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MÉXICO | O que aconteceu na marcha #VibraMéxico contra Donald Trump?

A convocatória para mexicanos se mobilizarem sob a hashtag #VibraMéxico, causou divergências nas opiniões. Foi também uma convocatória a uma para dar uma mensagem de “unidade” contra as medidas de Donald Trump.

Sergio MoissenDirigente do MTS e professor da UNAM

terça-feira 14 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

(Cartaz de uma manifestante: “Não se distraia, México, com muro ou sem muro estão nos roubando em casa”)

A eleição de Donald Trump ao cargo de presidente dos Estados Unidos gerou um enorme mal-estar do outro lado da fronteira: estudantes de Berkeley, as vilas Sioux e Tohono O’odham, cientistas, mulheres (Women March), imigrantes contra a construção do muro, o decreto de Steve Bannon contra a imigração muçulmana (como vimos no aeroporto de JFK), dentre demais movimentos, tudo isso nas últimas duas semanas. Dias intensos na política dos Estados Unidos.

No dia 20 de janeiro, no México, organizações políticas e sociais, como o Movimento de Trabalhadores Socialistas, a Frente Popular Francisco Villa, realizaram uma primeira mobilização com o objetivo de repudiar a política xenófoba e racista de Trump, ao mesmo tempo, se mobilizaram contra o aumento do preço da gasolina, contra as reformas estruturais e pelo #FueraPeña. Denunciaram as administrações democratas de Obama que impuseram a militarização no país (200 mil mortos e milhares de desaparecidos) e que também realizou cifras históricas de deportações. Se mobilizaram pelo Fuera Yanquis da América Latina.

A “crise” diplomática entre Peña e Trump aumentou o desprestígio do governo de Peña e este lançou um chamado à “unidade nacional”. Declarou que implementaria diversas ações para mudar a política de deportações.

Nas mídias apareceu uma nota com os primeiros imigrantes deportados no governo de Trump, que insiste na construção de um muro na fronteira, na deportação de milhares de trabalhadores sem a documentação e na negociação do Tratado de Livre Comércio.

Uma convocatória polêmica

No dia 9 de fevereiro, cerca de 77 organizações na Casa do Lago da UNAM, na capital mexicana, em uma conferência de imprensa, chamaram uma mobilização com a hashtag #VibraMéxico. A convocatória foi do Auditório Nacional ao Ángel de la Indepedencia (monumento localizado no centro da cidade) e foi apoiada pela organização Mexicanos Primero, pelo reitor da UNAM, Enrique Graue, pela revista Letras Libres e seu porta-voz Enrique Krauze, pela organização Cencos, pela Universidade Iberoamericana e por personalidades como Emilia Álvarez Icaza e Denisse Dresser. Outra marcha foi convocada por México Unido da ativista Miranda de Wallace e se mobilizaria desde o Hemiciclo a Juarez (monumento da capital mexicana). Ambas as marchas se confluiriam em Ángel de la Independencia.

Ambas as convocatórias foram questionadas nas redes sociais, havendo comunicados e pronunciamentos. A primeira declaração sobre o #VibraMéxico foi pela participação e convocatória de personalidades ligadas ao PRI (Partido Revolucionário Institucional, o qual Peña Nieto é membro), que questionou o objetivo de converter a marcha em um apoio a Peña Nieto.

Campeões da reforma da educação e da repressão

No caso da UNAM, a reitoria de Enrique Graue decidiu que a “instituição” participaria da mobilização sem antes consultar os estudantes e os trabalhadores e, tal como se sabe, Graue e as reitorias anteriores, são instituições ligadas ao PRI. O reitor foi questionado por ter sido uma decisão antidemocrática e autoritária. Mexicanos Primero e seu porta-voz, Claudio X, é o principal grupo que impulsiona a avaliação educativa contra o magistério e celebrou a repressão em Nochixtlán. Além disso, essa marcha foi difundida por Felipe Calderón do PAN (Partido da Ação Nacional) e outras figuras políticas.

