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ELEIÇÕES PORTO ALEGRE | O que expressa a nova composição da câmara de Porto Alegre?

As eleições municipais chegaram ao fim de sua primeira etapa e algumas análises preliminares são possíveis de se fazer. Em geral não houve grandes e substanciais mudanças na composição da câmara, mas alguns fatos são importantes de serem ressaltados e fortalecem algumas tendências nacionais, como o significativo enfraquecimento do petismo, o crescimento de brancos, nulos e abstenções, o surgimento de lideranças jovens da nova direita reacionária e o gradual fortalecimento do PSOL. Ao final da matéria, apresentamos a relação da composição ao longo da última década.

segunda-feira 3 de outubro de 2016 | Edição do dia

A fotografia das eleições não nos diz muita coisa, mas olhando o processo em filme é possível observar alguns fatos interessantes. O primeiro deles é o expressivo aumento de abstenções e votos brancos e nulos para vereadores. Em 2012, houve 18,55% de abstenções no primeiro turno, neste ano 22,51% dos eleitores se abstiveram. Brancos e nulos somaram 122.868 (14%) para vereadores em 2012. Agora, em 2016, tivemos 162.203 (41,17% do total) votos brancos e nulos para a câmara, superando os mais de 135 mil brancos e nulos para a prefeitura, sendo que nulos, que configura mais propriamente um “voto de protesto”, superou a marca de 70 mil.

Um outro dado significativo é como a crise do petismo se expressou no pleito. Não apenas Raul Pont ficou de fora do segundo turno, como o PT perdeu um vereador e o PC do B não elegeu nenhum. Em 2008, o PT elegeu 7 vereadores em Porto Alegre. Em 2012, elegeu 5 e o PC do B elegeu 2. Agora, o PT conseguiu apenas 4. Dados como esses seguem a tendência nacional de crise do partido, onde pela primeira vez em décadas ficou de fora do segundo turno do maior colégio eleitoral do Brasil, São Paulo, e obteve um decréscimo de 44,8% de vereadores eleitos em todo o país, passando de 5067 para 2795 nestas eleições. Se comparar esses dados com os anos 90, quando Raul Pont foi eleito, o contraste é ainda mais gritante: em 1996 o PT elegeu 14 vereadores para a câmara de Porto Alegre.

Um outro partido também afetado foi o PDT, que passou de 7 vereadores para apenas 3. Não houve um “grande vencedor” nessas eleições, mas algo que chama atenção é o surgimento na política institucional das novas lideranças de direita, golpistas ligadas ao MBL e outros grupos ultra-reacionários que se pintam de “novo” para repetir a velha política do neo-liberalismo e do favorecimento do poder econômico. Em Porto Alegre dois desses meninos vão ocupar a câmara, Felipe Camozzato (NOVO) e Ramiro Rosário (PSDB). Ambos eram do MBL, sendo que o primeiro fez pós-graduação em Liderança Competitiva Global nos EUA e o segundo é presidente estadual da juventude do PSDB. Um outro nome também preocupante dessa nova direita, mas dessa vez não tão jovem assim, é Ricardo Gomes (PP), candidato do acéfalo Rodrigo Constantino. Ele foi presidente do Instituto de Estudos Empresariais, entidade que organiza o Fórum da Liberdade, também formado em business na gringa norte-americana.

São todos expressão de uma nova camada de lideranças políticas empresariais, que por trás de discursos de “gestores”, “admnistradores” e “a-políticos”, trazem à tona um tipo de política mais alinhada aos interesses dos grandes capitalistas estrangeiros, peixes grandes norte-americanos que buscam explorar cada vez mais o suor da classe trabalhadora brasileira. Em outros textos já exploramos mais o que representa o MBL e essa nova camada de neoliberais mirins formados pelo imperialismo ianque.

Por outro lado, o PSOL conseguiu ampliar sua bancada. Não apenas apresentou a candidatura mais votada em toda a eleição, a de Fernanda Melchiona, como elegeu Roberto Robaina para a câmara junto do então suplente de Pedro Ruas, Alex Fraga. A campanha para prefeitura foi diferente, uma vez que as regras eleitorais impediram Luciana Genro de aparecer na TV e sua campanha optou por um discurso mais moderado e de direita em alguns pontos, visando setores conservadores da sociedade, bem longe da Luciana candidata à presidência em 2014.

