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Eleições 2022 | O reacionário segundo turno no RS e a necessidade de uma política independente

O segundo turno no RS está para ser decidido entre o bolsonarista asqueroso Onyx Lorenzoni (PL) e o neoliberal Eduardo Leite (PSDB). Nessa disputa, quem fica de fora são os interesses e necessidades dos trabalhadores e da juventude que sem dúvidas serão atacados por quem for eleito. Como chegamos a um cenário tão à direita no RS e qual alternativa para a classe trabalhadora gaúcha em meio à crise?

Giovana PozziEstudante de história na UFRGS

segunda-feira 17 de outubro de 2022 | Edição do dia
Foto de Mateus Bruxel

No RS, o segundo turno está entre dois inimigos dos trabalhadores e da juventude: de um lado temos um bolsonarista ultra-reacionário como Onyx, ex-ministro de Bolsonaro, e de outro um ultra-neoliberal como Eduardo Leite, que foi algoz dos trabalhadores nos últimos quatro anos de governo. Essa composição não é uma novidade no estado, já que em 2018 a disputa ficou entre Sartori (MDB) (na época auto-intitulado “Sartonaro”) e Leite (que, aliás, também apoiava Bolsonaro). Inclusive é notável registrar que o MDB é um elo entre os dois candidatos, pois são vice na chapa de Leite, com Gabriel Souza, e apoiam Onyx pelo diretório da capital.

Passados 4 anos da vitória da extrema-direita a nível nacional, o primeiro turno foi marcado não só pela polarização entre Lula e Bolsonaro, mas também por um fortalecimento de setores reacionários, com uma maior institucionalização do bolsonarismo. Na composição de um Congresso ainda mais conservador, figuras como o ex vice-presidente General Mourão, eleito para o Senado, alcançaram votações expressivas.

Leia mais as análises sobre os resultados do primeiro turno: Enfrentar Bolsonaro e as reformas em um país mais à direita

Conforme analisamos aqui, apesar do PT ter conseguido eleger a maior bancada no legislativo estadual, os resultados eleitorais do RS no primeiro turno expressam, mais uma vez, uma situação reacionária no estado e o peso político de uma burguesia conservadora que controla a economia.

Não à toa, Onyx ficou em primeiro lugar na disputa para governador: o bolsonarista, que foi responsável por impulsionar a reforma da previdência, destruidora dos direitos trabalhistas e do futuro da juventude, conseguiu pouco mais de 37% dos votos. Na época da tramitação da reforma, Onyx chegou a defender a política da ditadura de Pinochet no Chile, que segundo suas próprios palavras levou à frente “um banho de sangue para mudar princípios macroeconômicos.” O candidato do PL representa no estado todos os interesses retrógrados do bolsonarismo, o negacionismo, o machismo, o racismo, a homofobia e uma política privatista de reformas contra os trabalhadores. As declarações homofóbicas que Onyx vem proferindo ao longo da campanha contra Eduardo Leite precisam ser fortemente repudiadas e a extrema-direita da qual Lorenzoni é parte precisa ser jogada na lata de lixo da história, uma tarefa que só pode ser levada à frente pela luta de classes com a força dos trabalhadores junto a todos os setores oprimidos.

Do outro lado, temos Eduardo Leite, conhecido inimigo dos trabalhadores e dos estudantes do estado. Continuador da política neoliberal de Sartori, o governo de Leite no RS foi tudo o que a burguesia gosta: privatizações e reformas a rodo. Vendeu a CEEE, a CRM, a Sulgás e aprovou o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) que prevê novas privatizações e ataques aos trabalhadores para garantir o pagamento dos juros da dívida fraudulenta do estado com a União. Ou seja, um ultraliberal que apenas o PCB não o considera assim, conforme escreveram em redes sociais, dizendo que Leite seria apenas "reacionário" e não "liberal". Por trás dessa visão idealista (de que "liberais" seriam opostos a "reacionários"), configura-se a visão histórica (e stalinista) do PCB de que há setores da burguesia que os trabalhadores podem se aliar. Numa tentativa de se relocalizar, agora nos debates do segundo turno tanto Leite quanto Onyx fazem demagogia em relação ao Banrisul, afirmando que irão mantê-lo público (sendo que Leite já vendeu ações do Banrisul e o governo Bolsonaro tentou incluir sua venda nas negociações do RRF). Lorenzoni, por sua vez, está realmente focado em mentir para os trabalhadores visando angariar votos, afirmando também que irá rever a privatização da Corsan, logo ele, seguidor do bolsonarismo mais duro, que busca destruir qualquer mínimo direito e entregar aos empresários tudo que resta de público.

