×

Os trotskistas nas eleições legislativas na França

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

domingo 4 de junho de 2017 | Edição do dia

Depois das eleições presidenciais na França, em que o candidato operário e anticapitalista Philippe Poutou foi a grande voz da esquerda, gerando enorme repercussão nacional apóster desmascarado Marine Le Pen e François Fillon em rede nacional, a esquerda francesa tem novos perfis nas eleições legislativas para enfrentar o programa de ajustes de Macron e da patronal.

Elise Lecoq e Elsa Marcel, militantes da Corrente Comunista Revolucionária (CCR) – organização irmã do MRT na França – são parte dos candidatos do Novo Partido Anticapitalista (NPA) para as legislativas. São parte de uma nova geração de trabalhadores e jovens que foram protagonistas do grande movimento que chacoalhou o país contra a reforma trabalhista de Hollande em 2016.

A CCR impulsiona o diário digital Révolution Permanente, parte da rede internacional de diários Esquerda Diário, que tem centenas de milhares de acessos mensais e foi reconhecidamente um dos principais portavozes da luta operária e juvenil contra a "Lei El-Khomri" de 2016.

Aproveitando o país sitiado pelo estado de emergência instalado pelo ex-presidente François Hollande, o novo presidente Emmanuel Macron busca aprovar por decreto ataques duros contra os trabalhadores e a juventude. Como se provou em todo o processo de 2016, o estado de emergência tem como função incrementar a repressão contra os bairros operários e populares, a perseguição contra os imigrantes e impedir a organização dos trabalhadores contra as reformas reacionárias do governo.

Macron está em estado de hiperativismo para mostrar serviço à patronal imperialista, servindo-se do avançado por um dos presidentes mais odiados da história francesa. Para cumprir os acordos de submissão com a Alemanha, precisa arrancar mais direitos da população francesa, e seguir a política de repressão contra a juventude ou aos trabalhadores que se manifestam em defesa de seus postos de trabalho, como os companheiros da fábrica GM&S, que ameaça demitir 277 trabalhadores.

Mostramos os “spots” de campanha de Elise Lecoq, professora do departamento 93 de Paris, e de Elsa Marcel, estudantes de Direito, no marco das batalhas a serem dadas contra o novo governo, o racismo da extrema direita e o conciliacionismo do PS.

"Para as eleições legislativas, Philippe Poutou apoia candidatos como ele, que não são parte dos políticos profissionais. Nossos candidatos são trabalhadores e jovens como você e eu.

Me chamo Elsa Marcel, tenho 24 anos e estudo Direito em Paris. Sou parte dessa geração que viveu seu primeiro grande movimento social na última primavera, quando lutamos contra a Lei El-Khomri [Reforma Trabalhista de Hollande]. Macron foi eleito com 20% dos votos no primeiro turno, e uma taxa jamais vista de abstenções e votos nulos no segundo turno. Entre os dois turnos, fomos milhares os que descemos às ruas para dizer “Nem pátria, nem patrão: nem Le Pen, nem Macron”. Agora que ele está na presidência, Macron prepara uma reforma trabalhista muito mais forte. Evidentemente que a patronal, as associações industriais, as famílias mais ricas da França (CAC 40) estão esfregando as mãos. Sobretudo porque Macron promete passar por decreto estes ataques durante o verão. Diante disso, não precisamos de deputados que sejam parte de uma “frente republicana” ou opositores meramente institucionais, e sim de portavozes do conjunto dos trabalhadores e da juventude, porque a grande maioria da população não quer estas contrarreformas. É por isso que devemos nos preparar para lutar, e recomeçar aquilo que nos deu força na primavera passada: a unidade entre trabalhadores e estudantes, para levar até o final a resistência nas faculdades, nas fábricas, nos colégios e nas ruas!"

"Eu me chamo Elise Lecoq, tenho 31 anos, e sou professora do colégio Bárbara em Stains, no departamento 93. Eu sou Simon Assoun, sou estudante na universidade Paris 8, na faculdade de Saint-Denis.

O departamento 93 é o mais pobre de toda a França. Como professora, vejo todos os dias o como o desemprego, a precarização, a falta de moradia, a destruição dos serviços públicos, afetam meus alunos e as famílias de cada um. E existe também a violência, a violência da polícia contra a juventude, como o assassinato de Adama, e o estupro de Théo. Existe a violência da lei, a violência contra os estrangeiros, que são privados do direito ao voto, as expulsões dos imigrantes indocumentados, as leis islamofóbicas. Tudo isso é agravado pelo estado de emergência: as leis de exceção não regulam qualquer problema e nem são empecilho ao terrorismo, elas existem para estigmatizar, para reprimir, e para estender na França a guerra conduzida pelo exército francês contra o estrangeiro. Nós do NPA defendemos o fim imediato do estado de emergência, o fim do racismo institucional, a dissolução dos corpos de repressão como o BAC, o fim das intervenções imperialistas.

A juventude precisa de um futuro, não de cassetete. É preciso utilizar o dinheiro público nos serviços públicos, na moradia, e não para a polícia. É por isso que nos organizamos todos. É para levar esse combate até o final que eu me apresento como candidata".

Expressão das novas lutas sociais na França, estas candidaturas anticapitalistas do NPA estão a serviço de organizar o combate nas ruas contra os ajustes dos capitalistas.

No Brasil, apoiamos entusiasticamente esta nova batalha no terreno do inimigo, dado para fortalecer as lutas dos trabalhadores e da juventude, em nome de construir uma esquerda verdadeiramente revolucionária, anti-imperialista e internacionalista, que ao contrário dos novos reformismos como Mélenchon na França, confia irredutivelmente na força da classe trabalhadora, para que os capitalistas paguem pela crise.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias