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RUMO AO ENCONTRO DE MULHERES E LGBTs | Pão e Rosas realiza debate sobre Transfobia na UNICAMP

Estudantes do Pão e Rosas organizaram na última quinta (13/08), na UNICAMP um debate intitulado "Transfobia: qual feminismo para a emancipação de quem?".
A discussão partiu dos casos recorrentes de agressão às pessoas trans, que retomaram visibilidade com o esfaqueamento da atriz Viviany Belebonin, mulher trans da performance da crucificação na Parada LGBT de São Paulo deste ano. A agressão ocorreu no último sábado, mas o caso retrata o cotidiano das LGBTs no Brasil, país recordista em seus assassinatos.

Marie CastañedaEstudante de Ciências Sociais na UFRN

sexta-feira 14 de agosto de 2015 | 22:41

A motivação para fazer essa discussão na UNICAMP partiu também das pixações encontradas nos banheiros femininos do PB e do IFCH, de cunho transfóbico, como "Ser mulher ainda não é usar nossos sapatos" e "Não deixem que os homens ocupem nossos espaços", muitas das quais são assinadas por “lésbicas radicais”.

Cássia Rodrigues, coordenadora do CACH e militante lésbica do Pão e Rosas, contou um pouco do que foi debatido na atividade "Buscamos retomar a origem das opressões que vivemos, o machismo e consequentemente a LGBTfobia, partimos das origens do patriarcado, muito anteriores ao sistema de produção capitalista que hoje faz uso dele. Desenvolvemos que a opressão surge a partir da divisão da sociedade em classes , a partir da transformação da propriedade comum em propriedade privada, com o desenvolvimento material e acúmulo de excedente na produção que antes servia à restrita subsistência e o que isso significou pras mulheres, sem direito à propriedade e reclusas ao ambiente privado. Nos tempos modernos, com a entrada massiva das mulheres e também crianças no mercado de trabalho, ou seja, no chão de fábrica, a sua ’fragilidade’ que é embasada no mito da inferioridade, passa a ser justificativa para pagar menores salários e extrair mais mais-valia. A classe trabalhadora como um todo foi então colocada numa situação de total castração, o trabalho cotidiano de longas horas, somadas as poucas horas de sono e, para as mulheres e as LGBTs, às duplas jornadas, nas quais eram (e ainda são) obrigadas a garantir a manutenção da vida: lavar, passar, fazer comida. Vale lembrar que ser LGBT já era completamente proibido."

Vitória Camargo, estudante de Ciências Sociais e militante do Pão e Rosas, comentou que "Com a acumulação de excedente de produção a sociedade foi transformada, as relações de trabalho modificadas e a riqueza passou a ser propriedade privada. Com essa nova divisão social do trabalho houve um aumento das riquezas em mercadorias e escravos, e ao lado da riqueza em dinheiro apareceu a riqueza em terras. Com as transformações sociais que se desdobraram se desenvolveu a classe dominante e exploradora, a burguesia, que necessitava também de uma ferramenta para impor sua dominação sobre a outra classe fundamental conformada, o proletariado, e exercer sobre a sociedade sua hegemonia política. Para isso e fez do Estado uma peça chave de dominação de uma classe sobre outra. A crise atual mostra bem pra que ele serve, com os ajustes de Dilma, que implementa a agenda da direita e teve em seu governo muitos acordos com os setores mais conservadores. Assim, ele também serve para cercear direitos das mulheres e LGBTs, seja no sentido de serem reconhecidas como tal, ou no sentido de garantirem creches, aborto seguro e gratuito, lavanderias e restaurantes públicos, pelo contrário, ele pratica uma violência contra os setores oprimidos, por defender os lucros e os interesses da burguesia. Ou seja, contrariamente ao que defendem as feministas radicais, isso não se dá porque o Estado é produto do homem, mas instrumento a serviço de uma classe. É uma mulher no mais alto cargo político que está implementando esses ataques contra os setores oprimidos e nossa tarefa transitória a necessária destruição do estado burguês passa pelas exigências a que ele garanta os serviços públicos e direitos elementares à vida das mulheres."

A discussão em torno da atual situação de opressão das identidades trans*, tanto sua marginalização no mundo do trabalho, as questões estruturais que não permitem com que a imensa maioria consiga cumprir os anos de Ensino Básico, muito menos sonhar em um curso superior, foram expressas com muita força por Beatriz Pagliarini, autora do Blog Transfeminismo e estudante de Linguística da UNICAMP. Bia discutiu também a problemática da transfobia dentro do movimento feminista, embasado em teorias que individualizam e culpam as pessoas por performar determinados estereótipos de gênero, não levando em consideração nem a necessidade de pensar essas performances de gênero dentro do mundo que vivemos, nem oferecer uma saída coletiva.

Bia comentou ao ED:
"Discutir a transfobia em espaços tão excludentes como as universidades públicas é de fato uma necessidade dos movimentos que se propõem a luta contra as opressões. Com a atividade pudemos reafirmar a importância de levar o debate de classes para compreender as formas de opressão machistas. A construção de um feminismo classista que não apague as denúncias de opressão transfóbica e que compreenda a centralidade das reivindicações transgêneras como legítimas e necessárias para pensar uma sociedade mais justa é certamente um ganho que posso pontuar."

A transfobia dentro do movimento feminista e mais especificamente o feminismo radical não compreendem as opressões como estruturais e, portanto, fundamentais para a geração de lucro dentro do capitalismo. A defesa dos oprimidos, aqueles “que com mais força lutam pelo novo, porque são quem mais sofre com o velho” para Trotsky e para nós do Grupo de Mulheres Pão e Rosas é uma defesa intransigente, diretamente envolvida e ligada à luta de classes.

A atividade foi realizada como construção do Encontro de Mulheres e LGBTs organizado pelo Pão e Rosas, onde queremos reunir centenas de Mulheres e LGBTs para fazer pulsar emancipação de fato. O Encontro será no dia 29/08, às 15h00 no Sindicato dos Metroviários de São Paulo! Entre em contato com qualquer militante do Pão e Rosas ou da Juventude ÀS RUAS para mais informações!




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