Não caímos na demagogia reacionária de Onyx nem do liberal tucano. Foram 4 anos de governo Bolsonaro em que sentimos diariamente o que representa a política da extrema-direita na vida dos trabalhadores e da população pobre, que Onyx quer aprofundar ainda mais no RS. Ao mesmo tempo, também amargamos com os inúmeros ataques e privatizações que Eduardo Leite aplicou durante seu governo, alinhado com Guedes na economia enquanto buscava se diferenciar do negacionismo de Bolsonaro frente à pandemia da covid. Apesar do discurso, no que diz respeito a “aproveitar a pandemia para passar a boiada”, como defendeu Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Leite também esteve alinhado com o governo federal, impondo uma série de ataques e avançando em privatizações nesse período.

A realidade é que nesse duelo de reacionários não há alternativa para a classe trabalhadora e a juventude. Frente à real crise econômica que assola o estado do RS, ambos levam, na prática, uma política burguesa de descarregar essa crise capitalista nas costas dos explorados e oprimidos. Por isso, a única saída é através da auto-organização da classe trabalhadora para construir uma alternativa política de esquerda e revolucionária, em combate a todos os setores da direita e da burguesia, que atue na luta de classes com os métodos da classe trabalhadora, com greves e mobilizações. Esse é o caminho para defender um programa operário, que parta da revogação de todas as privatizações e reformas aplicadas nos últimos anos, incluindo a revogação integral da RRF (Regime de Recuperação Fiscal), e o não pagamento da dívida do estado, para garantir o investimento nos serviços públicos como saúde e educação. Uma força assim seria capaz de responder ao desemprego e à precarização do trabalho que assolam a população gaúcha, defendendo a redução da jornada de trabalho para 30h semanais com divisão da carga horária entre empregados e desempregados. Um programa como esse seguramente seria o pesadelo tanto de Onyx quanto de Leite, uma vez que ambos estão do lado dos capitalistas nessa trincheira, e não no lado da classe trabalhadora.

Já o PT e o PSOL defenderam a tese de que para ir ao segundo turno seria necessário um programa inofensivo aos grandes empresários e que conservasse as privatizações e reformas neoliberais de Sartori e Leite - ou seja, um programa palatável à Zero Hora e à burguesia gaúcha. Esse giro à direita para tentar chegar no segundo turno foi um fracasso completo que levou junto não apenas o PSOL, mas também a UP. O programa do PT e do PSOL para o governo foi algo semelhante ao Alckmin a nível nacional, um aceno aos grandes capitalistas de que não se enfrentariam com eles. Essa movimentação é expressão da busca que o PT faz, junto do PSOL, em se repactuar com os setores que fizeram parte do golpe institucional de 2016, aprofundando a estratégia institucional de conciliação de classes. Uma importante conclusão desse fracasso é que não se derrota o bolsonarismo se aliando com a direita.

Essa estratégia institucional, da qual a paralisia dos sindicatos e o abandono das bases que dirige é parte constitutiva, defende o “voto útil” como mal menor contra a extrema-direita. O resultado dessa política é que ainda no primeiro turno setores da base petista votaram em Leite com o argumento de que ele teria mais chances do que Pretto para derrotar Onyx. Apesar de Pretto ter aumentado bastante o número de votos em relação às primeiras pesquisas, o resultado foi a derrota da chapa PT-PSOL, que por uma diferença de 2 mil votos ficou de fora do segundo turno. Ou seja, a política petista, que assistiu passivamente os ataques de Leite e Bolsonaro ao longo dos últimos 4 anos, negociando com o governo no RS e sem organizar os trabalhadores nos diversos sindicatos que dirige para enfrentar os ataques e privatizações de Leite, combinado com a lógica do voto útil, são também responsáveis por estarmos hoje nesse segundo turno entre dois reacionários de direita.

