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PT | Para se reintegrar ao regime do golpe, PT busca a reconciliação em 2022 com PSB que apoiou ataques

Retraçando as novas páginas da velha cartilha reformista, o PT já se prepara para as futuras alianças com partidos burgueses, seguindo os acenos que já vinha dando neste sentido, com o objetivo de canalizar para as eleições toda catástrofe social que estamos sofrendo hoje, que tão somente fortaleceu a direita e setores reacionários desde o golpe institucional de 2016

quinta-feira 8 de abril de 2021 | Edição do dia

Retraçando as novas páginas da velha cartilha reformista, o PT já se prepara para as futuras alianças com partidos burgueses, seguindo os acenos que já vinha dado neste sentido, como indicou Lula em entrevista a Reinaldo de Azevedo as ideias de privatização de estatais pela via de economia mista Eletrobras, Furnas e Caixa Federal. Em reunião com o PSB, partido que descarregou todas suas forças para apoiar o Golpe Institucional de 2016, do qual se seguiu uma enorme margem para crescimento da direita e seus setores reacionários, como o agronegócio, Lula se mostrou aberto e com "muita disposição" à aliança "democrática" para 2022, como o próprio presidente do PSB destacou em notas da imprensa.

Desta reunião foram participantes Gleisi Hoffmann (executiva do PT), Carlos Siqueira, como já informado, e os demais representantes do PSB nas figuras do governador Renato Casagrande (ES), Márcio França e o deputado Paulo Teixeira (SP). A princípio, o encontro teria sido organizado com o objetivo de levantar uma "frente em defesa da democracia" e medidas para o enfrentamento da pandemia e, para os presentes, as discussões de articulações política em 2022 ficou em segundo plano. Cabe dizer que o movimento de construir uma frente ampla se insere na esteira de buscar os partidos do Centrão, como Lula já se mostrou favorável.

Para além da demagogia de enfrentamento à pandemia, que nenhum governador, inclusive os do PT na região nordeste levaram efetivamente à frente, o equivalente vale a Renato Casagrande ou Paulo Câmara, governadores do PSB, a estratégia petista de reconciliação com a direita golpista foi o cerne da reunião. Lula fez questão de reeditar seus anteriores "diálogos para além da esquerda", inclusive relembrando a aliança com o PL de José Alencar como vice-presidente já no inicio do primeiro governo do PT, o que, com efeito, agradou imensamente Carlos Siqueira.

Se a conciliação de classe perdoa facilmente os ataques da direita, os trabalhadores, que os sentem na pele, não. O PSB, de Márcio França, foi defensor de primeira linha do golpe institucional de 2016, responsável por colocar Michel Temer (MDB) no poder, e da operação Lava-Jato, a qual abriu caminho para ascensão da extrema-direita, desde o crescente autoritarismo do judiciário, por meio das tomada de decisões do STF, que prendeu arbitrariamente Lula, impedindo à população o direito democrático ao voto no candidato que escolhesse, isto é, aquilo que resta de pouco democrático oferecido por um regime político burguês.

Ainda que 2016 pareça já distante para o PT, seus efeitos catastróficos são bastante atuais. A reforma trabalhista de Temer, da qual teve peso ativo o próprio PSB enquanto base de governo, que empenhou metade de sua bancada a favor, abriu espaço para a expansão da precarização do trabalho, diminuição dos salários e aumento do desemprego no país que vivemos agora. Ora, vejamos se não foi o próprio Carlos Siqueira que declarou em artigo à Folha de São Paulo que “a inaceitável narrativa do "golpe" beira o "ridículo” e ostenta as reacionárias falas de seus parlamentares nas votações pelo impeachment de Dilma.

Por outro lado, o PSB, com Jonas Donizette (ex-prefeito de Campinas) liderou a frente nacional de prefeitos pela reforma da previdência, oferecendo um confortável e seguro caminho para o fortalecimento da extrema direita de Bolsonaro e Paulo Guedes. Na Alesp, deputados votaram a favor do projeto paulistano previdenciário de Dória, para retirar direitos de servidores públicos e permitir maior exploração dos trabalhadores, enquanto professores eram duramente reprimidos pelas tropas do Choque da polícia militar. Fora este ataque, também apoiaram a anistia aos imóveis irregulares (que abarcaram de maneira indiscriminada também os grandes imóveis, incluindo aqueles da especulação imobiliária), privatizantes dos parques, cemitérios, terminais de ônibus.

Durante as duras crises enfrentadas pelo povo pobre durante a pandemia, sobretudo o aumento da miséria e do desemprego, o PSB votou a favor da MP 936 que suspendeu contratos de trabalho, cortou jornadas e salários, reforçando ainda mais a penúria social que se estabelecia durante os primeiros meses da pandemia e que hoje assumem números que apontam mais de 19 milhões de pessoas passando fome no país, como apontou pesquisa realizada pela Rede Penssan, apresentada há três dias.

Segundos Carlos Siqueira, Lula "mostrou que há necessidade de ampliação das forças políticas em programa comum. Aquele discurso inicial muito estreito, petista, acho que ele foi aberto. (...) somado à necessidade objetiva de enfrentamento ao bolsonarismo". Evidentemente, a abertura consiste no esquecimento e perdão de golpistas por parte do PT e na sua atual estratégia de se reintegrar ao regime sem combater os duros ataques, responsáveis pelas imensas pioras na qualidade de vida da população, mas adaptando-se a eles e reforjando alianças espúrias com a direita e o centrão, como pode ser conferido na entrevista que Lula concedeu a Reinaldo de Azevedo.

Contra qualquer ilusionismo alimentado pelo PT, que durante anos de governo se dispuseram a selar acordos que somente beneficiaram o aumento de poder político e econômico de setores reacionários, hoje base do governo Bolsonaro, como é o caso da bancada evangélica e do agronegócio, a conformação de uma frente ampla, com partidos burgueses, em 2022 para enfrentar o bolsonarismo, mostra a falência da estratégia reformista. O PT quer reeditar os caminhos que nos trouxeram até aqui e trabalham para canalizar para as eleições toda catástrofe social que estamos sofrendo hoje, dispostos não apenas a aceitar os ataques que já passaram pelo regime do golpe, como também as privatizações.

O capitalismo, durante toda a experiência da pandemia, se mostrou incapaz de realizar qualquer medida mínima de combate efetivo à crise sanitária. Sem testes massivos, sequer houver uma organização científica da quarentena. Trabalhadores continuaram em empregos precários, com alta exposição, sujeitos a transportes lotados diariamente, sem direitos trabalhistas e auxílios suficientes para se alimentar e manter cuidados higiênicos básicos. Nossos idosos não têm quaisquer perspectivas de uma velhice que possa ser proveitosa, obrigados a trabalhar até morrer e sem acesso a um sistema de saúde pública de qualidade, depois dos imensos cortes aprovados pela EC95 de Temer e das atuais investidas privatistas de Bolsonaro contra o SUS, e hoje somam os milhares de mortos de covid-19.

Frente a toda catástrofe que estamos vivendo, não podemos esperar e devemos lutar por uma real via de transformação. É urgente uma única unidade: a dos trabalhadores, desempregados, informais, efetivos, terceirizados e toda juventude precarizada. O sujeito histórico que, definitivamente, é capaz de aplicar um freio aos avanços da extrema-direita e todos os esmagadores ataques e ajustes promovidos em conjunto pelo STF, Congresso, Bolsonaro e a criminosa condução da pandemia é a classe trabalhadora com seus métodos de luta.




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