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EDUCAÇÃO | Ocupações Nordeste #OCUPATUDO

Há pouco mais de dez dias os estudantes da UFCG – Sumé, localizado no Cariri paraibano ocupam o Campus do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA), em consonância com a crescente ocupação nacional das escolas e universidades públicas que lutam contra a aprovação da PEC 55 no Senado (antiga PEC 241) – que prevê o congelamento dos gastos públicos pelos próximos 20 anos –, contra a reforma do ensino médio e outras medidas propostas que avançam durante o governo golpista de Temer e também por pautas locais, que permeiam o dia a dia dos estudantes no campus que tem apenas sete anos de atuação.

segunda-feira 14 de novembro de 2016 | Edição do dia

Após uma assembleia realizada no dia três de novembro, os estudantes da UFCG Campus Sumé decidiram se somar à ocupação de caráter nacional que começou com os estudantes secundaristas do Paraná e que tem tomado não só as escolas, mas também muitas universidades públicas do país. A ideia inicial era ocupar os centros acadêmicos, mas, entendendo a gravidade dos ataques à educação pública e gratuita, os mais de cinquenta estudantes presentes decidiram parar imediatamente e ocupar o campus fora de sede que também sofre com problemas internos quanto à estrutura e permanência estudantil. Sete cursos de graduação funcionam no CDSA, são eles: Tecnologia em Gestão Pública, Licenciatura de Ciências Sociais, Licenciatura em Educação do Campo, Tecnologia em Agroecologia, Engenharia de Produção, Engenharia de Biossistemas e Engenharia de Biotecnologia e Bioprocessos. São cursos que atraem principalmente alunos da região, onde muitos passam por muitas dificuldades para seguirem com os estudos, alguns possuem uma estreita ligação com a agricultura e a caprinocultura, que movimentam a economia local e enxergam no acesso ao ensino superior uma possibilidade de desempenhar outra profissão. Há uma grande preocupação com a possibilidade de fechamento do campus de criação recente, frente aos avassaladores cortes por que tem passado a educação e as universidades públicas. A permanência estudantil é dificultada pela falta de um centro de vivência, ginásios esportivos, restaurante universitário universal, transporte intermunicipal e local e por isso os alunos também pedem a transparência orçamentária do campus. Vencendo todas as dificuldades de organização, como a própria falta de gestão para o Diretório Central dos Estudantes da UFCG, os boicotes do diretor do centro local, os estudantes que se revezam entre as duas entradas da universidade permanecem organizados e resistindo ao autoritarismo que é marcante no nosso cenário político.

Na última terça feira, dia oito de novembro, estive no campus para realizar prova escrita de um concurso. Chegando ao local, como esperado, a entrada estava fechada para acesso com carro, porém, prontamente fui atendida pelos estudantes que estavam na portaria e esclareceram que o concurso estaria mantido, me indicando e conduzindo até a sala onde seria realizada a prova, com toda educação e informação sobre a ocupação. Eles mantêm comissões específicas para cada assunto e, assim, há também a comissão de exceção que avalia casos e vem permitindo e facilitando o acontecimento de provas de concursos, monitorias, entre outras questões de forma que não prejudique atividades com data marcada e que estavam previamente agendadas. O Exame Nacional de Ensino Médio – ENEM, que aconteceria no prédio, contudo, foi remarcado para dezembro, pois não houve qualquer intenção do governo nacional em realocar os alunos e manter a data da prova, assim como foram mantidas as datas das eleições, por exemplo.

É importante lembrar que, mesmo havendo um movimento de alunos contrários às ocupações (encabeçando o movimento “Desocupa CDSA”), tem havido bastante adesão de estudantes e professores de diversos cursos à ocupação, que vem promovendo aulas públicas e atividades culturais, além da limpeza do campus, visto que os técnicos e funcionários também paralisaram as atividades. Os seguranças continuam no local, garantindo também a segurança dos alunos. A população local também vem se somando à onda de protestos e apoiando o movimento de ocupação. Logo na primeira semana de ocupação, alguns moradores queimaram pneus em frente ao campus reivindicando o abastecimento de água, outro problema sério que infelizmente tem sido enfrentado por muitas cidades da Paraíba.

Os alunos seguem ocupando vivamente o campus, estão abertos ao diálogo proveitoso entre outros alunos que são contrários às ocupações, na perspectiva de convencer politicamente, entendem que a principal barreira e objetivo a ser vencido é fazer com que os estudantes entendam e discutam os impactos da PEC, a importância da garantia de uma permanência estudantil digna, mesmo com os boicotes que aparecem por cima, seja da atual direção de centro, seja da reitoria, resistindo à toda pressão hierárquica e autoritária que tenta cotidianamente intimidar o movimento reivindicatório. Houve também o convite da juíza local para uma conversa com representantes do movimento estudantil de ocupação. Na mesma terça (08-11), mesmo sem ser sua comarca, designou oficial de justiça para ir até a UFCG e levar alguns estudantes para uma conversa informal sobre a ocupação. Estes, mesmo sabendo que a juíza não possuía jurisdição para leva-los, por tratar-se de uma instituição federal e por não haver nenhuma denúncia contra eles, decidiram por maioria comparecer ao fórum abertos ao diálogo. Foram levados em um carro oficial e voltaram à pé, com toda a bravura que lhes tem sido característica.

Há também o indicativo que os professores podem entrar em greve, a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Campina Grande (ADUFCG) convocou assembleia para a quinta-feira 17 de novembro, tendo como pauta o indicativo de greve. Se em reunião conjunta dos setores das instituições federais e estaduais de ensino aprovam o indicativo de greve, em função do mandado das assembleias de base de cada sessão sindical, entre os dias 21 e 24 de novembro se realizará uma nova rodada de assembleias com o objetivo de deflagrar greve a partir da sexta-feira 25 de novembro. Também outros campi da UFCG estão aderindo à ocupação, como na cidade de Campina Grande, onde os estudantes estão ocupando o centro sem paralisarem as aulas ainda, conforma relatado nesse jornal.

Nós do Esquerda Diário apoiamos o movimento de ocupação estudantil como uma forma de resistência aos ataques entendendo que devemos coordenar as lutas e lutar pela construção de uma greve geral e convidamos todos a prestar solidariedade de forma ativa, promovendo atividades, aulas públicas junto aos estudantes, somando-se às ocupações em curso e ampliando-as na perspectiva de barrar os ataques do governo golpista aos trabalhadores e à juventude.




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