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GUERRA | Para Tony Blair, a decisão de invadir o Iraque foi impopular, porém correta

Após a publicação do informe Chilcot, o ex-primeiro-ministro, Tony Blair, afirmou que cometeu erros, mas que o mundo está “melhor e mais seguro” sem Sadam Hussein.

sexta-feira 8 de julho de 2016 | Edição do dia

O ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que esteve no poder entre 1997 e 2007 e ganhou três eleições gerais consecutivas, foi nessa quarta-feira duramente criticado após a publicação do conteúdo do informe Chilcot. Esse informe oficial revelou que o Reino Unido invadiu o Iraque no ano de 2003 sem haver “esgotado todas as opções pacíficas” e sem provas justificadas.

Blair respondeu ao informe dizendo que assumia “toda a responsabilidade” por qualquer erro cometido na invasão, mas adicionou que tomou a decisão de “boa fé” e para “o melhor interesse” de seu país.

Ainda assim, Blair reconheceu as “divisões” que a guerra provocou em seu país e explicou que sentia “profundamente” a dor e o sofrimento das famílias que perderam entes queridos.

“A informação da inteligência que se produziu no momento da guerra resultou ser errônea, e as consequências, mais hostis, prolongadas e sangrentas do que havíamos imaginado”, apontou Blair em uma aparição pública.

“Sabia que era uma decisão impopular”, disse Blair, que reforçou que a tomou porque pensava que “era correta” e que o custo em vidas humanas “seria maior a longo prazo” se decidisse não intervir.

“O que não posso aceitar, como dizem alguns, é que, separando Sadam, provocamos o terrorismo de hoje em dia no Oriente Médio e que deveríamos tê-lo deixado lá. Estou profundamente em desacordo com isso”, afirmou Blair, para quem o então presidente iraquiano era “uma contínua ameaça para a paz e para seu próprio povo”.

Blair afirmou que, treze anos após a invasão, o cenário político no Iraque é melhor do que teria sido se não tivesse intervindo.

Com uma visão bastante particular sobre a complexa situação que se vive hoje no país do Oriente Médio, Blair afirmou que “ao menos no Iraque, ainda que apresente muitos desafios, temos um Governo eleito, reconhecido como legítimo pela comunidade internacional, que está lutando contra o terrorismo”.

Pedido de processo contra os responsáveis

As famílias dos 179 militares britânicos falecidos, que estiveram na apresentação do informe na quarta-feira e tiveram acesso a esta antes de sua divulgação, anteciparam que estudarão medidas legais contra as pessoas que autorizaram a invasão.

Roger Bacon, cujo filho faleceu no conflito, explicou em conferência de imprensa que os parentes das vítimas “se reservam o direito” de recorrer aos tribunais contra as “partes implicadas”.

Na porta do centro Queen Elizabeth II, numerosas pessoas críticas à intervenção armada se manifestaram com cartazes, muitos deles com mensagens a favor de processar o ex-chefe do Governo trabalhista por crimes de guerra.

Desde as fileiras da oposição, o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, muito crítico à guerra e que votara contrariamente a ela no Parlamento na época, ressaltou que a intervenção foi um “ato de agressão militar” baseado em um pretexto “falso”.

“A decisão de invadir e ocupar o Iraque em março de 2003 foi a decisão de política externa mais significativa tomada por um Governo britânico em tempos modernos”, agregou Corbyn.

Um massacre imperialista que deixou ao menos 150 mil iraquianos mortos

O informe Chilcot veio para provar o que uma boa parte da opinião pública mundial considerava já um fato: a guerra do Iraque foi iniciada em base a informes falsos para justificar a ofensiva bélica dos Estados Unidos e seus aliados (especialmente o Reino Unido e o Estado Espanhol) no Oriente Médio após os atentados do 11S.

Chilcot afirmou após a apresentação de seu informe que o então presidente iraquiano, Sadam Husein, não supunha uma ameaça antes de março de 2003, como afirmara Blair no Parlamento na época, e mencionou o estado crítico em que se encontra hoje o Iraque pela violência sectária.

“A invasão e posterior instabilidade no Iraque resultou, em julho de 2009, na morte de ao menos 150 mil iraquianos, provavelmente mais, e a maioria deles civis. Mais de um milhão de pessoas foram deslocadas”, ressaltou Chilcot.

A guerra contra o Iraque em 2003 foi uma ação bélica imperialista na qual os Estados Unidos colocaram em prática, após os brutais atentados do 11S em Nova York, sua doutrina de “guerra preventiva”, ou seja, seu “direito” de empreender ações militares preventivas contra qualquer estado soberano, assim como de impor uma “mudança de regime” por meios militares em todo lugar que considere que estão ameaçados os interesses vitais econômicos e de segurança do Estado e as grandes firmas norteamericanas.

Seu objetivo, do mesmo modo que no Afeganistão, foi tanto saquear os recursos naturais do país a favor de um consórcio das maiores companhias petroleiras norteamericanas e britânicas, como reforçar a dominação imperialista norteamericana no Oriente Médio.

Contra isso, rebelaram-se centenas de milhares de pessoas nos Estados Unidos, na Europa, na América Latina e no resto do mundo que então tomaram as ruas para condenar a nova ofensiva bélica.

O informe Chilcot, ainda que não seja seu objetivo, é uma prova do acerto de todas as denúncias do movimento contra a guerra do Iraque.

Tradução: Vitória Camargo




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