Agora o PT, o MES/PSOL e até o Alicerce/PSOL chamam “nenhum voto em Onyx”, liberando a militância para votar no neoliberal Eduardo Leite. Manuela D’Ávila chegou a fazer a absurda sugestão que votar em Leite seria parte de construir uma “alternativa popular”. Mas a realidade é que, de mal menor em mal menor, vai se aceitando um mal cada vez maior, e assim os trabalhadores renunciam às suas bandeiras, abrindo cada vez mais espaço para a direita. E nesse caso o suposto mal menor é um neoliberal. Teremos que apoiar nossos algozes para enfrentá-los? Ou batalharemos por uma política independente, com uma estratégia para derrotá-los de conjunto? Para o PT e o PSOL, que buscam assentar seu lugar nesse regime apodrecido e não destruí-lo, o caminho é os trabalhadores votarem “de nariz tampado” no inimigo “menos pior”, pois segundo sua narrativa não há outra alternativa. A eles, o marxista italiano Antonio Gramsci teria importantes lições a ensinar:

“Um mal menor é sempre menor que um subsequente possivelmente maior. Todo mal resulta menor em comparação com outro que se anuncia maior e assim até o infinito. A fórmula do mal menor, do menos pior, não é mais que a forma que assume o processo de adaptação a um movimento historicamente regressivo cujo desenvolvimento é guiado por uma força audaciosamente eficaz, enquanto que as forças antagônicas (ou melhor, os chefes das mesmas) estão decididas a capitular progressivamente, em pequenas etapas e não de uma só vez [...]”. (Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, Caderno 16, §25)

Não há outra alternativa para a classe trabalhadora gaúcha?

O primeiro turno evidenciou o fato de que as alianças com a direita e os capitalistas não são capazes de derrotar o bolsonarismo, que não só não vai sumir após as eleições, como se impregna cada vez mais no regime político. Ao longo dos últimos anos, ao contrário do necessário combate a cada uma das reformas, ataques e privatizações que deveria ter sido erguido a partir de cada local de trabalho e estudo, as grandes direções sindicais como a CUT, CTB e seus sindicatos, não fizeram mais do que garantir uma enorme trégua ao governo. Mesmo as expressões de luta que se deram ficaram isoladas, como a própria greve da Carris em Porto Alegre, com o boicote da CUT à greve do começo ao fim, mostrando como não estão interessados em impulsionar a luta dos trabalhadores (se a greve tivesse derrotado Melo, a situação na cidade certamente estaria diferente).

No RS não foi diferente. Os ataques do governo Leite foram sendo impostos, apesar do rechaço da população gaúcha e dos trabalhadores sobretudo às privatizações, com as direções sindicais se negando a batalhar para erguer a força dos trabalhadores contra o governo e também negociando com ele. Leite privatizou as estatais, arrochou salário, avançou no desmonte do Estado e a CUT, a CTB, a direção do CPERS e de outros sindicatos se mantiveram paralisados, apostando exclusivamente nas eleições de 2022. Essa política pavimentou o caminho para que o segundo turno no RS se desse entre dois reacionários inimigos dos trabalhadores, colocando ao povo gaúcho a dura escolha entre ser pisoteado com botas bolsonaristas ou liberais.

A batalha por uma política independente e por um programa para que sejam os capitalistas que paguem pela crise é o que se coloca à classe trabalhadora e a todos os setores oprimidos do RS, seja qual for o resultado das eleições para governador, na qual nosso voto é nulo. É incontornável a necessidade de se enfrentar com os capitalistas e seus representantes políticos, se organizando em cada local de trabalho e estudo e lutando pela revogação de todas as reformas, ataques e privatizações aprovados a nível nacional e estadual, assim como pelo não pagamento da dívida do estado com a União e da dívida pública aos banqueiros. Neste caminho, a batalha por erguer no estado uma alternativa política independente e revolucionária, que supere a política de conciliação de classes proposta pelo PT e da qual cada vez mais o PSOL é parte, se trata de uma batalha imprescindível. É nessa perspectiva que nós no MRT construímos o Esquerda Diário no RS e convidamos cada um que se indigna com o reacionarismo de Onyx e Bolsonaro e que se opõe às privatizações de Leite a serem parte disso.




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