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POLÊMICA NA ESQUERDA | O que pretende o petismo ao diminuir o resultado eleitoral no Rio?

quinta-feira 3 de novembro de 2016 | Edição do dia

Diversos blogs, revistas e analistas alinhados com o petismo soltaram uma bateria de análises sobre as eleições municipais do Rio de Janeiro, todas com um objetivo comum: convencer que a derrota eleitoral do PSOL foi um tremendo fracasso. Talvez com o dedo em riste no resultado alheio esperam diminuir sua própria catástrofe. Um turbilhão de factóides diminuindo o resultado eleitoral alegando que a votação representou uma “esquerda sem povo” e que a votação de Freixo representou a Zona Sul e a Tijuca. Jandira se pronunciou em nota, declarando que o PCdoB “não fez mais” pela candidatura de Freixo porque teria faltado “construir pontes com os setores da esquerda que construíram lastro e raízes históricas junto aos setores populares”, leia-se aí coligação para governar.

O verdadeiro objetivo do debate, violento, é tentar impor uma visão de que por fora do PT, por fora da hegemonia de Lula está o vazio. Trata-se de com um balanço buscar fortalecer os passos de “unidade” debaixo da velha estratégia de conciliação, não mais sob o mando do PT mas de uma renovada “frente ampla”.

A falsificação de dados propagados pela blogosfera petista, revistas como Carta Capital, a Globo e até a cobertura política internacional, nós evidenciamos neste artigo aqui, onde demonstramos que Freixo teve sua ampla votação em regiões com concentrações de trabalhadores, funcionalismo público e setores precarizados da classe trabalhadora, para além do voto de classe média, com parte da Zona Norte com Freixo e grande parte dela com Crivella atingindo menos que 55%.

Como velhas raposas da fábula de Esopo, os ex-governistas tentam convencer que as uvas que não conseguiram alcançar estão verdes demais, mas isto não quer dizer em nenhum momento que desistiram de pegá-las. Caindo de terceiro partido para décimo no número de prefeituras, desmoralização causada em grande parte por causa da aceitação pacífica do golpe institucional, o fracasso eleitoral do PT levou o presidente nacional do PSOL Luiz Araújo a afirmar que “começamos a ocupar o espaço do PT”, e ainda acena “achamos que existe um segmento de esquerda dentro do petismo (...)”, “O PSOL não basta para reconstruir a esquerda”. Daí a tensão.

Então o PT e o PCdoB seriam uma esquerda com povo?

Outro mapa colorido disponibilizado pelo blog O Cafezinho tenta corroborar a tese de que uma coligação com o petismo daria um caráter popular necessário à vitória de Freixo, com certeza os resultados eleitorais de Contagem, Olinda, Recife, Santo André contribuem à tese do PT e PCdoB.... O mapa reproduzido abaixo compara as votações de Dilma em 2014 com o resultado do segundo turno do Rio.

Porém, o que ninguém comenta é que para ter acesso a este eleitorado, o PT contou com a ajuda de ninguém menos que o PRB de Crivella, na coligação “Com a força do Povo”, além de diversos caciques da política burguesa regional, como o próprio derrotado PMDB. Refresquemos a memória com esta imagem da campanha:

A grande gafe cometida por estas análises traz à tona que ao contrário de construir uma “esquerda com povo”, a conciliação de classes do PT e sua sucursal PCdoB levaram ao resultado oposto, fortalecendo o clientelismo e o voto de cabresto. O curioso é que poder-se-ia ter utilizado dados muito mais concretos comprovando a inserção do petismo em setores populares do Rio, em especial a CTB, Central Sindical controlado pelo PCdoB que agrega enormes forças da classe operária carioca. No entanto, não seria possível usar este dado sem trazer à tona a criminosa trégua aos ajustes do governo golpista de Temer dada pelos sindicatos dirigidos pela burocracia do PCdoB.

Quem paga preço deste pedágio pelo voto foram os trabalhadores e o povo pobre, pelo PT ter favorecido a perpetuação de toda esta direita com quem governou, e que hoje tenta descarregar a crise nas nossas costas através dos ajustes do governo golpista, com medidas como a PEC 241, reforma da previdência e mudanças na CLT, que contam com a complacência da burocracia sindical para passarem sem resistência dos trabalhadores.

Construir uma esquerda anticapitalista e revolucionária

As lições da derrota do projeto de conciliação de classes PT também devem ser tiradas, para que a construção de uma nova esquerda no país não vire uma recomposição de um projeto falido, com um novo nome e sigla. O objetivo verdadeiro do debate de parte do petismo e de Luiz Araujo, presidente do PSOL é discutir quem pode hegemonizar uma “frente ampla” ou uma “frente de esquerda”. Porém este debate, para além da guerra de números encobre um outro debate: a necessidade de superar o “projeto democrático popular” e a experiência de conciliação de classes do PT. Sem isso pode-se repetir, como tragédia, o PT. Diversos sinais neste sentido que já foram dados pelo PSOL, seja quando Freixo desrespeitou a deliberação do partido e participou da mesma campanha para Dilma que citamos, seja com a reafirmação por parte de Luiz Araújo de que as portas do PSOL estão abertas para políticos carreiristas, como quando colocou para dentro políticos provenientes de partidos burgueses e barrou a entrada do MRT.

No sentido de superar a tradição petista, a construção de uma alternativa à esquerda do que foi o PT não pode se dar por fora da necessidade de resistir aos ataques do governo golpista de Temer, e no caso do Rio, também dos ajustes governo estadual contra os trabalhadores e o povo pobre. Isto seria o mesmo que aceitar a prostração, resumir nossa atividade política às urnas de pouco em pouco, aceitar que é necessário “governar para todos”, ser uma “oposição responsável” como Freixo afirmou recentemente. A força expressa pela votação pode ser base de apoio para o processo de resistência aos ajustes de Temer e do governo estadual, fazendo um contraponto nas lutas ao fortalecimento da direita.

Para isto é que nós do MRT lançamos no Rio as candidaturas anticapitalistas pelo PSOL e queremos discutir a discutir as perspectivas revolucionárias dos trabalhadores, da juventude, das mulheres, dos negros e LGBTs frente ao cenário nacional e internacional, bem como pensar as estratégias necessárias para construção de um verdadeiro partido revolucionário dos trabalhadores que possa dar fim a todo este sistema de exploração e opressão.




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