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EDUCAÇÃO | O que o Roda Viva com o Todos pela Educação revela sobre os rumos que querem para o ensino?

Na segunda-feira, 13 de abril, o Roda Viva da TV Cultura entrevistou Priscila Cruz do Todos pela Educação. Um dos aspectos observados na entrevista é o rumo da relação aluno e professor, que diversos projetos querem modificar.

terça-feira 14 de abril de 2020 | Edição do dia

Há tempos que a TV Cultura se transformou em um puxadinho dos governos do PSDB, não foi diferente na apresentação no último dia 13/04 do programa Roda Viva, que entrevistou a presidente-executiva e cofundadora do Todos pela Educação, Priscila Cruz.

No programa foi abordado inúmeros temas pré-acordados com os seus sabatinadores. Tais como – educação remota em tempos de pandemia, a questão da merenda para alunos carentes, a reorganização dos currículos escolares, a comparação entre homeschooling e educação remota e a diferença desta e o modo EAD de ensino. Todos os temas pautados foram realizados por meio de uma abordagem gerencialista, baseado em metas e resultados acordados a priori.

De modo nenhum, Priscila Cruz mencionou os longos 26 anos de desestruturação realizada pelos governos do PSDB-PT a nível federal, em geral, e a nível estadual em SP, em específico. A desestruturação realizada por esses governos na educação foi coordenada pela absorção do receituário neoliberal a mando do FMI e Banco Mundial sobre a economia brasileira. Cabe salientar, que junto a Priscila na “reforma” da educação encontram-se outros nomes de destaque no cenário político, a saber – Claudia Costin e Denis Mizne.

A primeira foi ministra da Administração e Reforma do Estado durante o governo Fernando Henrique Cardoso (entre 1995 e 2002). Também ocupou o cargo de Secretária de Cultura do Estado de São Paulo durante a primeira gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) como governador, entre 2003 e 2005. Em seguida, em 2005, Claudia Costin assumiu a vice-presidência da Fundação Victor Civita, uma ONG mantida pelo Grupo Abril com o foco na reestruturação da educação. A convite do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), Costin assumiu a Secretaria Municipal de Educação do Rio, de janeiro de 2009 a maio de 2014. Em julho de 2014, assumiu o cargo de Diretora Global de Educação do Banco Mundial. O segundo, Denis Mizne, é mais um produto da cervejaria AMBEV assim como Tabata Amaral e Felipe Rigoni. Isto é, mais um produto de Jorge Paulo Lemann e seus dois sócios, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que em tempos de pandemia têm se ausentado de qualquer debate ou exposição sobre o tema.

Entre os vários assuntos elencados no programa podemos resumi-los em dois blocos: conectividade e elaboração de conteúdo. A preocupação essencial demostrada pela Priscila Cruz e os seus sabatinadores foi a possibilidade de acesso à educação remota e como os conteúdos seriam distribuídos aos alunos afetados. Ou seja, uma educação extremamente conteudista que não preza pela totalidade do processo de ensino-aprendizagem.

A principal figura de todo o processo educativo foi a menos comentada, o professor(a). Mais uma vez, a voz da classe docente é ofuscada pela “perícia” dos tecnocratas, os quais só conhecem uma escola por meio de plantas de construção. Priscila Cruz e cia não estão comprometidos com um efetivo projeto de emancipação humana, tão só em busca de resultados satisfatórios (PISA/OCDE) para o mercado de des “emprego”.

O silenciamento da categoria docente tem um porquê. O papel fundamental e protagonista que pode ter para a sociedade e a classe trabalhadora em meio a pandemia. Ademais, é uma categoria, principalmente em países periféricos, com capilaridade sobre a sociedade sem igual. Por mais que existam matizes ideológicos entre os docentes, ela é capaz de propor um programa político de modo a ligar o conjunto dos desvalidos, marginalizados e abandonados pelo projeto de governo. A categoria docente que aparece em muitas escolas como uma verdadeira tribuna do povo pode tomar a luta em um primeiro momento pelas demandas mínimas de modo a avançar numa tomada permanente até as conquistas de posições chave na sociedade.

Isso não irá acontecer caso não haja uma real ruptura com os paradigmas vigentes, esse movimento só poderá ser realizado com um conteúdo programático muito bem definido. O professor não pode se confundir, como se sozinho fosse capaz de resolver os problemas do analfabetismo, da fome, da desigualdade entre outros. Mas enquanto categoria, sua força pode ser disruptiva. A contínua falta de estrutura não é somente um ataque ao docente ou ao discente, senão contra a relação que ambos constroem no processo educativo. A saída efetiva não será dada pelos tecnocratas (Made in Harvard), mas por aqueles que conhecem a realidade circundante, alunos e professores.

É exatamente essa força, que entre outras coisas, o ensino à distância quer barrar, e o conteudismo de Priscila Cruz e do Todos pela Educação, em meio a uma crise sanitária e econômica, só evidência que longe da preocupação humana, esses grandes conglomerados buscam uma nova lógica educacional, uma lógica que busca romper a ligação entre a comunidade escolar e nos atomizar, cada um em seu espaço. Não há preocupação com docentes e alunos nisso.

A lógica empresarial administrativa gerencialista não pode pautar os currículos escolares nem os departamentos de neurociências devem reclamar para si somente o papel de construtor de um ensino significativo. Educação é muito mais que um ramo da medicina e não tem margem de comparação com o escritório de uma empresa capitalista.




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