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DEBATE COM A ESQUERDA | PSTU, PSOL, a frente única e a “greve geral” junto com a CUT

A força sindical e parlamentar do PSTU e do PSOL deveriam estar a serviço de organizar uma vanguarda proletária para exigir que a burocracia sindical adote medidas efetivas de mobilização de suas bases organizando assembleias que votem um plano sério de luta.

Daniel MatosSão Paulo | @DanielMatos1917

quinta-feira 28 de maio de 2015 | 00:08

Os ataques de Dilma obrigam a burocracia cutista a diferenciar-se do governo para preservar sua autoridade frente às massas descontentes, proteger o PT de maiores desgastes frente às eleições de 2016 e articular a candidatura de Lula em 2018. Na medida em que essa diferenciação obriga a burocracia a adotar medidas parciais de luta, nossa obrigação é utilizar a tática de frente única para explorar as contradições entre a CUT e o governo com o objetivo de potencializar a mobilização independente das massas contra os pacotes de ajuste.

Na frente que foi formada entre a CUT, o MTST, o PSOL, o PSTU etc., Luciana Genro parabenizou a burocracia cutista por seu empenho na jornada de 15 de abril e assinou a convocatória comum de todos os setores para o dia 29 de maio, onde nem mesmo é citado o nome de Dilma. O PSTU, apesar não assinar tal convocatória e fazer algumas críticas pontuais à CUT em seu site, junto com o PSOL vem considerando a CUT como uma construtora de uma suposta “greve geral” para barrar os pacotes de ajuste em curso.

Desta forma, o PSOL e o PSTU vendem a ilusão de que a CUT poderia tomar qualquer medida séria de luta contra o governo do PT. Consequentemente, não exigem que as direções governistas efetivamente mobilizem suas bases para colocar de pé uma verdadeira paralisação nacional contra os ataques aos trabalhadores e não buscam organizar a vanguarda com uma política capaz de superar os limites impostos pela burocracia sindical.

A CUT paralisa mais de 5% de suas bases para enfrentar os ataques de Dilma?

Na Alemanha dos anos 30 Trotsky insistia que realização da tática de frente única pressupõe a mobilização de amplos setores de massas para a ação, diferenciando essa pré-condição dos acordos de cúpula para a mera propaganda: “Frente única quer dizer unidade das massas trabalhadoras comunistas e socialdemocratas, e não uma transação de grupos políticos desprovidos de massa (...) no domínio da propaganda, a frente única é inadmissível (...) O bloco é unicamente para ações práticas de massa. Os compromissos pelo alto, sem base de princípios, não trazem outra coisa senão confusão”. (L. Trotsky, Revolução e Contrarrevolução na Alemanha).

As primeiras perguntas que o PSTU e o PSOL precisam responder são: quais 2,1 mil sindicatos e 2,4 milhões de sócios dos bastiões operários da CUT paralisaram no dia 15 de abril ou paralisarão no dia 29 de maio contra os ajustes de Dilma? Quanto dos 50 milhões de reais apenas do imposto sindical obrigatório foi empregado na convocatória da paralisação?

Mesmo tendo 10 estados com greves de professores, arrocho salarial contra servidores em todo o país, demissões em massa nas principais montadoras e autopeças, privatização descarada da Petrobrás, cortes brutais na educação e na saúde e avanço na terceirização do trabalho nos bancos, a CUT se nega a mobilizar todos os trabalhadores da educação, servidores, metalúrgicos, petroleiros e bancários numa forte paralisação nacional que ligue as demandas de cada categoria com a luta nacional contra os pacotes de ajustes que atingem a todos. Categorias que em alguns casos ultrapassam os 70% de filiação e estão no “olho do furacão” dos ataques em curso.

Tomando-se em conta que nos últimos anos o Brasil vem vivendo a maior onda de greves e manifestações de massa desde os anos 80, não é possível acreditar que a burocracia cutista não mobiliza suas bases porque essas não têm disposição de luta. O mínimo que o PSOL e seus parlamentares e figuras públicas deveriam fazer é exigir que a CUT passe da verborragia esquerdista para a ação e coloque toda sua força humana e material a serviço de mobilizar suas bases para construir uma paralisação nacional séria, organizando assembleias de base e votando um plano de ação capaz de derrotar os pacotes de ajuste. E o PSTU, para que essas exigências que faz não sejam apenas palavras no papel, deveria transformá-las em ferramentas de combate dos sindicatos e oposições sindicais da CSP-Conlutas, de modo a que possam se constituir como um polo de vanguarda nas jornadas nacionais de luta, claramente diferenciados da burocracia tanto no programa quanto nos métodos.

Por que embelezar a burocracia?

Trotsky alertava que: “Quando aplica-se a política de frente única é muito perigoso ter uma caracterização falsa dos aliados; quando apresenta-se como verdadeiros os falsos aliados, os operários sentem-se enganados desde o princípio”. (L. Trotsky, “Prólogo à edição polaca de ‘Esquerdismo, doença infantil do comunismo, de Lênin’”, de 1932)

Por que o PSTU e o PSOL não denunciam que a burocracia cutista se nega a adotar as medidas mais elementares de mobilização de suas bases, e tampouco alerta os trabalhadores para que o interesse das direções governistas é paralisar “por dentro” a possibilidade de surgir um movimento que de fato coloque em cheque o governo petista? Por que ambos vendem a ilusão de que a burocracia cutista poderia supostamente ter qualquer interesse em construir uma “greve geral” contra o governo do qual faz parte?

Ao apresentar falsos aliados como verdadeiros, ao não buscar constituir um polo alternativo a partir da CSP-Conlutas e da Intersindical, o PSOL e o PSTU transformam a tática de frente única em um instrumento de adaptação à CUT, utilizando a verborragia esquerdista de “greve geral” para encobrir suas impotência. Consequentemente, como qualquer trabalhador combativo nunca vai acreditar que a burocracia sindical governista pode realmente travar qualquer luta séria por livre e espontânea vontade, a própria capacidade de mobilização da CSP-Conlutas e da Intersindical fica comprometida.

Uma greve geral pela “democracia”?

Trotsky alertava que: “Em nenhum caso devem-se estabelecer acordos por objetivos práticos sob o custo de concessões de princípio, de calar as diferenças essenciais, de fazer formulações ambíguas que permitem que cada uma das partes as interprete à sua maneira”. (Idem “Prólogo...”).

Todos sabem que a defesa da “democracia” por parte da frente única que convocou a jornada do dia 15 de abril e que convoca a jornada do dia 29 de maio é a forma através da qual as direções petistas do movimento de massas buscam confundir a classe trabalhadora para desviar o foco de atenção dos ataques de Dilma. Para a CUT e o PT, Dilma não é responsável pelos ataques, nem muito menos Lula, claro. A responsabilidade recai sobre uma difusa direita que supostamente prepara um “golpe de estado” contra a presidente. Claro que nessa “teoria” o PT não explica porque os burgueses que aplaudem o ajuste fiscal de Dilma vão querer depô-la.

Menos ainda se entende o porquê do “golpe de estado”, se o governo petista conta com a burocracia cutista para e garantir que as “paralisações nacionais” sejam adequadas ao objetivo de negociar ataques mais mediados, que depois serão vendidos como grandes triunfos da mobilização e grandes concessões do governo petista. Desta forma, o governo Dilma propõe um “programa máximo” de ataques, para depois negociar e fazer passar o mínimo que precisa para seguir descarregando a crise sobre as costas dos trabalhadores sem maiores crises, e assim vamos tendo os resultados parciais da “greve geral” que o PSTU e o PSOL constroem junto com a CUT.

Por que o PSOL e o PSTU não lutam abertamente contra a defesa da “democracia” como parte do programa das jornadas nacionais de luta contra os ajustes? Se isso não se trata de fazer concessões de princípio, de calar as diferenças essenciais e fazer formulações ambíguas, não sabemos do que se trata...

Como lutar por uma verdadeira frente única operária?

O PSTU dirige dezenas de sindicatos e oposições sindicais em todo o país e é a direção majoritária da CSP-Conlutas, a principal central sindical de oposição ao governo, que passou os últimos meses preparando seu 2º Congresso Nacional que ocorrerá entre 4 e 7 de julho. O PSOL teve 1,6 milhões de votos nas últimas eleições, fazendo Luciana Genro nacionalmente conhecida, têm quatro deputados federais e vários deputados estaduais e vereadores, que lhe dá uma importante projeção midiática, especialmente a partir da cada vez maior crise do PT.

Essa força sindical e política deveria estar a serviço de organizar uma vanguarda proletária para exigir que a burocracia sindical adote medidas efetivas de mobilização de suas bases, organizando assembleias que votem um plano sério de luta. Os sindicatos e oposições sindicais da CSP-Conlutas, amplificados pela voz dos parlamentares do PSOL, deveriam dar exemplos de construção de assembleias de base que preparem fortes paralisações de suas categorias de forma coordenada, ligando suas demandas corporativas à luta nacional contra os ajustes. Esses exemplos deveriam ser pontos de apoio para influenciar cada vez mais os operários dirigidos pela burocracia cutista, assentando as bases para uma luta realmente massiva que obrigue Dilma a retroceder em seus ataques. Só assim as direções da CUT estariam obrigadas a realmente mobilizar suas bases ou se verem superadas pela mobilização independente das mesmas.

Os trabalhadores da USP constituíram um dos poucos setores que paralisaram as atividades ligando suas demandas corporativas à luta contra os ajustes de Dilma na última jornada nacional de luta do dia 15 de abril. Posteriormente, em seu Congresso, aprovaram o chamado a que a CSP-Conlutas cumpra um papel de vanguarda na construção de uma alternativa à burocracia cutista para levar a luta contra os ataques até o final. Os militantes do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) estiveram na linha de frente dessa batalha junto com os demais setores da categoria, assim como vêm batalhando nessa mesma perspectiva na greve dos professores, no metrô e em bancários do estado no São Paulo; e no movimento estudantil de distintas universidades do país.

Chamamos os trabalhadores e jovens que não estão dispostos a aceitar os limites impostos pela burocracia cutista na luta contra os ajustes do governo do PT a travar essa batalha junto conosco nos locais de trabalho e de estudo e no Congresso Nacional da CSP-Conlutas.




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