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ACIDENTE DE TRABALHO | Operário que morreu soterrado em acidente de trabalho em BH havia avisado sobre os riscos

O operário Cleiton Pereira, de 37 anos, morreu nessa quarta (5) em Belo Horizonte, vítima de um revoltante acidente de trabalho, ocorrido pelo descaso da construtora responsável pela obra.

quinta-feira 6 de dezembro de 2018 | Edição do dia

Foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press

Cleiton foi soterrado por terra enquanto trabalhava em um buraco fazendo uma fundação de 12 metros de profundidade. Ele trabalhava como tubuleiro na obra da construtora Terrazas, na rua Piauí, entre Aimorés e Timbiras. Segundo seus colegas de trabalho, o operário já havia reclamado da falta de segurança, e pedido que a escavadeira que estava transitando no local fosse paralisada enquanto eles trabalhavam no buraco.

Segundo o operário Paulo Roberto Marques dos Santos, de 26 anos, "A escavadeira estava transitando e não deveria, porque estávamos dentro do buraco. Ela esbarrou na máquina de tirar terra e Cleiton saiu e reclamou. Pediu para não deixar passar a escavadeira para a terra não cair sobre a gente. Quinze minutos depois, a terra cedeu". Para os operários que perderam o colega, a responsabilidade é nitidamente dos engenheiros responsáveis, já que Paulo Roberto ainda continua "Faltou bom senso dos responsáveis. O engenheiro devia ter subido para não deixar a máquina transitando". O Corpo de Bombeiros levou seis horas para conseguir chegar ao corpo do operário, já sem vida.

A Defesa Civil de Belo Horizonte interditou a obra, que só poderá ter continuidade após a elaboração e apresentação de um laudo de estabilidade e plano de ação para continuidade da obra. Porém, em uma análise inicial, o órgão municipal já indica que as normas de segurança não foram seguidas. Segundo Marcus Vinicius Vittório, da Defesa Civil, “Existe a norma, e é preciso ter um bolsão. A princípio não teria o bolsão. Quando faz um tubulão, tenho que ter uma bolsa que vai dar o suporte para eu entrar e ter acesso a essa fundura. Pois, se algo cair, estou protegido com o bolsão”.

Cleiton tinha 4 filhos e sua esposa estava grávida do quinto, que agora já nascerá sem o pai. A construtora Terrazas, em um ato de hipocrisia após a morte nada acidental de seu operário, lamenta o que chama de acidente e ainda declarou que “Infelizmente o risco é inerente à nossa atividade”, mostrando como não possui nenhuma preocupação com a vida dos trabalhadores mais precarizados que emprega. O risco é inerente justamente porque os operários trabalham sem as condições adequadas de segurança, como apontou a própria Defesa Civil, e inclusive Cleiton já havia reclamado, antes de ser vítima fatal do descaso que ele mesmo apontou, prevendo que ali havia grandes chances de ocorrer um incidente e que o mesmo poderia ser evitado.

Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A.Press

Acidentes de trabalho como esse poderiam ser evitados e vidas seriam preservadas se todas as normas de segurança fossem seguidas e fiscalizadas, ao mesmo tempo em que é preciso acabar com a precariedade do trabalho, que na construção civil acaba ceifando tantas vidas, e é visto como “perdas normais” pelas grandes construtoras, que pouco se importam com a vida dos operários. Porém agora, com a reforma trabalhista e a lei da terceirização irrestrita implementadas, o que se vê é ainda mais rotatividade do trabalho, mais precárias condições, menos segurança, piores salários, e nenhuma responsabilidade do empregador com a segurança e vida de seus funcionários.

Somado a isso, o que veremos no próximo governo do reacionário anti-operário Bolsonaro, que não tem nem vergonha de declarar que ser patrão é muito difícil – mas suas vidas seguem seguras e confortáveis – serão mais mortes por trabalho abusivo e inseguro, e mais normalização pela parte dos patrões, já que o Ministério do Trabalho, responsável pela garantia da segurança do trabalhador e pela fiscalização de trabalhos abusivos, será extinto, e suas pautas distribuídas nas mãos daqueles que só querem mais ataques aos trabalhadores e seus direitos.

A empresa e a justiça que deveria fiscalizar devem ser responsabilizadas nesses casos, e não podemos aceitar que tentem responsabilizar outros trabalhadores ou o próprio operário falecido pelas causas do acidente, como muitas vezes acontece.

É em nome da vida dos trabalhadores e de todos os oprimidos e explorados que é urgente nos organizarmos e com a mobilização independente da classe trabalhadora, utilizando seus próprios métodos de luta, derrotar Bolsonaro e todos seus ataques, assim como fazer retroceder os que já foram aprovados no governo golpista de Temer.

Deixamos aqui toda nossa solidariedade aos familiares e colegas de Cleiton Pereira.




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