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DIA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES | O que é celebrado no 1º de maio?

Quase 80 anos de luta da classe trabalhadora nos Estados Unidos por melhores condições de trabalho e pela redução da jornada de trabalho, somada à grande adesão que teve a greve geral do 1º de maio de 1886, fez com que os capitalistas temessem o início de uma revolução social.

sábado 30 de abril de 2016 | Edição do dia

Por esse medo, perseguiram dirigentes operários e armaram um julgamento que condenaria os mártires de Chicago. Não é de se estranhar que nesse país e no Canadá essa data não é celebrada.

As origens da luta por 8 horas

Em 1817, o socialista utópico Robert Owen formulou a meta de jornada de 8 horas diárias, levantando o lema de oito horas de trabalho, oito horas de lazer e oito horas de descanso.

A Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), em seu primeiro congresso (Genebra, setembro de 1866), retomou a discussão das 8 horas como objetivo imediato. No Conselho Geral de Londres, os representantes de Marx propuseram:

1. O congresso considera a redução das horas de trabalho como primeiro passo rumo à emancipação operária.

2. A princípio, o trabalho de 8 horas diárias deve ser considerado suficiente.

3. Não haverá trabalho noturno, exceto em casos previstos por lei.

O 3º Congresso da Internacional em Bruxelas, em setembro de 1868, se pronunciou totalmente favorável à diminuição legal das horas de trabalho.

A luta nos Estados Unidos

Os primeiros movimentos pela redução da jornada de trabalho nos Estados Unidos se deram no começo de 1800. Em 1803, os construtores navais triunfaram, seguidos, em 1806 pelos construtores civis de Nova York.

Mas, em 1832, na cidade de Boston, a primeira greve exigindo as 10 horas para os construtores navais e civis fracassou.

Em 1845, as greves se repetiram continuamente nos estados da Nova Inglaterra, Nova York e Pensilvânia. No final de 1845 em Nova York, ocorreu o primeiro congresso trabalhista, acordando a organização de uma sociedade secreta. Depois do congresso industrial realizado em Chicago em 1850, muitas cidades se organizaram em agrupações para alcançar a jornada de 10 horas por meio da greve. Lentamente os operários conseguiam o que queriam. Em alguns estados foi promulgada a legalização das 10 horas. Desde então, os trabalhadores norte americanos reuniram todos seus esforços para obter a redução da jornada de trabalho a 8 horas.

A partir de 1868, ocorreram centenas de greves em defesa das 8 horas, inclinando os trabalhadores cada vez mais para as ideias socialistas. De 1870 a 1871, os alemães que viviam nos Estados Unidos começaram a organizar as primeiras forças da AIT (a Primeira Internacional). De 1873 a 1876 foram registradas greves nos estados de Nova Inglaterra, Pensilvânia, Illinois, Indiana, Missouri, Maryland, Ohio e Nova York. Todas foram reprimidas com tiros, golpes e prisões. Em 1880, foi organizada a Federação dos trabalhadores dos Estados Unidos e Canadá, que em outubro de 1884 convocou a luta pela jornada de 8 horas. A redução da jornada de trabalho deveria ser efetivada no 1º de maio de 1886.

Primeiro de Maio de 1886

Em Chicago, uma associação em defesa das 8 horas, com grupos socialistas e anarquistas, realizava reuniões ao ar livre, para preparar a greve do 1º de maio.

Abert Parsons faria uma forte campanha no The Alarm, o jornal dos anarquistas norte americanos. Arbeiter Zeitung era o jornal mais importante dos anarquistas alemães. Ambos os jornais agitaram a opinião de tal forma que se previa uma luta terrível. Os oradores anarquistas que mais se destacaram nos comícios foram: Parsons, August Spies, Samuel Fielden e George Engel.

À medida que o 1º de maio se aproximava, os capitalistas começaram a se preocupar e decidiram se organizar para resistir à luta dos trabalhadores. O primeiro conflito entre patrões e trabalhadores foi na fábrica McCormick, onde foram demitidos 2.100 operários, por terem se recusado a sair de suas respectivas organizações.

