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ARGENTINA | PTS realiza seu XV Congresso com centenas de delegados

segunda-feira 11 de julho de 2016 | Edição do dia

De sexta-feira (8) até domingo aconteceu o XV Congresso Nacional do PTS, que faz parte da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores [FIT] na Argentina e é organização-irmã do MRT. A reunião ocorreu na Cidade de Buenos Aires e com a presença de centenas de delegados e delegadas de todo o país, representando o trabalho político deste partido em organizações operárias, estudantis e da mulher, além de sua extensão territorial, com a abertura de centenas de novas sedes e expressa na presença de delegados de um importante conjunto das províncias argentinas.

Também participam representantes convidados dos grupos irmãos do PTS no Brasil, Uruguai e México.

São parte do Congresso além das principais referências políticas desta organização como Nicolás del Caño e Myriam Bregman – ambos ex-integrantes da candidatura presidencial da FIT –, Christian Castillo, Laura Vilches, Noelia Barbeito e Raúl Godoy, entre muitos outros.

A presidência honorária do Congresso, votada por unanimidade entre os delegados na primeira etapa, esteve dedicada aos jovens e trabalhadores da França que enfrentam duramente o governo de Hollande e sua política de flexibilização trabalhista.

Também foram consagrados como parte da mesa os milhões de afro-americanos que enfrentam a brutal violência racista do Estado imperialista norte-americana.
A presidência efetiva do Congresso reuniu trabalhadores de setores combativos que vêm se destacando em distintos processos de luta e organização, jovens representantes de uma nova geração que nasceu para a vida política nos últimos anos e companheiras destacadas por sua militância pelos direitos da mulher e contra a opressão imposta pelo patriarcado e pelo capitalismo.

O debate sobre a situação internacional

A sessão do primeiro dia esteve destinada à discussão sobre as tendências da situação política internacional. O debate se abriu a partir de um informe de Emilio Albamonte –dirigente fundador do PTS – sobre o desenvolvimento da crise econômica internacional, a persistente polarização política e social que se aprofunda a nível mundial e o crescente desgaste dos partidos políticos tradicionais nos países centrais.

Apelando à utilização da categoria de crise orgânica do revolucionário italiano Antonio Gramsci, o conjunto do informe e do debate neste dia girou ao redor das tendências ao desenvolvimento desta crise nos países centrais ao tempo que se evidenciavam fenômenos similares no Brasil e na Venezuela, ainda que não no conjunto da América Latina.

O Congresso discutiu também a situação das correntes da esquerda trotskista. Fez menção à recente ruptura do PSTU do Brasil, onde o grupo que acaba de romper com esta organização defende em sua declaração inicial alguns importantes pontos de contato com a posição defendida pelo MRT sobre a crise política que levou ao golpe institucional contra o governo de Dilma Rousseff.

Ver também: Dirigentes históricos e centenas de militantes rompem com o PSTU

Nos marcos destas tendências internacionais, o Congresso discutiu a mudança progressiva na forma de pensar de amplos setores de massas, onde começam a emergir questionamentos ideológicos e culturais a aspectos do capitalismo, tanto à direita como à esquerda, como nos EUA Donald Trump e Bernie Sanders (referência de importantes setores da juventude que simpatizam com o socialismo). Ao mesmo tempo assinalou as possibilidades para avançar que se abrem para a esquerda revolucionária neste contexto.

Nesta situação o importante progresso que vem tendo a Rede Internacional de diários digitais, La Izquierda Diario, sob o lema “Cinco idiomas, 11 diários, uma mesma voz”. Publicada dia a dia em francês, alemão, inglês, português e espanhol. E que, por exemplo, na França, com Revolution Permanente que se transformou na voz dos trabalhadores e jovens que lutam contra a reforma trabalhista de Hollande.

Ver também: Rede Internacional em cinco idiomas

O debate sobre a Argentina

No sábado (9) sessionou o segundo dia do Congresso. Debateu-se a situação política nacional e as consequências que o plano de ajuste que o governo de Macri leva adiante tem.

O debate começou com um informe a cargo de Fernando Rosso, dirigente do PTS e diretor do La Izquierda Diario Argentina, onde se constatou, em primeiro lugar, os limites que o governo de Macri (coligação Cambiemos) tem para levar adiante o ajuste.

Sob a definição de que “o Governo nacional é tão neoliberal quanto lhe permite a relação de forças”, no informe ilustrou-se os limites que a gestão Cambiemos tem para implementar um plano de ajuste como exigem as grandes patronais e setores dos economistas mais ortodoxos.

