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Para Guedes empregada doméstica só pode sair da senzala pra casa da sinhá

A fala racista de Paulo Guedes ecoa todo o peso da tradição escravocrata de nosso país em que as mucamas, mulheres negras escravas, podiam até prestar serviço na Casa Grand emas tinham de saber que seu lugar é na senzala.

quinta-feira 13 de fevereiro de 2020 | Edição do dia

[Era] todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada”, afirmou o ministro Paulo Guedes em defesa da alta do dólar.

O Brasil nunca acertou as contas com esse passado escravocrata que perdurou mesmo após a abolição da escravidão, quando as mucamas se transformaram nas empregadas domésticas, sem ainda terem os mesmos direitos. Somente em 2015 as empregadas domésticas passaram a ter reconhecidos os mesmos direitos trabalhistas do restante de qualquer trabalhador. Reconhecimento formal que a crise econômica tratou de derrubar, 70% delas estão na informalidade.

O trabalho doméstico funciona como uma opressão geral das mulheres, uma dupla jornada que recai quase que exclusivamente a elas. Porém em nosso país a burguesia, e mesmo as classes médias, sempre puderam contar com esse resquício escravocrata que relegou às mulheres negras a superexploração no trabalho doméstico. Basta constatarmos os números.

Em 2018, 6,2 milhões de pessoas tinham como ocupação o serviço doméstico remunerado, que assume variadas formas, como as atividades desempenhadas por diaristas, babás, jardineiros e cuidadores. Ao todo, 92% (5,7 milhões) eram mulheres, das quais 3,9 milhões eram negras (68,5%).

Não existe nada de casual na fala de Guedes, o ato falho de seu discurso é exposição dos verdadeiros propósitos deste governo, recolocar os negros e negras no lugar que lhes pertence. O lugar o qual sua classe acha que lhes pertence, a senzala, ou hoje em dia, os trabalhos precários, terceirizados, serviços por aplicativo, a informalidade; todas as formas da escravidão moderna. Esta é parte do choque à direita nas relações sociais que o governo Bolsonaro representa.

Para esse objetivo implementaram e buscam aplicar suas reformas, para uma vez mais fazer o chicote estalar no lombo dos trabalhadores, principalmente os negros e negras. Cada uma dessas reformas e ataques atinge o conjunto da classe trabalhadora, mas principalmente a população negra. A reforma trabalhista de Temer possibilitou aos patrões intensificar a exploração, medida aprofundada por Bolsonaro numa série de decretos, como o do Trabalho Verde e Amarelo. A reforma da previdência ataca o direito a aposentadoria, elevando a idade mínima, em muitos casos para além da expectativa de vida, especialmente entre a população negra.

O significado da frase de Guedes é explícito: é necessário rebaixar as condições de vida desse grupo. Porém, atacando as condições de vida das empregadas domésticas, Guedes quer rebaixar do conjunto da classe trabalhadora. Um contingente de negros e negras em postos de trabalho informais ou precários rebaixa as condições gerais do trabalho, através da ameaça da precarização. Foi para esta ameaça que o PT abriu a porteira ao não só permitir como estimular uma crescente terceirização do trabalho.

Contra o avanço desse projeto é necessário que os negros e negras estejam organizados para resistir, em aliança com o conjunto da classe trabalhadora. Não para que as empregadas domésticas possam ir à Disney. Para que elas, e o conjunto da população, tenham sim acesso às mordomias do sistema capitalista, mas para que elas possam em primeiro lugar superar por completo as amarras escravocratas que seguem vinculando os negros e negras a senzala, e derrubar os senhores de engenho de ontem e hoje.




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