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CULTURA | Paisagem Acrílica: Poesia, Blues e Viola Caipira

Publicamos mais três poemas do livro Paisagem Acrílica, do poeta Paulo Ciriaco, escrito nas madrugadas beat ou depois de mais um dia de trabalho ou desemprego em Taubaté, região do Vale do Paraíba, importante pólo industrial no interior de São Paulo.

Fábio NunesVale do Paraíba

quarta-feira 10 de fevereiro de 2016 | 00:19

Aos trancos e barrancos poesia fora dos eixos comerciais e burocráticos. Uma janela pesada para os dias empoeirados. Tem polícia e desenho animado na praça da Catedral.

De bike, a pé ou de ônibus, com a pastinha de haicais debaixo do braço, Ciriaco lança seu poema tranquilo na terra do Sítio do Pica-Pau Amarelo e das montadoras de automóveis, mas às vezes veste a fantasia de carne de pescoço porque sabe que o lugar da poesia é na calçada. Da greve ao teatro, ele constrói paisagens surreais do cotidiano concreto. Às vaias, às favas, ao trem que carrega minério de estrela.

Su Hermosura
Não deixou o sol entrar pela janela.
(fechou os olhos para não dormir, não sonhar)
Encontrou nos labios o beijo desprotegido.
(aprendeu lapidar as cinzas e espalhar o barro)
Estilhaçou lágrimas na presença acústica do outro no espelho.
E não permitiu apresentar-se o artista cômico. Mas construiu no abismo o último riso de vida.

A garrafa térmica
A verdade grudada na sola do sapato:
O chão guarda de memória o número de pés que lhe pisaram as costas?
Entretanto, o vagalume confraterniza-se com a corrente sanguínea da lâmpada acesa. A hiena sofre uma overdose de física quântica e a projeção dos erros congela o movimento do beija-flor. Mas as crianças brincam de envelhecer e não temem quebrar vasos de porcelana e arranhar a rotina. Percebem que hoje pode não chover.

Não queremos ser
o bode expiatório
da paz - Disseram as pombas em passeata.




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