×

29 DE AGOSTO | O que a crise econômica no Brasil reserva às mulheres?

Na crise econômica, que gera a redução do emprego, dos salários e o aumento do custo de vida as mulheres, em especial as mulheres negras, são as mais afetadas. Mas quais as razões e as consequências disto?

Flávia SilvaCampinas @FFerreiraFlavia

quinta-feira 27 de agosto de 2015 | 23:37

Estamos vivendo um período de recessão econômica no Brasil, com queda no crescimento da produção da economia, aumento do desemprego e do custo de vida. Para enfrentar a crise salvando os lucros dos patrões e garantindo os pagamentos da dívida para os bancos e países imperialistas, os governos atacam com o “ajuste fiscal”, medidas que aumentam tarifas de serviços essenciais (água e luz), que cortam gastos com direitos sociais e retiram direitos dos trabalhadores. Dilma, o PT e a oposição de direita querem os custos da crise sejam pagos pelos trabalhadores, pelos mais pobres, mulheres, negros e LGBTs.

Esta crise, em que o Brasil começa a se enfrentar, é gerada pela sede de lucros e ganhos dos capitalistas, em todo o mundo se vive uma crise desde 2008, e no Brasil, esta começa a ter seus efeitos mais fortes na indústria e agora se espalha para o conjunto da produção e dos serviços, reduzindo o emprego e os salários para que, as perdas sejam menores para os ricos e empresários e o governo está ao lado deles com as políticas econômicas neoliberais de Levy e Dilma.

A redução do emprego, dos salários e o aumento do custo de vida afetam mais as mulheres, em especial as mulheres negras. Mas quais as razões e as consequências disto?

O machismo e o racismo se combinam no Brasil para imporem desigualdades para as mulheres no mundo do trabalho, e isto ocorre independentemente de crise ou não, pois já é um fato estrutural, em que o capitalismo no brasil se apropria para rebaixar de conjunto o custo da força de trabalho e precarizá-la ainda mais.

No Brasil conforme dados do IBGE, seguindo uma tendência mundial, as mulheres ganham em média, 76% do salário dos homens, ou seja, a inflação para as mulheres é ainda mais sentida com uma renda menor ao mesmo tempo em que os gastos não param de crescer. Segundo a Ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Política para as mulheres, a solução para a desigualdade salarial entre mulheres e homens no Brasil poderia ser solucionada pelo empoderamento das mulheres (por meio de cargos de chefia), uma grande hipocrisia, pois é o mesmo governo que na figura da presidente Dilma, está aplicando as políticas de ajuste que aprofundam a crise e prejudicam as mulheres trabalhadoras.

O fato que queremos destacar é que na crise, apesar dos discursos dos setores governistas e petistas, são os setores oprimidos e precarizados os que tendem a sentir mais os efeitos da falta de renda e emprego.

O desemprego e as mulheres

Os últimos dados da PNAD/IBGE para os meses de abril, maio e junho de 2015, mostram que a taxa de desocupação (pessoas em idade de trabalhar sem emprego) é maior entre as mulheres em todas as regiões do Brasil. No 2º trimestre de 2015, a taxa total de 8,3% foi estimada em 7,1%, para os homens, e 9,8%, para as mulheres. Sendo que entre a população jovem esta taxa mais que duplica em relação ao total da população desocupada chegando a 18,6%. No mesmo período, ainda segundo o IBGE, o nível da ocupação dos homens, no Brasil, foi estimado em 67,1% e o das mulheres, em 46,2%, este fato foi constatado em todas as regiões do Brasil.

Estes dados, mostram claramente como o desemprego em todo país, atinge mais às mulheres e se fizermos um recorte racial, o desemprego entre as mulheres negras é ainda maior. A desigualdade de oportunidades por conta do machismo, torna desigual a inserção das mulheres no mercado de trabalho até hoje. Em muitos lugares no país a falta de acesso a creches gratuitas em período integral e próxima aos lares é um impeditivo para mães trabalharem. Com o aumento do custo de vida, maior dificuldade para encontrar emprego ao mesmo tempo em que dívidas se acumulam, muitas famílias aumentam a inserção no mercado de trabalho, com mais membros das famílias a procura de emprego e a serviços como creches, escolas integrais e de qualidade passam a ser cada vez mais fundamentais para que se tenham as condições para as mulheres, mães solteiras e jovens procurarem e se dedicarem a um emprego e aos estudos.

Assédio moral, acidentes, rotatividade e terceirização

Com a crise, os patrões querem aumentar sua capacidade de gerar mais lucros, com menos gastos com salários e impostos, para isto, falam muito no chamado “aumento de competitividade” e de “produtividade”.