No 1º de maio, milhares de trabalhadores defenderam a jornada de 8 horas. A paralisação das atividades foi geral. Em poucos dias os grevistas chegaram a mais de 65.000. As manifestações se multiplicaram. Seiscentas mulheres trabalhadoras na indústria têxtil se somaram às manifestações.

No dia 2 de maio aconteceu um comício dos despedidos da fábrica McCormick. Os oradores foram Parsons e Schwab. No dia 3 foi realizado um ato importante perto da McCormick. Às quatro horas, soou o sinal da fábrica e os operários que continuavam trabalhando começaram a sair. Uma grande parte dos reunidos se dirigiu até lá, começaram a jogar pedras contra a fábrica, exigindo a paralisação das atividades. Quando tentaram barrar a entrada, dois trabalhadores foram assassinados pela polícia.

Naquela mesma noite, socialistas e anarquistas se reuniram. Foi convocado um ato na praça Haymarket, no sul de Chicago, para a noite seguinte, em protesto à brutalidade policial.

No dia 4 de maio, mais de 3.000 trabalhadores compareceram ao ato em Haymarket. Samuel Fielden estava terminando seu discurso, quando cerca de 180 policiais armados interromperam. O capitão ordenou a dissolução do ato e seus subordinados avançaram, ameaçando os trabalhadores. Quando o ataque da polícia se mostrou iminente, uma bomba caiu, deixando mais de 60 policiais feridos e 7 mortos.

A polícia abriu fogo contra o povo, que correu em todas as direções. Perseguidos a tiros pela polícia, 38 trabalhadores morreram e outros 115 foram feridos.

Deu-se início a uma perseguição terrível. Foram realizadas invasões de domicílio em que prenderam cidadões pacíficos sem motivo algum. O Arbeiter Zeitung foi abolido e todos seus impressores e editores foram detidos; os oradores de Haymarket foram detidos (exceto Parsons, que se ausentou) e as manifestações foram proibidas em todo o país, decretando estado de sítio.

Circulavam rumores absurdos de supostas conspirações contra a propriedade e a vida dos cidadãos. Os meios de comunicação burgueses exigiam a pena de morte para os perpetradores do crime de Haymarket.

No dia 5 de maio em Milwaukee, a polícia respondeu com um massacre sangrento a uma manifestação de trabalhadores, alvejaram oito trabalhadores poloneses e um alemão por violarem a lei marcial. Em Chicago, as prisões ficaram cheias de milhares de revolucionários e grevistas.

O julgamento dos mártires de Chicago

Em junho começou o julgamento. Grinnell, procurador do Estado, fundava a acusação de que os processados pertenciam a uma sociedade secreta que se propunha a realizar a revolução social e destruir com bombas a ordem estabelecida.

As testemunhas não puderam provar nada. Para comprovar o delito de conspiração, o procurador consultou a imprensa anarquista, apresentando trechos de artigos e discursos dos processados. O objetivo era aterrorizar os jurados, que já tinham pré-disposições ruins. Chegou ao ponto de exibir armas, dinamite e roupas ensanguentadas que diziam pertencer aos assassinados.

A teoria do procurador foi derrotada, não foi possível estabelecer uma relação entre a bomba lançada em Haymarket e os anarquistas processados.

No dia 20 de agosto, foi divulgado o veredicto do jurado. Spies, Parsons, Fischer, Engel e Lingg, foram condenados à morte; Schwab e Fielden à prisão perpétua e Neebe à prisão por 15 anos.

Segunda Internacional de 1889, em Paris

O impacto internacional que teve o julgamento dos “mártires de Chicago” durou muitos anos. Em 1889, a Segunda Internacional instaurou um dia em nome da luta internacional pelas oito horas.

A data escolhida foi o 1º de maio de 1890, seguindo uma decisão da American Federation of Labour, relacionando-a simbolicamente com a greve do 1º de maio de 1886 nos Estados Unidos e em homenagem aos mártires de Chicago.




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