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Eleições Argentina | Pablito: "Eleição de Vilca na Argentina é força para luta negra, indígena e socialista no Brasil"

Neste domingo, 14 de novembro, ocorreram as eleições para deputados na Argentina, em que a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade (FIT-U) teve resultado histórico, com 4 deputados e diversos vereadores. A FIT-U reúne o Partido de los Trabajadores por el Socialismo (PTS, organização irmã do MRT), o Partido Obrero (PO), a Izquierda Socialista (IS) e o Movimiento Socialista de Trabajadores (MST). Marcello Pablito, trabalhador da USP, militante do Quilombo Vermelho e dirigente do MRT, conversou com o Esquerda Diário sobre o marco inédito e histórico da eleição de Alejandro Vilca, gari, indígena e trotskista da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade (FIT-U) na Argentina.

segunda-feira 15 de novembro de 2021 | Edição do dia

Entram no Congresso Nacional argentino Myriam Bregman (PTS), Nicolás del Caño (PTS), Romina del Plá (PO) e Alejandro Vilca (PTS). Também entram na Cidade Autônoma de Buenos Aires dois legisladores, dois deputados provinciais da província e vereadores que lutam em diferentes municípios. A FIT-U supera os liberais e é a terceira força nacional. Marcello Pablito conversou com a gente sobre o resultado de Alejandro Vilca, gari, indígena e trotskista, deputado eleito pela província de Jujuy:

A eleição de Alejandro Vilca na Argentina é força para a luta negra, indígena e socialista no Brasil. A Argentina é um país afetado brutalmente pela crise capitalista global, com inflação de mais de 50%, e é governada por Alberto Fernández, que é um presidente com uma cara progressista, mas que tem um programa neoliberal. Na realidade, se consolida como terceira força uma esquerda que se enfrenta com o imperialismo do Fundo Monetário Internacional, que endivida o país, em prol dos lucros dos grandes bancos e empresários internacionais. Dívida cujo pagamento é garantido pelo governo de Alberto Fernández, mesmo em meio à acachapante pandemia.

Alejandro Vilca é o primeiro indígena kolla, gari e socialista eleito para o Congresso Nacional argentino. Com as demais referências da FIT-U, defende um programa de independência de classe. E sem sombra de dúvidas vai dar voz para a luta dos trabalhadores e dos setores oprimidos, como sabemos que é a atuação da FIT-U no Congresso. Em 2006, fez parte de uma luta junto a outros trabalhadores da educação, saúde e estatais por melhores condições de trabalho e efetivação. Depois de alguns anos foi efetivado junto a outros trabalhadores na coleta de resíduos, onde permanece até hoje no cargo de gari. Na sua candidatura, fez parte de defender reajuste salarial mensal igual à inflação, a redução da jornada de trabalho para 6 horas, 5 dias na semana, e a divisão das horas de trabalho entre todas as mãos disponíveis, sem redução salarial, para unificar empregados e desempregados.

Esse é um aspecto de programa que pode responder às angústias das massas trabalhadoras que enfrentam a fome, o desemprego, aqui no Brasil também, e em especial as massas trabalhadoras negras e indígenas. Se hoje nos colocamos na luta contra o Marco Temporal, contra os ataques de Bolsonaro, Mourão, Congresso e STF, como a Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência, Lei da Terceirização, Vilca é um ponto de apoio internacional para a luta unificada de trabalhadores, indígenas, negros, mulheres, jovens e LGBTQIA+ no Brasil e em toda a América Latina.

Nos inspirando na defesa de um programa de independência de classe como coloca Vilca e a FIT-U, podemos dar o combate pela demarcação de terras indígenas e titulação das terras quilombolas, por reforma agrária e por reforma urbana verdadeiramente radicais. Assim como fortalecer nosso ódio contra a violência policial que mata a juventude negra, contra a desigualdade salarial entre negros e brancos. Estamos num país em que uma mulher negra ganha 60% do salário de um homem branco. Se para ter uma saída de fundo para o desemprego e a inflação aqui é necessário unificar a classe trabalhadora e os setores oprimidos por reajuste salarial igual à inflação, divisão das horas de trabalho sem redução de salário, e por um grande plano de obras públicas por emprego para todos, esse é um programa também para responder à uma classe em que metade é negra. E é nesse sentido que os trabalhadores de conjunto, negros e brancos, tem também que lutar por igualdade salarial entre negros e brancos, pela efetivação de todos os terceirizados, maioria de mulheres negras, sem necessidade de concurso público. Fundamental debate para o próximo 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra.

Veja também: #ForaBolsonaroeMourãoRacistas! 20N: Basta de chacinas, fila do osso e precarização. Que os capitalistas paguem pela crise

Esse impulso de Vilca e da FIT-U pode ajudar a incendiar a nossa classe brasileira que já demonstra disposição em diversos focos de resistência, como os garis no Rio de Janeiro, como os operários da MRV. É essa força que devemos confiar, como a esquerda argentina que se liga aos processos de luta. Temos que fazer ecoar aqui no Brasil essa perspectiva, inclusive porque Vilca também superou a votação da força política de Alberto Fernández em Jujuy, cuja vice é Cristina Kirchner, profundamente ligada às burocracias sindicais, que aqui no Brasil, dirigida pelo PT e pelo PCdoB na CUT e na CTB, cancelaram os atos do dia 15 de Novembro, porque não querem de fundo organizar os trabalhadores contra Bolsonaro e Mourão, mas carregam uma estratégia meramente eleitoral para Lula 2022. O PT, que triplicou a terceirização em seus anos de governo. Então, sem confiar em nenhuma ala do regime político burguês da Argentina, e dando luta política com o freio das lutas que é a burocracia sindical lá, foi que Alejandro Vilca foi eleito com 25% dos votos, para que sejam os capitalistas a pagarem pela crise, e não as massas trabalhadoras e dos povos originários”.

Veja também: Alejandro Vilca: eleito o primeiro indígena kolla, gari e socialista ao Congresso Nacional argentino




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