A continuidade dos programas sociais, a chamada “reparação histórica” aos aposentados e as medidas paliativas para determinados setores das pequenas e médias empresas mostram que o governo dos CEO não podem levar adiante um plano que, ao ser aplicado abertamente, implicaria maiores custos sociais. É precisamente o descontentamento social e a mais que certa resistência operária e popular que impede o governo de avançar neste sentido.

Nestes marcos, analisou-se a crise aberta a partir das decisões judiciais que impõem limites ao tarifaço e empurram o governo a pressionar a Corte Suprema para uma resolução favorável aos aumentos.

Frente a esta situação, o Congresso decidiu lançar uma campanha ativa exigindo das centrais sindicais o chamado a uma paralisação nacional contra o tarifaço. Desde a juventude se propôs e decidiu-se estender esta exigência à FUA [Federação Universitária Argentina].

Ver também: O Congresso do PTS exige uma paralisação nacional ativa contra os tarifaços

Um elemento adicional para o limite do ajuste que implementa o governo está no fato de que 2017 é um ano eleitoral e isto agudiza a pressão para tentar limitar a queda da economia.

Apesar de que o ajuste não seja o que as grandes patronais querem impor, as consequências sociais do mesmo vêm aprofundando a insatisfação entre amplas camadas da população trabalhadora.

Esta definição se viu confirmada por múltiplas intervenções de delegados e delegadas no Congresso que ilustraram o progressivo desencanto em amplos setores, inclusive entre muitos que votaram em Macri em novembro passado.
Trabalhadoras e trabalhadores telefônicos, ferroviários, da indústria da alimentação, metalúrgicos, professores e estatais, entre outros, constataram o descontentamento crescente que se aprofunda, ao mesmo tempo, pela ofensiva patronal sobre as condições trabalhistas em todos os lugares de trabalho.

No Congresso se assinalou também a existência de múltiplas questões estruturais sobre as quais o macrismo não tem ainda controle real. Entre elas se mencionou a relação com as forças repressivas, a Justiça e os serviços de inteligência. As contradições com estes setores podem ser potenciais fontes de crises políticas, como já foi demonstrado pela fuga tripla dos responsáveis pelo massacre de General Rodríguez em janeiro passado.

Nestes marcos, afirmou-se a fenomenal trégua que a burocracia sindical constrói e que permite ao governo avançar no ajuste sem uma clara resposta da classe trabalhadora apesar do descontentamento existente.

A situação do peronismo e do kirchnerismo

No Congresso se analisou também a situação do peronismo e, em particular, do kirchnerismo. A crise que se desenvolve abertamente depois da perda do poder do Estado mas que se aprofundou com a detenção do ex-Secretário de Obras Públicas, José López. É preciso inscrever a queda da influência de Cristina dentro do peronismo nestes marcos.

Esta situação desperta múltiplos giros dentro da velha coalizão governante, onde um setor busca construir um peronismo distanciado do kirchnerismo que se mostre eleitoralmente competitivo para 2017. Mas este processo se encontra longe de estar fechado.

Grande quantidade de delegados e delegadas ilustraram esta crise em diversos setores que se identificaram com o kirchnerismo e inclusive militaram neste movimento.

Foi ilustrativa a participação de vários companheiros e companheiras no Congresso que anteriormente haviam militado em distintas organizações kirchneristas e agora, depois de um processo de discussão e experiência política, o fazem no PTS e na Frente de Esquerda.

O Congresso debateu a necessidade de seguir aprofundando o debate sobre os enormes limites que teve o projeto político e estratégico do kirchnerismo, limites que estão na base de sua crise atual.

A Frente de Esquerda e a importância do La Izquierda Diario

O Congresso ratificou que a Frente de Esquerda tem a possibilidade de aparecer como uma terceira força política em um cenário nacional marcado pelo desgaste progressivo do governo e pela crise do kirchnerismo.

Neste marco, debateu-se a possibilidade de realizar a proposta ao conjunto das forças que integram a Frente de Esquerda de convocar a um grande ato nacional, em um estádio aberto, para que a esquerda difunda abertamente sua política contra o ajuste.

O Congresso ratificou também que o La Izquierda Diario pode seguir avançando e transformando-se em uma mídia que permita expressar massivamente a resistência ao ajuste e possa ser um veículo para levar as ideias da esquerda a amplas camadas que hoje rechaçam o ajuste e tomam em conta a crise do kirchnerismo.
No domingo, foi a terceira sessão, e o Congresso voltou a discutir a orientação política do PTS para o próximo período. O Esquerda Diário voltará a informar sobre as resoluções deste importante encontro.

Nicolás del Caño durante o XV Congresso do PTS.




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