De maneira geral, os vereadores que empossarão em 2017 são os mesmos eleitos em 2012. Apenas 7 novos nomes apareceram (Roberto Robaina (PSOL), Felipe Camozatto (NOVO), Alvoni Medina (PRB), Comandante Nádia (PMDB), Ricardo Gomes (PP), Ramiro Rosário (PSDB) e Wambert di Lorenzio (PROS). Os outros 29 se dividem entre os velhos nomes da velha política (como por exemplo os dinossauros Pujol (DEM), que entra em seu 9º mandato, Nedel (PP) - 6º mandato, e Paulo Brum (PTB), João Bosco Vaz (PDT) e Dr. Goulart (PTB) que entram no 5º mandato).

Dados como esses, portanto, apontam para algumas definições. A primeira é de que um dos pontos mais fortes da chamada “crise orgânica” do regime é a crise do PT. É categórico que a crise de um dos mais importantes partidos de sustentação do regime político vem se aprofundando, abrindo espaços à esquerda e à direita. O fato de Luciana Genro, por exemplo, ao invés de girar seus canhões para a direita durante o primeiro turno e buscar adaptar seu discurso à terceirização, PPP e mais polícia militar nas ruas, é um dos fatores que possibilita a direita a canalizar a crise do PT, uma vez que não apresenta uma alternativa de esquerda a altura. Não a toa o PSDB, revestido de “gestor a-político”, venceu em várias grandes cidades, incluindo Porto Alegre com o Dória gaúcho do Marchezan Jr.

Uma outra definição é a de que a reforma política de Cunha, sancionada por Dilma, não levou a uma maior “democratização” das eleições. Pelo contrário na verdade, os grandes partidos tradicionais foram fortemente favorecidos, com mais tempo de televisão. A “nova” composição na câmara dos vereadores de Porto Alegre, por exemplo, mostra isso, com praticamente os mesmos políticos de sempre.

Por último, talvez a mais importante definição que se reatualiza, é a de que as eleições nessa democracia dos ricos são uma expressão distorcida da vontade da população. Essa definição é de Lenin, mas se faz atual a cada dois anos no país. Há anos partidos como PMDB, PP, PTB, PSDB, PDT e outros defendem os interesses de quem lhes financia, das elites regionais, cada um com discursos e práticas relativamente distintas. O próprio PT há anos deixou de lado a defesa dos trabalhadores quando se aliou às grandes empreiteiras nacionais, setores do latifundiário, banqueiros, etc. Não é necessário investigar os financiadores de campanha da maioria dos 36 vereadores eleitos para saber que eles atuam em benefício dos interesses de poucos da sociedade, em detrimento dos interesses dos trabalhadores. A quantidade absurda de abstenções, brancos e nulos mostra isso, como boa parte da casta política é deslegitimada pela população. Mas enquanto as regras do jogo se mantiverem as mesmas, a política continuará nas mãos dos empresários e cada prefeitura e cada câmara vai servir para aprovar os pacotes de ajustes que os governos e capitalistas de todo o país estão querendo despejar nas costas dos trabalhadores.

2008

PT - 7

PMDB - 6

PDT - 5

PTB - 5

PP - 4

PPS - 3

PSDB - 2

PSOL - 2

PRB - 1

PSB - 1

2012

PDT - 7

PT - 5

PMDB - 4

PTB - 4

PP - 3

PSOL - 2

PRB - 2

PCdoB - 2

PSD - 2

PSB - 2

PPS - 1

DEM - 1

PSDB - 1

2016

PMDB - 5

PP - 4

PT - 4

PTB - 4

PSOL - 3

PDT - 3

DEM - 3

PRB - 2

PSB- 2

PSD - 1

REDE - 1

PR - 1

SD - 1

PROS - 1

NOVO - 1

PSDB - 1




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