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ESCOLA SEM PARTIDO | O que está por trás da crítica do Estadão ao “Escola Sem Partido”

Até o editorial do reacionário jornal paulista Estadão desta terça feira teve que assumir o que não pode mais ser escondido: o projeto “Escola Sem Partido” é autoritário. Porém, o que o editorial omite diz muito mais sobre autoritarismo na educação do que diz o Estadão.

Flavia ValleProfessora, Minas Gerais

quarta-feira 20 de julho de 2016 | Edição do dia

Era de se esperar que esse jornal golpista não fosse além dessa crítica. Porém, ter que assumir, tal como está escrito no artigo, que “ao obrigar que as escolas afixem nas salas de aula um decálogo sobre o que pode e o que não pode ser dito pelos professores para os alunos, o projeto de lei do “Escola Sem Partido” flerta com o autoritarismo”, é uma mostra de que até para os reacionários o projeto é uma intervenção nas escolas contra os educadores.

Porém, o que expressa essa crítica do estadão em suas entrelinhas? Pode ser uma busca para colocar limites no projeto reacionário “Escola Sem Partido”, numa tentativa de fazê-lo mais palatável. Mas, mais do que isso, esse editorial expressa uma tentativa de forjar uma ideologia que tenta reduzir o problema para “sem professores doutrinadores nem autoritarismos no ‘Escola Sem Partido’ tudo está resolvido, que reine a democracia”. Ora, o que omite o Estadão é que sua ideia democracia é a dos ricos, poderosos e capitalistas.

Assim, o editorial ao criticar o autoritarismo do “Escola Sem Partido”, faz isso disseminando a ideologia de que seria possível o ensino neutro, induzindo como saída lógica de sua argumentação a aplicação da legislação atual com a “punição” dos professores que nas palavras do editorial “pregam a subversão da ordem”. Assim, usando de maneira interessada a ideia de “democracia” - sem dizer ser a democracia dos ricos -, para o Estadão os professores que pregam a manutenção do status quo, ou seja, a manutenção da democracia dos ricos e suas injustiças e meritocracia, estariam na “ordem”, enquanto os que questionam esse status quo estariam “fora da ordem”, rotulados como “pregadores da subversão” quando necessário.

Mas quando então isso se faz necessário para o Estadão, o paladino da democracia? Quando os alunos e os professores passam a ser sujeitos do conhecimento e da história da luta de classes e não meros reprodutores das ideias dominantes. Vejamos.

A doutrinação ideológica existe nas escolas também quando essas são tomadas como espaços de reprodução do conhecimento e não da criação, como lugar de ensino conteudista e não do ensino questionador e crítico, quando o professor é um “onipresente” em sala e não um mediador. Todos esses conceitos próximos ao chamado “construtivismo” são vistos com arrepios nos braços daqueles formadores de opinião reacionários como Reinaldo Azevedo, um dos entusiastas de tal projeto. Até aqui o Estadão aparece disposto a aceitar algumas mudanças.

Porém, o que causa o maior arrepio aos editores do Estadão e dos reacionários por trás do “Escola Sem Partido”, aquele arrepio que vai do “cóccix até o pescoço”, é que a escola também é lugar da luta de classes. E é essa a realidade que o editorial do Estadão tenta esconder. No editorial está escrito: “E não importa que os alunos em questão mal tenham ingressado na adolescência e estejam pouco ou nada preparados para entender o que é “luta de classes”. Ora, os alunos já vivenciam a luta de classes quando tem sua merenda roubada por adultos que são protegidos pelo governo como aconteceu em São Paulo. E porque então não podem aprender também sobre ela?

O Estadão é tão conhecedor da luta de classes que faz de tudo para escondê-la nos momentos de passividade, rotulando os professores que questionam o status quo como “subversivos”. Tenta assim moldar um senso comum para não aceitar o que pode vir a fugir do controle das elites das classes dominantes. Porém, quando esse controle acaba o Estadão mostra sua cara reacionária e passa a chamar todo tipo de repressão aos que lutam por uma educação melhor e contra as injustiças sociais dessa democracia dos ricos. E a prova disso são inúmeros editoriais do mesmo Estadão em que defende o injustificável: a repressão e o uso da força policial contra os jovens que lutam para ter um futuro.

O que apavora o Estadão é quando os estudantes passam a ser protagonistas da luta de classes, quando deixaram a passividade para se organizar, protestar e ocupar as escolas como aconteceu em São Paulo, no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Ceará; quando passaram, junto aos professores que apoiaram as lutas, a colocar novas possibilidades de rumos para as escolas e para o conhecimento. Na receita reacionária de educação do Escola Sem Partido e do Estadão, a dosagem do autoritarismo e reacionarismo é a mesma, só muda seu tom conforme a luta de classes.




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