No caso da marcha de México Unido, que sairia do Hemiciclo a Juárez, sua convocatória também pretendia fazer uma unidade nacional massiva. Miranda de Wallace é uma personalidade obstinada da direita e, em ocasiões anteriores, denunciou os que se mobilizaram pelo desaparecimento dos 43 de Ayotzinapa e repudiaram a ação do exército mexicano, chamando-os de “membros do crime organizado”.

Enquanto isso, Andrés Manuel López Obrador, líder do partido Movimiento Regeración Nacional (Morena), em seu ato em Tijuana no domingo, 12, manteve uma postura totalmente acrítica em relação as convocatórias às mobilizações #VibraMéxico e México Unido. Totalmente coerente com a sua postura de contribuir à governabilidade dos partidos que aplicaram as reformas estruturais e que estão levando a cabo a entrega do país.

Assim, claramente, os trabalhadores, jovens, mulheres que querem se mobilizar contra o governo de Trump e Peña Nieto não podem sair para a marcha ao lado de seus carrascos. Em ambas as convocatórias, participaram figuras que foram responsáveis pelas reformas estruturais – entre elas a da educação – ou que que sustentaram o PRI, o governo.

O fracasso de #VibrarMéxico

No caso da Televisa (empresa líder de televisão no México), da organização Mexicanos Primero e do reitor da UNAM, se conclui que são um grande fracasso. O reitor da UNAM participou de um movimento insignificante que demonstra que não representa os trabalhadores, jovens e acadêmicos que participam da universidade pública. É a primeira ocasião que um reitor decide se mobilizar por alguma razão política e não reuniu o apoio dos estudantes e dos trabalhadores universitários.

No caso de Miranda de Wallace, seu fracasso foi ainda mais absurdo: foi expulsa da mobilização sob o grito de “assassina” e teve que se recluir no banheiro do Sanborns. Televisa, a reitoria, Miranda de Wallace, Mexicanos Primero perderam rotundamente na marcha #VibrarMéxico. Não convocaram dezenas de milhares, como pretendiam, apesar de contar com os grandes meios de comunicação (como a própria Televisa), instituições de renome (como a UNAM) ou “intelectuais” como Enrique Krauze. Foi uma marcha que rondou entre os 10 mil assistentes.

Ainda pior. Entre os convocados, alguns decidiram ir se mobilizar e exigir o #FueraPeña, o que ajudou a socavar a intenção das elites em dar apoio a Peña Nieto. É um fracasso para Wallace, Mexicanos Primero e o reitor Graue no objetivo de massificar a unidade nacional.

Contra Peña e Trump, unidade dos de baixo

As organizações sociais e políticas como o MTS, assim como as organizações operárias como a Coordenadora Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE) ou a Nova Central de Trabalhadores (NCT), fizeram uma denúncia à marcha e não convocaram a mobilização com aqueles que celebraram a repressão de Nochixtlán e Ayotzinapa.

Um movimento contra Donald Trump só pode surgir em unidade com aqueles que vem “de baixo”: os professores da CNTE, os trabalhadores da NCT e a União Nacional de Trabalhadores (UNT), os movimentos em defesa do território, os intelectuais de esquerda, as vítimas da guerra contra o narcotráfico, os estudantes, o movimento de mulheres, os trabalhadores e suas resistências sob a consigna: Fora Peña, Fora Trump, pela unidade das resistências em ambos os lados da fronteira. Contra a xenofobia e o nacionalismo nos Estados Unidos impostos por Donald Trump; e contra o chamado à “unidade nacional” reacionária do governo de Peña Nieto, é necessário pensar: fora imperialistas da América Latina, nenhum deportado, abaixo o muro, pelo internacionalismo e pela unidade das resistências em ambos os lados da fronteira.




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