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ALAGAMENTOS NO RECIFE | Os contínuos alagamentos em Recife é expressão do descaso das gestões do presente e do passado

Todos os anos na temporada de inverno a cidade do Recife alaga. Todas as autoridades da administração pública sabem disso, mas entra gestão, sai gestão, o problema persiste. O que há de tão complexo nessa questão que é tão cara para a população e parece tão complexa para as gestões?

Cristina SantosRecife | @crisantosss

segunda-feira 1º de março de 2021 | Edição do dia

Foto: Acervo Diário de Pernambuco

Nesta segunda feira (01 de março), segundo informações da prefeitura a cidade registrou em 6 horas de chuva o volume de água que era esperado para 10 dias. Com isso, várias vias da cidade já amanheceram alagadas.

Infelizmente os alagamentos não são novidades por aqui. O tema é recorrente pelo menos desde 1975, quando houve o que no momento ficou conhecida como a maior enchente do século XX no estado de Pernambuco, que deixou 107 pessoas mortas e mais de 350 mil desabrigadas. Segundo recortes de jornais da época, mais de 80% da cidade foi coberta pelas águas. Uma verdadeira tragédia.

Um argumento que supostamente explicaria os alagamentos é a proximidade das vias de Recife do Rio Capibaribe e Beberibe, que quando enchem, terminam transbordando e inundando a cidade, o que até realmente acontece, já que ela está construída junto a suas margens e ambos desaguam no mar, também na margem da cidade.

Um outro argumento recorrente, mas que mais do que argumento é um boato, seria que a cidade está abaixo do nível do mar. Sim, a cidade é bastante plana, mas não está abaixo do nível do mar. Sua menor altitude é de 2 e a maior é de 8 metros.
Estes fatos podem até certo ponto explicar por que a cidade é invadida pelas águas na época da cheia, mas não servem para explicar por que estes alagamentos seguem vitimando milhares de famílias, que muitas vezes perdem tudo durante as enchentes.

A tragédia de 1975 poderia ter sigo o suficiente para desde a administração pública fomentarem projetos que visassem resolver os problemas de saneamento, pavimentação e escoamento da cidade; assim como o manejo e coleta das águas das chuvas, que inclusive poderia aportar a outro problema recorrente: a falta de água. Mas o problema não é de falta de dinheiro e de tecnologia, e sim um problema corrente que atinge os políticos da burguesia: estão sempre governando para seus grupos capitalistas de estimação.

A começar pelo Arena, partido da Ditadura que governava a cidade em 1975 e responsáveis diretos pela perda de cada uma das 107 vidas durante a grande cheia e pelos milhares de desabrigados; e que nesse momento perseguia, torturava e assassinava opositores e lutadores. A atuação da ditadura militar chegava no nível da irracionalidade de reprimir os trabalhadores rurais que exigiam coisas tão elementais como água potável e transporte seguro para os canaviais. A repressão respondia interesses imperialistas de barrar toda luta de trabalhadores já que o fantasma do comunismo percorria o globo e era questão de vida ou morte para o capitalismo barrar qualquer esperança em uma sociedade distinta.

Os governos que se seguiram depois da redemocratização – do PFL atual DEM, ao PT e PSB – respondendo interesses de distintos grupos econômicos, também não priorizaram resolver a questão dos alagamentos. Durante os anos do PT, 2001 a 2012, os avanços na área de saneamento básico foram irrisórios – em 2010 o percentual de casas do Recife com água encanada, saneamento por rede ou fossa séptica e coleta de resíduos era de 59,8%; um aumento de apenas 10% em comparação à 2000. O atual prefeito da cidade, João Campos (PSB), há poucas semanas apresentou um projeto de ajuste fiscal que promete uma economia de mais de 100 milhões de reais para beneficiar investidores e cortar da população pobre e trabalhadora. Afinal, a classe média mais acomodada e a pequena burguesia estão em sua maioria no alto de seus prédios de alto padrão, onde a água até pode chegar à calçada, mas dificilmente dentro de suas casas. Resolver o problema das enchentes é urgente para a população pobre das palafitas à beira rio, das casas ao nível das ruas em Aflitos, na Várzea, Torreão, Estância, Casa Amarela, Centro e tantos outros bairros.

Sabemos que das mãos de quem governa para os empresários e patrões não virá nada em benefício dos de baixo. Respondendo à questão na introdução do texto, o que há de complexo em questões como alagamentos e saneamento básico, é que quem carece destes serviços somos nós que somos parte da população pobre e trabalhadora. Para que temas como estes deixem de ser complexos, é preciso inverter as prioridades. O atual governo de Bolsonaro e Mourão, junto ao congresso nacional e STF, ao contrário de investimento social, nos trouxe reforma da previdência, MP 936 que legaliza cortes de salários e suspensão de contratos e não é capaz nem mesmo de bancar o necessário auxílio emergencial.

É preciso lutar por um plano de obras públicas e uma reforma urbana radical, confrontando a especulação imobiliária, garantindo saneamento básico e pensado junto ao plano de transportes e manejo das águas. Assim como tantas outras questões que atingem a classe trabalhadora urbana e rural e o povo pobre e oprimido, essa é uma das questões fundamentais que poderíamos impor a partir da nossa luta em uma assembleia constituinte que seja livre e soberana, onde podemos debater, discutir e trazer soluções para os grandes problemas que nos atingem sem depositar nenhuma confiança em Bolsonaro, em Mourão e nenhum representante deste regime golpista.




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