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ESQUERDA NA AMÉRICA LATINA | PTS, PO e os avanços da Frente de Esquerda na Argentina

Seguindo uma tendência ascendente desde que surgiu, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Argentina, que acaba de obter importantes triunfos eleitorais em distintos estados, medirá forças entre seus principais partidos integrantes para decidir os melhores candidatos a enfrentar os partidos capitalistas nas eleições de outubro de 2015.

Daniel MatosSão Paulo | @DanielMatos1917

terça-feira 23 de junho de 2015 | 19:22

Neste último final de semana na Argentina inscreveram-se as fórmulas que disputaram as eleições das chamadas “Primárias Abertas Simultâneas Obrigatórias”, mais conhecidas como “PASO”. As PASO, que não existem no Brasil, constitui uma parte da legislação eleitoral argentina que prevê a realização , dois meses antes das efetivas eleições gerais, de eleições prévias organizadas pelo Estado, nas quais que cada partido ou coalizão eleitoral deve apresentar-se para definir seus candidatos. No dia 9 de agosto, os argentinos comparecerão às urnas, e cada eleitor deve escolher um partido ou coalizão para votar. Os partidos ou coalizões que têm distintas propostas internas para seus candidatos apresentarão suas alternativas para que os eleitores escolham os candidatos mais representativos; e o eleitor não precisa estar filiado à coalizão ou partido em que decidirá votar.

As PASO, que passou a funcionar em 2011, foi associada a uma lei proscritiva que prevê um piso mínimo de votos para que cada partido ou coalizão de partidos possa disputar nas eleições gerais de outubro. No caso das eleições nacionais, são exigidos 1,5% dos votos. Uma lei reacionária, pois implica no impedimento para que vários partidos de esquerda possam expressar suas ideias nas eleições; e, além disso, permite que a burguesia possa vir a utilizar seus agentes para, arbitrando com na justiça, intervir nos partidos de esquerda caso se veja ameaçada.

A “Frente de Izquerda e de los Trabajadores” (FIT) é uma coalizão entre o Partido de Trabalhadores Socialistas (PTS, organização impulsionadora do Esquerda Diário no país vizinho) e o “Partido Obrero” (PO), que são os partidos de esquerda mais conhecidos na Argentina, e também a organização chamada Izquierda Socialista (IS). Em agosto, a FIT se apresentará nas PASO com duas listas alternativas para que os eleitores escolham os melhores candidatos a representar a luta contra os partidos patronais. Partindo de denunciar o caráter reacionário dessa lei, os integrantes da FIT consideram que, em última instância, essa instituição pode ser utilizada para dirimir divergências entre si, já que permite auferir junto a seus eleitores os candidatos que melhor lhes representarão nas eleições gerais de outubro.

Nicolás Del Caño (PTS) e Myriam Bregman (PTS) competirão com Jorge Altamita (PO) e Calros Giordano (IS) na fórmula presidencial

Por um lado, o PTS apresentará a candidatura do deputado federal Nicolás Del Caño para presidente da república e da deputada federal referente da luta pelos direitos humanos Myriam Bregman para vice-presidente. Por outro lado, o PO e a IS apresentarão a candidatura de Jorge Altamira a presidente e Carlos Giordano como vice.

Nicolás Del Caño é deputado federal pelo estado de Mendoza, onde em eleições municipais e estaduais realizadas nos últimos meses os candidatos do PTS na Frente de Esquerda obtiveram os maiores resultados eleitorais da história do país para cargos executivos. Del Caño, como candidato à prefeitura da capital de Mendoza, recebeu 17% dos votos, ficando em segundo lugar, vencendo o tradicional partido peronista que é apoiado pela presidente Cristina Kirchner. Noelia Barbeito, candidata a governadora, obteve 10,37% dos votos, ficando em terceiro lugar numa eleição extremamente polarizada entre o partido do governo e a oposição de direita patronal.

Esses resultados, consolidando um espaço eleitoral ao longo de seis eleições consecutivas, se constituíram como um importante aporte do PTS para a projeção nacional da Frente de Esquerda. Os êxitos da FIT em Mendoza colocam a possibilidade de que simpatia que Nicolás Del Caño conquistou em amplos setores populares e da juventude em seu estado se estenda nacionalmente.

Em seu mandato como deputado federal, Del Caño ficou conhecido como o parlamentar que se negou a receber os salários exorbitantes com os quais a burguesia corrompe os políticos, recebendo o mesmo que uma professora e batalhando pela aprovação de uma lei para que todo político ganhe o mesmo que uma professora; lei essa que ajudou a fortalecer as lutas salariais dos professores que puderam nela se apoiar para combater os discursos do governo de que seriam supostamente “privilegiados”. E também ficou conhecido como o deputado que foi reprimido com balas de borracha pela polícia quando estava junto aos trabalhadores em um piquete contra demissões em massa numa multinacional. Essas são expressões simbólicas de como o PTS combina a militância de dirigentes operários em centenas de fábricas e serviços estratégicos com a atuação de parlamentares a serviço da luta de classes, emergindo como uma força política que projeta a Frente de Esquerda no cenário nacional, cumprindo um papel essencial para que nas últimas paralisações nacionais contra o imposto aos salários cobrado pelo governo os trabalhadores classistas e combativos aparecessem para milhões como uma voz independente da burocracia sindical, com propostas para levar a luta até o final sem subordiná-la a distintas variantes patronais.

Com o intuito de debater a melhor candidatura presidencial possível para expressar as qualidades mais novas e dinâmicas da Frente de Esquerda, o PTS propôs a pré-candidatura presidencial de Nicolás Del Caño para ser debatida com o PO e a IS. Frente à negativa do PO, que insistiu na candidatura presidencial de Jorge Altamira pelo fato deste ser uma figura mais conhecida, o PTS abriu mão da pré-candidatura presidencial de Nico e propôs uma fórmula de unidade em que Nico fosse vice de Altamira, permitindo assim potencializar a Frente de Esquerda com o que seus dois partidos constitutivos têm de mais forte. Sem qualquer explicação séria, o PO negou essa proposta unitária e agora está largada a campanha na qual a Frente de Esquerda irá escolher seus candidatos através das PASO.

Renovar a FIT com a força dos trabalhadores, das mulheres e da juventude

Sob o lema "Renovar a Frente de Esquerda com a força dos trabalhadores, das mulheres e da juventude", a lista do PTS encabeçada por Del Caño e Bregman conta também com o ex deputado estadual Christian Castillo que irá disputar a candidatura a gobernador pelo estado de Buenos Aires junto com o referente do sindicalismo combativo e trabalhador de Kraft, Javier Hermosilla; enquanto que a candidatura de deputado nacional para o Parlasul será encabeçada pelo membro do Secretariado Executivo do Sindicato do Metrô, Claudio Dellecarbonara, e a referente do movimento de mulheres Pão e Rosas, Andrea D’Atri. Como candidata a deputada nacional pela Cidade de Buenos Aires, Victoria Moyano, conhecida referente dos direitos humanos por ser uma neta de desaparecidos na época da ditadura, que integrará uma lista composta por 70 % de mulheres.

A principal característica das listas do PTS na Frente de Esquerda é a presença de centenas de trabalhadores das mais diversas fábricas, empresas e serviços, junto a lutadoras pelos direitos da mulher, estudantes de todos os níveis e referentes dos direitos humanos contra a repressão e a impunidade.

Em comunicado de imprensa do PTS Nicolás del Caño declarou que "frente à polarização que querem instalar entre os filhos políticos de Menem como Scioli, Macri e Massa, propusemos uma fórmula comum da Frente de Esquerda, que inexplicavelmente foi rechaçada pelo Partido Obrero e seus aliados. Nós buscamos renovar a Frente de Esquerda, para que se expresse a força dos trabalhadores, das mulheres e da juventude, como já está sucedendo em Mendoza. Não gostamos do pensamento único e cremos que na nossa Frente deveriam poder expressar-se com total liberdade todos os matizes e as tendências que concordam com o programa da FIT. Temos listas de luxo em todo o país e não temos nenhuma dúvida de que vamos fazer uma muito boa eleição dia 9 de agosto, para irmos todos, juntos com os companheiros da outra lista, enfrentar os partidos dos ajustes em outubro".




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