos na TV.

Para ter um panorama geral nesse plano desta jornada recomendamos a leitura “De Jujuy a Buenos Aires o compromisso dos deputados operários e socialistas” neste jornal.

Em relação do segundo nível, o deputado em Neuquén Raul Godoy, um dos principais dirigentes do Partido de Trabalhadores Socialista (PTS) e operário de Fasinpat (Fábrica sem Patrões), ex Zanon, fábrica controlada pelo seus trabalhadores, foi ferido durante a repressão para desocupar a madeireira “Maderas al Mundo” (MAM) que há cinco meses demitiu todos os seus 97 trabalhadores e desde então a planta está ocupada por seus empregados, exigindo a reabertura e reinstalação dos postos de trabalho. A madeireira foi invadida violentamente pelas forças repressivas e as organizações políticas e sociais solidárias foram reprimidas também em duas ocasiões ferindo o deputado operário.

Em outubro de 2014 o deputado nacional Nicolás del Caño (PTS-FIT), também foi reprimido com balas de borracha durante um bloqueio de estrada, na Avenida Panamericana na zona Norte da grande Buenos Aires, no marco do conflito operário mais longo da década kirchnerista, em solidariedade com os trabalhadores da fábrica de autopeças LEAR.

Há quem diga que é impossível conquistar influência em setores de massas com um programa de independência de classe dos trabalhadores. O PTS na FIT questiona esse arquétipo de ceticismo: mesmo no terreno eleitoral, a Frente de Esquerda argentina conquistou 1,2 milhão de votos (em uma eleição similar no Brasil, esse resultado é 5 vezes maior que o resultado do PSOL nas eleições de 2014). Mas não apenas isso: mostram que o que de melhor deu o marxismo e o movimento operário no século XX está vivo e cresce no século XXI.

O que pretendemos destacar brevemente é que isto, mesmos em âmbitos diferentes, não é produto da casualidade mas fazem parte de uma estratégia política conhecida na tradição do movimento operário mundial como Parlamentarismo Revolucionário, que articula a luta parlamentar com a extraparlamentar subordinando a primeira a segunda. Numa analogia com a arte militar, assimilada criticamente pelo marxismo, essa diferenciação acima remete à diferenciação entre tática e estratégia, subordinando também a primeira, neste caso a tática parlamentar, à segunda, a estratégia revolucionária.

Finalizadas as eleições de legisladores na Argentina, de outubro de 2017, escrevemos uma matéria sobre a importância política do parlamentarismo revolucionário, onde desenvolvemos o parlamentarismo revolucionário como tradição política no marxismo revolucionário.

Como esclarecemos no mencionado artigo, esta tradição política surge na segunda Duma em 1907 depois da Revolução Russa de 1905; também temos o deputado comunista alemão Karl Liebknecht em 1914, com seu voto contra os novos créditos de guerra durante I Guerra Mundial; e temos uma continuidade dessa tradição na experiência do PTS-FIT na Argentina.

Podemos acrescentar que no segundo congresso da III Internacional, a Internacional Comunista, realizado em Moscou em julho de 1920, consta nas suas resoluções sobre O Partido Comunista e o Parlamentarismo, a parte III que se refere a Tática revolucionária e apresenta um conjunto de medidas políticas sobre a atuação dos parlamentares revolucionários.

Das doze medidas políticas apresentadas na resolução destacaremos três.

A medida política número onze, que define que a tribuna parlamentar deve ser usada para desmascarar a burguesia e seus lacaios assim como as demais forças políticas, com ausência de independência política, coisa que ficou clara só como exemplo no juramento de Myriam Bergman que fez seu compromisso e gerou a ira dos macristas:

“Pela luta dos trabalhadores, as mulheres e os povos oprimidos do mundo. Por continuar a luta contra a impunidade dos empresários que organizaram e se beneficiaram com o golpe cívico militar. Por Rafael Nahuel e Santiago Maldonado. Por acabar com a barbárie capitalista”.

Para assistir o vídeo com legendas em espanhol, clique aqui.

A medida política número cinco, que define que os deputados devem subordinar toda sua atividade parlamentar a ação extraparlamentar do partido, e também a número seis, que pauta que todo deputado deverá se colocar a cabeça das massas proletárias, na primeira fileira, bem à vista e nas ações revolucionárias.

Para o conjunto destes parlamentares revolucionários, nos diferentes níveis nacional, provincial (estadual) e municipal isto é uma questão cotidiana, mas aparece com mais força em momentos de repressão como são os casos descritos, os exemplos de Nicolás del Caño no conflito de LEAR e mais recentemente o de Raul Godoy.

São um conjunto de bancadas a serviço dos trabalhadores, das mulheres e dos jovens, que estarão apoiando cada luta, cada greve e cada ocupação na tentativa de organizar a luta contra o ajuste e as “reformas” de Macri e dos governadores. Para denunciar como falava Lenin, usando esses espaços como como uma tribuna de agitação, de propaganda das ideias revolucionárias, de denúncia do próprio regime político, e claro, sem nenhuma ilusão quanto aos limites desse espaço, fazendo um uso tático desse espaço em prol da estratégia revolucionária.

Trata-se de um enorme exemplo a ser seguido pela esquerda brasileira.




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