Os patrões, buscam aproveitar o momento de recessão, para aumentarem a precarização e a exploração dos trabalhadores. Para isto, vão fazer ajustes na produção para ampliarem a terceirização e cortarem direitos, tudo isto com o apoio do governo que aprovou recentemente o PPE e as MPs 664 e 665 (medidas que atacam o seguro-desemprego e o abono salarial), veja mais aqui e aqui .

Com o aumento da terceirização com medidas como o PL4330, que permite a terceirização de todas as atividades de uma empresa, as mulheres e negras serão as mais atingidas, pois a terceirização tem rosto de mulher, ou seja, os serviços que empregam mais mulheres, como limpeza e alimentação, são aqueles em que a terceirização avançou a passos largos na última década, pagando os menores salários e com as piores condições de trabalho.

Outra ferramenta de aumento da “produtividade” é a pressão constante e assédio moral dos patrões para o aumente no ritmo de trabalho, ou seja, produzir mais em menos tempo, no caso das mulheres, esta tendência é ainda mais nefasta, pois as mulheres passaram a ser pressionadas num maior ritmo a reduzirem as idas ao banheiro ou serem pressionadas a não engravidarem ou trabalharem doentes para reduzirem as licenças e faltas médicas. Esta já é a realidade da terceirização e da produção nas indústrias como a eletrônicos e alimentação, (a indústria de alimentação e de eletrônicos, como celulares, são as que mais empregam mulheres) porém com a pressão dos patrões crescendo com a crise, isto tende a se agravar. O aumento desenfreado no ritmo de trabalho em nome do lucro, é também, junto as já precárias condições de trabalho, responsável pelos acidentes de trabalho. A mulher trabalhadora, também pode esperar da crise, o crescimento nos tristes números dos acidentes de trabalho, dentre eles, a depressão, LER-DORT (lesões por esforço repetitivo) e outras doenças.

Junto ao aumento da terceirização, outra tendência que se aprofunda com a crise e os ajustes dos patrões e dos governos, é o aumento da rotatividade do trabalho e da instabilidade no emprego. As mulheres são novamente as que mais sofrem com isso, e agora esta tendência se agrava com o aumento no período mínimo para a obtenção do seguro-desemprego de 6 para 18 meses (medida que é parte da MP 665).

Os cortes na saúde e educação contra as mulheres

Além disso, os cortes nos gastos nos sociais tendem a afetar ainda mais a vida das mulheres, sobretudo as mais pobres, com os cortes na saúde, as mulheres tem maior dificuldade para realizarem exames preventivos e tratamentos médicos, dentre eles os cuidados com as gestantes. Também crianças e idosos tendem a ser os mais prejudicados pois buscam mais os serviços médicos.

Além disso, os cortes na educação, levam também a redução nos municípios (por conta do ajuste fiscal para pagamento dos juros da dívida pública e também pela redução do repasse do governo federal às cidades) dos gastos com construção de novas creches e escolas para crianças e adolescentes.

A crise, em resumo, reserva as mulheres, sobretudo negras e pobres no Brasil, a precarização da vida ainda mais profunda, com a perda de direitos sociais, maiores dificuldades, ou diretamente, tem negado o direito ao acesso aos serviços básicos de saúde e educação pública, gratuitos e de qualidade para si mesma e seus filhos. A crise, para as mulheres representa não somente perdas econômicas, mas também de rebaixamento na qualidade de vida, abrindo a oportunidade dos governos atacarem direitos democráticos conquistados por décadas de luta das mulheres.

Tod@s ao Encontro de mulheres e LGBTs neste sábado!

Os governos Dilma e dos demais partidos da burguesia querem fazer com que o custo da crise seja pago pelas mulheres trabalhadoras, negras e LGBTs e os mais pobres. Dilma é mulher, mas governa para os interesses dos lucros dos patrões e dos bancos, ela e o PT não podem ser alternativa para as mulheres e LGBTs. Por outro lado, o PT e a direita reacionária quer aprofundar o ajuste contra os trabalhadores, atacando também os direitos democráticos das mulheres e LGBTs.

Por isso, chamamos todas ao Encontro de mulheres e LGBTs organizado pelo Pão e Rosas, para que junt@s possamos discutir uma alternativa de organização política das mulheres e LGBTs trabalhadorxs. Que seja efetiva, e que possa ser construída em cada local de trabalho e estudo, independente dos governos e dos patrões, para que os custos da crise econômica não recaiam sobre os ombros das mulheres, LGBTs e demais setores oprimidos no Brasil.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias