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OPINIÃO | Oposição de direita e governo mudam discurso para esconder semelhanças

Nos últimos dias Aécio Néves, presidente do PSDB, mudou o tom de suas críticas ao governo de Dilma, falando de impeachment. Por outro lado, porta vozes do governo responderam, falando de desespero. No entanto, a mudança retórica acontece ao mesmo tempo em que há convergência na "agenda" de projetos políticos e econômicos de ambos os partidos.

domingo 19 de abril de 2015 | 01:54

1. Ajuste fiscal

Ambos estão juntos nas medidas de ajuste fiscal que irão cortar mais de 80 bilhões de reais da educação, saúde e de direitos trabalhistas para garantir a manutenção dos ganhos de grandes empresários, banqueiros e capitalistas em um momento de retração econômica. O ministro Joaquim Levy, Ministro da Fazenda e escalado para comandar estes ajustes por Dilma, também é uma unanimidade entre os tucanos e já foi secretário adjunto do ministério da fazendo no governo de Fernando Henrique Cardoso.

2. PL 4330

Talvez por ter sido o principal responsável pelo aumento explosivo da terceirização nas últimas décadas, o PT foi o primeiro a querer impor restrições à PL da Terceirização (4330). No entanto, o que parecia ser uma diferença em um projeto importante não durou muito tempo. O próprio PSDB aponta que, com medo do grande repúdio gerado a esta medida de precarização do trabalho, vai recuar e votar junto do PT contra a terceirização das "atividades fim" (ainda que a favor da PL) já que, mesmo que esta não seja permitida, o crescimento vertiginoso da terceirização nos últimos anos de governo petista cumpre o papel de criar condições para descarregar sobre os trabalhadores o ônus da difícil situação econômica.

3. Uma "agenda positiva" de mais privatizações

Com a economia em dificuldades os investimentos em obras de infraestruturas irão cair. Por consequência, a economia desacelera por incapacidade de produzir mais, o que gera mais dificuldades econômicas. Segundo a revista Exame, os ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa (Ministério da Fazenda e do Planejamento) já dão indícios de que a "agenda" do governo para reverter esta tendência será novos "pacotes" de concessões de aeroportos, portos e rodovias à iniciativa privada, assim como o que aconteceu no ano de 2014. Também como em 2014 estas concessões servirão muito para os lucros de empreiteras (corruptas) e fundos de investimentos nacionais e estrangeiros poderosos, e muito pouco para a resolução dos problemas de transporte e melhoria da qualidade de vida em nossas desoladoras cidades. Uma agenda que também defende o PSDB.

4. A defesa de uma "reforma política" enquanto os Governos nos Estados aumentam seus próprios salários

A resposta que ambos os partidos apontam como suposta saída para "salvar" o regime político, extremamente questionado por amplos setores da população trabalhadora brasileira, é a mesma; uma "reforma política". Como será exatamente esta reforma ninguém entende (Dilma fala desde 2013, mas não avançou em nada), e pode até haver diferenças, mas com certeza estas não serão profundas a ponto de questionar um dos pilares da vergonhosa corrupção nesta regime democrático "dos ricos"; os privilégios dos políticos e funcionários de alto escalão do Estado. Prova disso é que já em janeiro de 2015, treze governadores de Estados do país apresentaram projetos para elevar seus já absurdos salários. Destes 4 eram do PSDB e 3 eram do PT, os outros 6 eram aliados de um ou outro destes dois partidos.

5. O aumento da repressão policial contra os trabalhadores e a população negra

Se é a polícia de São Paulo (de Alckmin do PSDB) a que ostenta o maior número de assassinatos de jovens trabalhadores e negros, o discurso dos governadores do PT em diversas partes do país, assim como do próprio governo federal é uníssono; mais polícia, penitenciárias e repressão nas ruas. Se hoje, a bancada do PT é contra a redução da maioridade penal, não se vê nenhuma medida efetiva contra o assassinato de jovens nos morros ocupados do RJ (política de governo por Lula e Dilma) e nos últimos 12 anos a população carcerária cresceu mais de 620%, o que torna o governo também diretamente responsável pelo popularização da política de encarceramento em massa para solução de problemas de criminalidade advindos da desigualdade social, da exploração e da opressão.

Conclusão

O discurso mais "duro" entre governo e oposição de direita vem para tentar se diferenciar em meio a uma grande crise de representatividade, que atinge a ambos. O enfraquecimento das manifestações do dia 12 de Abril mostrou que Aécio e o PSDB não capitalizam o descontentamento com o governo (sobrando para estes apenas um punhado de reacionários loucos que não agradam a ninguém) e por isso estes agora querem "se diferenciar" mais do governo.

Por outro lado, pressionados pelos trabalhadores em seus locais de trabalho, que corretamente identificam no governo o principal responsável pela perspectiva desalentadora para as condições de vida dos trabalhadores, a CUT e os setores ligados ao sindicalismo que apoiam o governo precisam também entrar neste jogo.

"Impeachment" é um "palavrão" no meio disso tudo. O peso da articulação política está a ganhar mais peso para o lado do PMDB. O próprio governo oferece esta medida como um contrapeso, como uma forma preventiva de mediação entre todos os que governam para os ricos. Justamente porque para os empresários e toda a classe dos capitalistas - que querem lucrar às custas da crise e da miséria dos trabalhadores - interessa apenas que PT, PSDB, PMDB, Aécio, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Dilma, troquem farpas, mas continuem a "andar juntos" no final.




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