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OPINIÃO | O significado da operação da policia federal e as possibilidades do impeachment

domingo 6 de março de 2016 | 14:45

Uma mega-operação midiática para buscar criminalizar de antemão um cidadão que ainda é investigado, um teatro político para manipular a opinião pública de massas, uma aventura dos setores mais reacionários da burguesia brasileira que na sua mesquinha e vil luta pelo poder usam de qualquer método para encurtar o caminho que pode levá-los novamente ao palácio do planalto, todos esses adjetivos, e muitos outros ainda, podem ser usados para descrever a ação da policia federal que na manhã de ontém intimou o ex-presidente Lula a depor perante a justiça.

Atuando numa linha tenue entre o pretenso "estado democrático de direito"através do qual os ricos mascaram sua ditadura de classe nesse momento em que tem uma maior hegemonia e controle social sobre os trabalhadores, e o exercício puro, simples e autoritário do poder, o juíz Sergio Moro decretou a mega-operação no qual por volta de 200 homens da polícia federal foram mobilizados para garantir que um homem de mais de 70 anos de idade, desarmado, que até agora não tinha de forma ostensiva se negado a depor para a operação Lava-Jato fosse depor no ambito da investigação.

Sergio Moro justificou a operação da PF através de um mecanismo jurídico chamado Intimação Coercitiva, que é usado quando o investigado oferece risco ou se opões a colaborar com a investigação.

Aqui de forma alguma se quer expressar qualquer simpatia pessoal ou política por Lula e muito menos defender o governo do PT de um suposto golpe; se entende que tudo se dá através das regras do jogo da chamada "democracia" dos ricos, busca-se apenas mostrar o circo que se tornou essa pretensa "democracia" e como seus setores mais reacionários perderam qualquer vergonha em passar por cima das máscaras e ritos que aparentemente mantém a legitimidade desse regime para utilizar suas regras na mais direta e indigente luta pelo poder.

Mas o que explica movimento tão aventureiro, e portanto arriscado, por parte de setores da burguesia brasileira?

A crise e a necessidade de ataques mais diretos à classe trabalhadora

A grave crise econômica que afeta o país, segundo analistas a maior desde a grande crise capitalista de 1929, exige que os patrões ataquem de forma mais contundente, direta e rápida os trabalhadores.

Para superar a recessão e recompor sua taxa de lucro os patrões tem que rapidamente diminuir salários, atacar direitos, enxugar os gastos com serviços públicos. Reforma da previdência, redução dos gastos com programas sociais, cortes drásticos na educação e saúde, por exemplo, são todos gritos de guerra que unificam a burguesia brasileira no momento.

No entanto, o governo petista não parece ser o melhor instrumento para garantir esses ataques. Fruto de sua relação com os sindicatos, mesmo que burocratizados, e com os movimentos sociais o PT representa um dado equilíbrio entre as classes no Brasil que o partido não pode romper sob o risco de perder todo seu eleitorado e legitimidade social construída ao longo de seus 36 anos de história.

A burguesia, portanto, tem que erigir novos instrumentos que rompam o antigo equilíbrio entre as classes, que não mais reflete a situação econômica do país, para utilizar de outros métodos, que sem essa pressão mediada pelas burocracias sindicais e dos movimentos sociais, se coloque de forma mais direta a cumprir esse papel para os patrões.

Somando-se a isso tem que se levar em conta as relaçòes fisiológicas entre a casta política brasileira e a máquina estatal. Se o governo Dilma fosse até o fim em seu mandato seriam completados 16 anos em que os setores mais reacionários da política brasileira ficariam longe do planalto e com a grande possibilidade de que Lula sendo canditado em 2018 os afastasse por ainda mais 8 anos. Seria algo inaceitável para esses setores mais reacionários da política brasileira ficar tanto tempo longe do butim conquistado por aqueles que tomam de assalto literalmente o executivo no Brasil.

Ainda outro fator é o fim de ciclo dos governos pós-neoliberais da América do Sul e a viragem à direita da situação política no sub-continente. A vitória nas eleições parlamentares da direita venezuelana, a derrota de Evo no referendo pela reeleição na Bolívia, a eleição de Maurício Macri na Argentina, são todos fatores que fortalecem os setores mais claramente de direita em nossa região.

A síntese desses fatores faz com que os setores da direita brasileira se sintam fortalecidos e arrisquem mais em suas apostas na luta contra o petismo.

O significado da operação de ontem

Com a crise praticamente permanente que enfreta o governo Dilma desde sua reeleição se somando a grave crise econômica um setor da burguesia parace ter se decidido pela necessidade da queda da presidente petista para que se contrua uma nova conjuntura política que lhes permita atacar de forma mais decidida e unificada os trabalhadores.

As manifestações pelo impeachment que ocorrerão no dia 13 de março parecem ser a grande deixa para que esse setor mais reacionário destitua Dilma Roussef e coloque em seu lugar um governo mais diretamente afeito a seus interesses. Mas para que essas manifestações tenham força política para legitimar um processo de impeachment é necessário que sejam massivas; aqui entra a operação midiática, o teatro levado a frente pela polícia federal ontem.

Com essa ação esse setor da patronal busca criar o caldo de cultura necessário, a indignação popular manipulada, que pode lotar esses atos e assim abrir caminho para a legitimação aparente do processo de impeachment.

Qual a política dos trabalhadores frente as disputas entre os diferentes setores e partidos dos patrões?

Nós trabalhadores no entanto nada temos a defender nesse governo que durante todo o último período da história do país foi o dócil instrumento que utilizaram os capitalistas para legitimar sua dominação sobre nossa classe.

A degradação que cada vez mais elameia a falsa democracia dos ricos, as máscaras que caem, os véus que se rasgam, em nada devem nos fazer cair no canto da sereia do petismo de que devemos defendê-los contra o suposto "golpe". O que temos a defender na democracia dos ricos são os germes de democracia operária, as tricheiras que construímos em seu seio, os sindicatos, as associações de bairros operários, os partidos operários e sua imprensa, o direito de reunião e manifestação dos trabalhadores e juventude, e no momento os conflitos inter-burgueses não os atacam diretamente.

Devemos sim repudiar a manobra reacionária do impechment, no qual um pequeno grupo de políticos também corruptos sequestra a vontade popular expressa em milhões de votos, mas entendendo que essa manobra reacionária é expressão do que é efetivamente a democracia dos ricos, uma ditadura de classe patronal mascarada.

Nossa resposta deve ser a luta por uma verdadeira democracia, que hoje passa pela defesa de uma assembléia constituinte livre e soberana sobre as ruínas desse regime podre e que abra caminho para um efetivo governo dos trabalhadores apoiado em todos os setores oprimidos e explorados da população.


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