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RELAÇÃO CUBA-EUA | O que por há trás da decisão de Obama de retirar o status de terrorista de Cuba?

sábado 18 de abril de 2015 | 00:03

A Casa Branca informou que, segundo as recomendações do Departamento de Estado, o presidente Obama propõe retirar Cuba da "lista de países patrocinadores do terrorismo", em que foi inserida durante décadas, como parte do ataque econômico e das hostilidades imperialistas.

O anúncio imediato ocupou espaços nos principais jornais do mundo, anunciado como uma possibilidade de restabelecimento de relações diplomáticas entre ambos os países.
Esta decisão se dá desde que os Estados Unidos e Cuba anunciaram, há quatro meses, uma aproximação nas relações diplomáticas, as quais foram quebradas desde 1961, no marco de reformas implementadas pelo governo cubano, que implicam um avanço na restauração capitalista na ilha.

No entanto, o principal problema da ilha é o bloqueio econômico que os Estados Unidos mantém desde 1960, que afeta a mais de 11 milhões de cubanos e segue intácto.

Enquanto isso, a chamada "certificação” de Cuba como "Estado patrocinador do terrorismo" internacional será definitivamente cancelada após a exclusão concedida por Obama se no prazo de 45 dias o Congresso dos Estados Unidos ratificar esta decisão.
O governo de Cuba classifica como "justa" a decisão da presidência americana e recorda as centenas de atos de espionagem e atentados terroristas que a ilha tem sofrido durante anos.

As reformas cubanas recebem esta recompensa política

Esta disposição do governo de Obama, mais que um ato de "justiça", é na realidade uma distensão política das relações diplomáticas entre os dois países, pelas reformas implementadas em Cuba durante os últimos meses, que implicaram um enorme avanço na restauração capitalista cubana.

O que começou com abordagens diplomáticas, facilitadas pela igreja católica, através do Vaticano, o Papa e o governo do Canadá, já previa a chegada de novos acordos políticos, comerciais e diplomáticos que trariam benefícios para o capital internacional.
Como os planos impulsionados pelo governo cubano com a chamada "atualização do modelo econômico”, que significa novos investimentos de capital estrangeiro, com a criação de empresas 100% externas, além da implementação de empresas mistas com 51% de participação estatal, as novas garantias de salários e benefícios como baixos impostos e capital para os investimentos externos, extensões de pagamento de crédito, a abertura de novas áreas de investimento no turismo, de empresas petroleiras e mineiras, a eliminação de grande parte dos fortes controles ao comércio exterior que historicamente existiram, entre outras medidas.

Mas além disso, a burocracia do Partido Comunista no poder ameniza o histórico confronto com os cubanos de Miami, primeiro em 2013, com a reforma migratória cubana e logo com as facilidades de investimento para empresários cubanos que não residiam no país, claro, sob sua direção política.

Ao mesmo tempo, a burocracia garante para si mesma a possibilidade de transformar-se em acionista das novas empresas, com diversas facilidades das quais já dispõem, como o poder no controle de serviços, entre outros.

A libertação de dissidentes e o aumento de controle por parte do PCC

Relembremos também que se deu uma troca de presos políticos, como mostra diplomática entre os dois países, com a liberação de três dos cinco presos cubanos acusados de espionagem, em prisões dos Estados Unidos e a libertação em Cuba de Alan Gross, detido há cinco anos por tentar fortalecer a dissidência ao regime castrista.
Mas este aparente relaxamento dentro de Cuba, é acompanhada por uma mudança política profunda das relações no próprio Estado, principalmente nos distintos setores da burocracia castrista. Com uma contenção e "limpeza" tanto dos setores "restauracionistas" mais avançados, como dos setores mais reservados à entrada estrangeira e às políticas com o governo dos Estados Unidos.

Isso também resultou em uma maior pressão política para os setores da população e novas prisões, que vemos no marco da urgência por parte da burocracia por manter uma "reforma ordenada", de onde saiu favorecida a elite governante e sem perdas de privilégios.

Enquanto a igreja se fortalece com seu papel de mediadora entre o imperialismo e o governo cubano, aproveita suas novas concessões que lhe dão maior hegemonia entre a população.

Mas os direitos da população cubana não mudam, pelo contrário, se mantém ainda mais fechados: não podem debater, agrupar-se, reunir-se em assembleias, discutir sobre as mudanças que ocorrem e oporem-se aos privilégios do Partido único que historicamente mantém a burocracia.

A hipocrisia "antiterrorista" dos Estados Unidos

Enquanto ambos os governos preveem a possibilidade de abrir uma embaixada em Havana e Washington, os Estados Unidos pressionam pelo obtenção de novas concessões econômicas e se vangloriam de sua decisão a respeito de Cuba, pois como diz Obama, é tempo de "levar as âncoras do passado".

Mas se se trata de história, não esqueçamos a sistemática manipulação da opinião pública por parte dos governos norte-americanos, com brutais campanhas de terror e políticas "anticomunistas", hoje chamadas "antiterroristas".

Planos implementados através de governos lacaios, setores golpistas, ditaduras militares e outros aliados conjunturais, em busca de supremacia política, econômica e militar.

Sobram exemplos latino-americanos, como o Plano Condor, originado e apoiado desde os Estados Unidos nos anos 70 e 80, impulsionado pelas ditaduras sul-americanas, com uma coordenação clandestina internacional, implementou o terrorismo de Estado para perpetuar-se na região e com dezenas de milhares de torturas, assassinatos e desaparições forçadas. De onde parte de suas ações paramilitares alcançaram Cuba, com membros da máfia cubana de Miami, que realizou sabotagens, assassinatos e atentados políticos na ilha.

A própria Escola das Américas é outra expressão da política exterior imperialista formada de assassinos, torturadores e golpistas, que marcaram com suas atrocidades várias gerações, principalmente na América Central, mas exportando sicários a outros países, como México.

É o terrível exemplo da prisão de Guantánamo com presos "suspeitos de terrorismo", que são subtraídos de seus países ilegalmente, presos indefinidamente entre torturas e sem julgamento, situação que contrasta com a atuação dos Tribunais estadunidense que libertou o terrorista Luis Posada Carriles, autor do atentado a um avião de Cubana Aviação em 1976, na costa de Barbados, que tirou a vida de 73 inocentes.

As várias tentativas de golpe de Estado na Venezuela desde 1992 ou o golpe de Estado em Honduras de 2009 que colocou Micheletti no poder, ambos com respaldo de setores dos Estados Unidos.

Agora vemos que a decisão de Obama nada tem a ver com justiça, tem sido bem planejada, em consequência das ações restauracionaistas implementadas pela burocracia do PCC e é parte de múltiplas ofensivas reacionárias que mostram a intenção de deslocalização imperialista na região, com as eleições internas também na balança.




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